O Estado de São Paulo, n. 44506, 25/08/2015. Economia, p. B1

Bolsa recua ao nível d 2009 e dólar vai a R$ 3,55, com temor com a China

Jamil Chade

 

Os temores crescentes com a economia chinesa provocaram um “dia selvagem” no mercado global, segundo a definição do “NewYorkTimes”. Bolsas de Valores caíram no mundo inteiro e, no Brasil, o nervosismo internacional acentuou a tendência de deterioração dos principais indicadores financeiros registrados nos últimos meses.
 

A Bolsa de Valores de São Paulo caiu 3,03% e fechou aos 44.336,47 pontos, no menor nível desde 8 de abril de 2009. Apenas duas ações subiram: Natura ON ( 2,18%) e Hering ON (1,17%). Alista das maiores quedas foi encabeçada pela Metalúrgica Gerdau PN (-12,46%), Usiminas PNA (-10,42%) e Oi PN (-9,67%).

O dólar subiu 1,89% e fechou cotado a R$ 3,5590,o maiorpatamar desde 28 de fevereiro de 2003. Já os contratos internacionais de proteção contra eventual calote brasileiro, os credit default swap (CDS), atingiram o nível mais alto desde 13 de março de 2009.

“A desaceleração da China não apenas joga para baixo o preço das commodities brasileiras, como, neste momento, também agrava a percepção de risco em relação ao Brasil”, diz José Júlio Senna, ex-diretor do Banco Central e pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da FGV.

Medidas sem efeito. A aversão ao risco no mercado global foi deflagrada por nova queda acentuada nas bolsas chinesas, uma vez que as medidas do governo para frear a desaceleração da economia não têm surtido efeito.

Havia expectativa de que o governo chinês anunciasse novas medidas após a divulgação de indicadores fracos da indústria e da balança comercial nos últimos dias. Mas a única medida foi a liberação do fundo de pensão nacional para investir em ações – o que não foi suficiente para reverter o humor dos investidores.

O índice da Bolsa de Xangai caiu 8,5%. Para a imprensa chinesa, ontem foi a “segunda-feira negra” nos mercados.

Em outros países, as bolsas abriram em clima de pânico com o medo do contágio da crise chinesa, especialmente sobre os países emergentes. Mas o nervosismo oscilou durante o dia, com especulações sobre intervenções dos governos para acalmar os mercados.

Pela manhã, o índice VIX, que mede o nervosismo de mercado, superou os 50 pontos, nível parecido ao registrado quando houve a queda das Torres Gêmeas, em 2001, e na crise da Ásia, em 1997.

As bolsas da França e da Alemanha chegaram a registrar perdas de 7% e 6%, respectivamente, mas fecharam em quedas de 5,5% e 4,96%.

O índice FTSE 100, com as maiores multinacionais do Reino Unido, caiu 4,6%. Ações de mineradoras como Anglo American e BHP Billiton caíram mais de 9%. Nos Estados Unidos, o índice Dow Jones fechou com queda de 3,57% e a bolsa de tecnologia Nasdaq recuou 3,82%.

Em um único dia, as bolsas da Europa a perderam entre € 450 bilhões e € 500 bilhões, o pior resultado desde novembro de 2008.


Desde a desvalorização da moeda chinesa, no início do mês, estima-se que mais de US$ 5 trilhões desapareceram das bolsas globais.

Crise nos emergentes. A preocupação dos investidores é que a desaceleração chinesa e a queda no preço das commodities (matérias-primas) agrave os problemas de países emergentes, como o Brasil.

Os preços das commodities caíram forte: o petróleo recuou 5,46% e o minério de ferro, 4,1%.

Investidores estão retirando recursos de fundos que investem em títulos de dívida de mercados emergentes no ritmo mais rápido desde fevereiro de 2014, de acordo com um levantamento divulgado ontem pelo banco Barclays.

Apenas na semana passada, foram retirados US$ 2,5 bilhões de fundos de bônus de mercados emergentes. “Aperspectiva para as commodities tem um impacto palpável sobre os mercados emergentes. Isso definitivamente tem prejudicado”, disse Edwin Gutierrez, diretor de dívida soberana de mercados emergentes da Aberdeen Asset Management, que gerencia US$ 483 bilhões em ativos. / COM AGÊNCIA ESTADO e AGÊNCIAS INTERNACIONAIS