Irmão de Dirceu afirma que recebia R$ 30 mil mensais de operador

 

CLEIDE CARVALHO E TIAGO DANTAS

O globo, n. 29951, 08//08/2015. País, p. 8

 

O irmão do ex-ministro José Dirceu, Luiz Eduardo de Oliveira e Silva, admitiu à PF ter recebido mensalmente, em 2012 e 2013, R$ 30 mil do operador Milton Pascowitch. Luiz Eduardo disse desconhecer a origem do dinheiro, que segundo o operador era parte da propina paga ao ex-ministro. -SÃO PAULO- O irmão do ex-ministro José Dirceu, Luiz Eduardo de Oliveira e Silva, admitiu à Polícia Federal (PF) ter recebido pagamentos mensais de R$ 30 mil do operador Milton Pascowitch entre 2012 e 2013. Luiz Eduardo afirmou que não sabia a origem do dinheiro, que, segundo Pascowitch, era parte de propina paga ao ex-ministro pela Engevix por contratos com a Petrobras. O irmão de Dirceu teve a prisão temporária prorrogada ontem por mais cinco dias.

GERALDO BUBNIAK/04-08-2015Renda. Luiz Eduardo, irmão de José Dirceu: pedido de ajuda à OAS para pagar contas

O juiz Sérgio Moro, responsável pela Operação Lava-Jato, também determinou que permaneçam presos temporariamente o assessor de Dirceu, Roberto Marques, conhecido como Bob, e Pablo Kipersmit, sócio da Consist, empresa de informática que pagou cerca de R$ 15 milhões para a Jamp, de Pascowitch.

Luiz Eduardo disse, à PF, que apenas administrava a JD Assessoria, cabendo a Dirceu prestar as consultorias. Além de confirmar o recebimento dos repasses de Pascowitch, Luiz Eduardo relatou que o exministro usou avião do delator Júlio Camargo, sem especificar como era o acerto entre eles. Também disse que Dirceu usava um carro registrado em nome da Hope, que oferecia mão de obra terceirizada para a Petrobras e é apontada como principal fonte de propinas ao ex-ministro.

O irmão de Dirceu disse que, após a prisão do ex-ministro, pediu ajuda à OAS para cobrir as contas. O repasse teria sido feito por meio da empresa Doppio, mantida por Luiz Fernando Rila, que já trabalhou como assessor de imprensa de Dirceu. Segundo a PF, foram feitos dois depósitos, no fim de 2013, de R$ 100 mil no total. Procurado, Rila afirmou que sua empresa prestou serviços à OAS e declarou que nunca fez qualquer repasse ao ex-ministro.

A PF apreendeu diversas anotações e e-mails. Há nomes de várias empreiteiras do cartel, como Odebrecht, OAS e UTC; projetos no Brasil e no exterior; e citações, ainda não decifradas pelos investigadores, como “depósito avião (Lula)” e “Sig-Jantar (ou pautar) Sumaré com o Ministro DTófoli — Tito”.

Ao responder sobre essa anotação, Luiz Eduardo contou que foi procurado pelo ex- deputado Sigmaringa Seixas (PT-DF) para intermediar um encontro com o atual ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Dias Toffoli.

A Justiça Federal liberou ontem outros dois integrantes do grupo de Dirceu: Olavo Moura Filho, irmão do empresário Fernando Moura, e o ex-sócio de Dirceu Júlio Cesar dos Santos. Em depoimento, Júlio admitiu que dois imóveis do ex-ministro estavam no nome de sua empresa, a TGS. Para Moro, houve ocultação de bens.

Júlio, que se apresenta como corretor de imóveis e vendedor de produto para emagrecimento, tem intensa troca de e-mails em que fala sobre compra de imóveis, incluindo uma fazenda no Mato Grosso do Sul avaliada em R$ 7 milhões. Em algumas mensagens, analisadas pela PF, Dirceu está copiado. Embora tenha figurado como sócio da JD, ele nega ter participado dos negócios do ex-ministro.

Olavo confirmou que recebeu pagamentos de Pascowitch, a pedido do seu irmão gêmeo Fernando Moura. Também admitiu que pediu a Fernando que falasse com Dirceu para que o exministro usasse sua “influência política” para ajudar a Hope.