PSDB e DEM querem nova eleição para unificar país

 

Maria Lima

O globo, n. 29950, 07//08/2015. País, p. 5

 

Líderes do PSDB e do Democratas foram a público ontem anunciar que, assim como a presidente Dilma Rousseff, o vice Michel Temer também não teria legitimidade para unificar o país neste momento de grave crise política e econômica. Em nome dos dois partidos, os líderes Cássio Cunha Lima ( PSDB- PB), Carlos Sampaio ( PSDB- SP) e Ronaldo Caiado ( DEM- GO) defenderam que somente uma nova eleição, através do voto popular, poderia legitimar um novo presidente para tirar o país da crise.

— Em resposta ao chamamento do vice- presidente Temer de que é preciso se encontrar alguém que possa unir o país, estamos dizendo da nossa convicção de que só se encontrará essa pessoa através de uma eleição direta, com a legitimidade do voto popular. Só através do voto em torno de um projeto de salvação nacional se criará o ambiente para sair dessa grave crise — disse o líder Cássio Cunha Lima.

Os líderes disseram que a intenção é que a sociedade passe a discutir essa possibilidade, e vão propor que os organizadores da manifestação de rua programada para o dia 16 incluam a defesa de novas eleições na pauta de reivindicações. A novo pleito é previsto em lei no caso de cassação da chapa presidencial pelo Tribunal Superior Eleitoral por irregularidades na campanha. A aposta da oposição é no julgamento da ação de impugnação da chapa Dilma- Temer, prevista para setembro, no TSE.

— Quando Michel Temer diz que é preciso encontrar alguém que seja capaz de unificar o país, ele está dizendo que a presidente Dilma não pode mais fazer isso — disse Carlos Sampaio.

Para os líderes da oposição, é preciso rejeitar a articulação da cúpula peemedebista para envolver o PSDB e Democratas em um projeto de sustentação de um eventual novo governo. Para Caiado, as declarações de Temer, teriam sacramentado o fim do governo da presidente Dilma:

— Só existe uma pessoa capaz de unificar o país: a pessoa que emergir das urnas, em nova eleição direta. Hoje não tem como acordos de cúpulas partidárias ungir alguém para tirar o país da crise política e de enorme instabilidade na sociedade.

Presidente do PSDB, o senador tucano Aécio Neves afirmou que Cássio e Sampaio anunciariam a resposta a Temer. Ele confirmou o jantar com o presidente do Senado, Renan Calheiros, e outros senadores de PSDB e PMDB na casa de Tasso Jereissatti, na noite de terça- feira. Mas disse que, como oposição, tiveram uma conversa civilizada, discutindo com cautela os cenários da crise. Mas concordou que Dilma não tem condições de continuar.

— A presidente Dilma e o PT perderam a capacidade de governar. Infelizmente ela não governa mais o Brasil — disse Aécio.

Em caso de impeachment e posse de Temer, dizem os tucanos, a crise seria apenas adiada.

Também ontem, o senador José Serra ( PSDB- SP) disse que o governo Dilma vive uma crise profunda e que a desaprovação da petista é maior do que as dos ex- presidente João Goulart e Salvador Allende antes de serem destituídos. Segundo Serra, Jango e Allende tinham apoio de alguns setores, enquanto Dilma, nem isso:

— É uma situação singular. Podese dizer que o Brasil do Jango e o Chile do Allende estavam divididos, mais ou menos meio a meio. Hoje, não há divisão.