Correio braziliense, n. 19072, 14/08/2015. Política, p. 4

 

PSDB avança sobre o Nordeste

Paulo de Tarso Lyra

Na semana em que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva desafiou a oposição, durante cerimônia de abertura da Marcha das Margaridas, em Brasília, a viajar pelo Brasil para discutir os problemas do país, os tucanos compraram a briga e resolveram sair em busca de novos filiados. O presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG), estará em Maceió, a partir das 10h de hoje, onde promoverá um mutirão de adesões com o objetivo de oxigenar a sigla. Simultaneamente, quatro governadores tucanos farão atos semelhantes nos seus respectivos estados: Geraldo Alckmin (SP), Marconi Perillo (GO), Beto Richa (PR) e Simão Jatene (PA).

O tucano quer sensibilizar um reduto eleitoral que, tradicionalmente, vota no PT, mas que anda insatisfeito com o governo. Se você quer ajudar de verdade a mudar o Brasil, some-se a nós, convida Aécio Neves, em vídeo para lançar a campanha Oposição a favor do Brasil. A mobilização ocorre antes das manifestações contra a presidente Dilma Rousseff, marcadas para o domingo, em todo o país. Vivemos um momento propício, desde 2014, para fazer esse tipo de movimento, disse o deputado Marcus Pestana (PSDB-MG).

Pestana lembrou que, para alcançar esse ponto de recrutamento de novos militantes, o partido teve que se reencontrar com a própria história. Diante de vários segmentos da opinião pública, convivíamos com o fantasma das críticas de sermos neoliberais. Hoje, não. Conseguimos, ao longo da campanha presidencial do ano passado, reforçar que os avanços do Brasil, durante o governo do PT, só foram possíveis porque implantamos o Plano Real e tomamos outras medidas econômicas para controlar a inflação e assegurar o crescimento econômico, disse.

O evento tucano tem caráter nacional, mas o PSDB busca aumentar a presença na Região Nordeste. Apesar de a legenda ter diversos expoentes nordestinos, especialmente no Congresso, ao menos nas últimas quatro eleições, a votação da legenda nesses estados ficou muito abaixo da obtida pelo PT. Em 1994, para garantir a primeira eleição de Fernando Henrique ao Palácio do Planalto mesmo embalado pelo sucesso do Plano Real , os tucanos precisaram fechar uma aliança controversa com o então PFL de Antonio Carlos Magalhães (BA). A crise foi tão grande que, na época, o PSDB baiano, comandado pelo hoje deputado Jutahy Junior, decidiu romper com o comando tucano e apoiar a campanha de Luiz Inácio Lula da Silva. Hoje, PSDB e DEM são aliados na prefeitura de Salvador.

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CUT fala em defender petista "com armas na mão"

Marcella Fernandes

Às vésperas das manifestações em que uma das principais reivindicações será a saída da presidente Dilma Rousseff do poder, ela se reuniu com uma série de entidades, que prometeram defendê-la a todo custo. No evento, sindicalistas ameaçaram reagir com violência para defender o mandato da petista. Nós iremos entrincheirados e de arma na mão se tentarem derrubar a presidente. Nós seremos o exército que vai enfrentar a burguesia nas ruas e não vai ter golpe, afirmou o presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Vagner Freitas.

No evento, Dilma não comentou as declarações do presidente da CUT, reforçou que continua no cargo até o fim do mandato e defendeu o respeito às regras do jogo democrático. Em uma tentativa de aplacar os baixos índices de popularidade, a petista recebeu cerca de mil representantes de movimentos sociais no Palácio do Planalto. É o segundo dia consecutivo no qual ela busca apoio nesses grupos. Na quarta-feira, a presidente participou do encerramento da Marcha das Margaridas, no Estádio Nacional de Brasília Mané Garrincha.

No discurso do evento Diálogo com Movimentos Sociais, Dilma criticou as tentativas de deslegitimar o resultado das eleições de 2014 e disse que a disputa deve acabar na hora do voto. Ela comparou o espírito esportivo com o respeito à democracia ao citar uma carta enviada a ela pelo papa Francisco. Respeite o resultado. E respeite o adversário. Respeite e honre seu adversário, porque se você não respeitar o resultado do jogo, você não pode entrar no jogo, disse. Assim como nas últimas falas, a presidente reforçou que cumprirá o mandato até o fim. Estou aqui pra resolver todos os problemas e entregar este país muito melhor em 31 de dezembro de 2018, afirmou. Ela lembrou que, durante a ditadura militar protestos eram vistos como ameaça e que, por isso, não poderia ser contra as manifestações.

Por parte dos movimentos sociais, o clima, de modo geral, foi de apoio, apesar de críticas pontuais a questões, como o impacto do ajuste fiscal na educação. Foram entoados gritos de Não vai ter golpe! e Fica, Dilma!. Assim como na Marcha das Margaridas, houve manifestações contrárias ao presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e ao ministro da Fazenda, Joaquim Levy. Participaram do evento, além da CUT, a União Nacional dos Estudantes (UNE) e o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), entre outros grupos.

O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Marcus Vinícius Furtado Coêlho, criticou as ameaças de Freitas. Para o representante da OAB, o discurso de violência é lamentável. Segundo ele, a OAB não vai tolerar desrespeito à ordem constitucional brasileira.

No início da noite, Freitas disse, ao Jornal Nacional, que houve um mal-entendido, que ele não teve a intenção de incitar a violência e que, no discurso, ao falar armas, ele usou uma figura de linguagem.

Responsável pela interlocução do Palácio do Planalto com os movimentos sociais, o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Miguel Rossetto, aposta no diálogo e na execução de programas sociais, a partir da melhora da economia, como fatores para aumentar a popularidade de Dilma. Governar é isso. É conviver com momentos de melhor aprovação e com momentos de menor aprovação. Nós temos uma grande experiência e enorme confiança na estratégia que estamos desenvolvendo, disse. Segundo Rossetto, o governo acompanhará, atentamente, as manifestações de domingo.

Hoje, Dilma volta ao Nordeste. Ela iniciou a semana em São Luís, capital governada pelo aliado Flávio Dino (PCdoB-MA). Hoje, estará na Bahia, que, a exemplo do Maranhão, teve papel preponderante na reeleição. Além da entrega de unidades do programa Minha Casa, Minha Vida, a petista terá encontro com empresários locais.

 TCU quer votar pedaladas dia 26
O Tribunal de Contas da União (TCU) pretende retomar, a partir do dia 26, o julgamento que pode selar a condenação de 17 autoridades, entre elas integrantes da atual equipe econômica, por irregularidades nas chamadas pedaladas fiscais. O processo é, hoje, a principal fonte de preocupação do governo, após a apreciação das contas da presidente Dilma Rousseff ser adiada. Um dos temores é que um revés no plenário implique, em meio à crise, a degola de alguns dos fiadores do discurso de reabilitação econômica, como o ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, e o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, envolvidos no caso.