Correio braziliense, n. 19069, 11/08/2015. Política, p. 2

 

O diálogo a conta-gotas para salvar o mandato

Paulo de Tarso Lyra

A presidente Dilma Rousseff terá de se reinventar se quiser salvar o mandato. Durante reunião da coordenação política, na noite de domingo, no Palácio da Alvorada, ficou acertado que Dilma adotará uma nova linha estratégica, sugerida pelo vice-presidente Michel Temer, com a meta de resgatar o apoio perdido, embora muitos aliados duvidem que a petista obtenha sucesso. Num primeiro momento, a ideia é concentrar atenções emergenciais no Senado, para desfazer as pautas-bombas, e ter conversas particulares com os presidentes de legendas aliadas a fim de tentar mapear insatisfações na Câmara. Só depois desse diagnóstico, a presidente dará o aval para um debate sobre reforma ministerial.

Dilma, que sempre detestou encontros privados com políticos, optando por reuniões genéricas para grandes grupos, terá de rever conceitos. Conversa ampla não resolve problema, resumiu um aliado. Apesar de o encontro promovido na noite de ontem no Alvorada ter sido ainda sob a égide do modelo ampliado um jantar com líderes de partido aliados no Senado , o objetivo, daqui para a frente, é diminuir os interlocutores em cada encontro.

Temer, cada vez mais fortalecido, terá papel essencial no processo, sendo, inclusive, o interlocutor oficial nos momentos em que a presidente não puder participar. A ideia é chamar os presidentes de legendas da base, especialmente as mais rebeldes, como o PSD, o PDT e o PTB, que já anunciaram insatisfações com o Planalto os dois últimos expressaram, na semana passada, o desembarque da base aliada na Câmara.

A petista quer ter uma conversa institucional com os presidentes de legendas. Eles, então, procurariam os líderes das bancadas, que, por sua vez, ouviriam os deputados. Para não gerar ruídos desnecessários neste momento delicado, Dilma, Temer e os ministros da coordenação política concluíram que é fundamental não alterar ou menosprezar nenhum elo nessa corrente política. O modelo anterior de articulação política não deu certo. O novo formato de negociação dará base para uma reforma ministerial sustentável, explicou um interlocutor graduado da Esplanada.

No caso do Senado, as conversas são mais urgentes. Dilma e os ministros querem pressa na aprovação de dois projetos de lei: o que altera as alíquotas incidentes sobre a folha de pagamentos e o que permite a repatriação de recursos do exterior. O Planalto reabriu as portas para o presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), escolhido como parceiro preferencial para reverter a impetuosidade do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

Pacotão
Ontem, Renan que tivera um encontro a sós com Dilma na última quinta-feira recebeu em sua residência oficial os ministros da Fazenda, Joaquim Levy; do Planejamento, Nelson Barbosa; de Minas e Energia, Eduardo Braga; e da Comunicação, Edinho Silva. No encontro, ficou estabelecida uma agenda com 27 propostas legislativas, uma espécie de pacotão anticrise, dividido em três grandes eixos: melhoria do ambiente de negócios, equilíbrio fiscal e proteção social.O peemedebista disse que Levy deve sinalizar a viabilidade para a parceria em torno do pacote amanhã, após uma reunião que ambos terão na presidência do Senado.

Renan negou que um pedido de impeachment da presidente Dilma esteja sob análise. As pessoas perguntam sobre impedimento, ou sobre a aprovação das contas deste ou de outros governos. E tenho dito que isso não é prioridade. Na medida em que o Congresso tornar isso prioritário, nós estaremos pondo fogo no Brasil.

Ontem, no Maranhão, em discurso durante cerimônia de entrega de imóveis do Minha Casa, Minha Vida, Dilma corroborou o recado de Renan, ao defender a não aprovação de propostas que prejudiquem o país. O Brasil precisa, mais do que nunca, que as pessoas pensem primeiro nele, Brasil, no que serve à nação, à população brasileira e, só depois, pensem nos seus partidos e nos seus projetos pessoais, afirmou ela, tendo ao fundo os gritos de não vai ter golpe.

O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) deve julgar, na quinta-feira, ação de impugnação do mandato de Dilma. O caso foi proposto pela Coligação Muda Brasil, pela qual o senador Aécio Neves (PSDB-MG) disputou o Planalto em 2014.