Correio braziliense, n. 19068, 10/08/2015. Política, p. 3

 

Hora de reconhecer os erros

 


A presidente Dilma Rousseff precisa reconhecer os erros que cometeu e pedir desculpas à nação. A opinião é do senador Cristovam Buarque (PDT-DF), sobre as saídas possíveis para a crise de governo. Em entrevista ao Correio ontem, o ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) Carlos Ayres Britto disse que não se reconhecem na presidente as condições necessárias para o exercício do cargo. Chefe da administração, chefe do governo e chefe do Estado. É muito poder, é imperial. Aí você exige que o presidente seja um estadista, um governante e um administrador. Quando falha nas três, a coisa fica delicada. E parece que é a situação da Dilma. Já não se reconhece nela nenhuma das três qualidades, disse o ministro aposentado, que presidiu o STF durante o julgamento do mensalão.

Na entrevista ao Correio, Ayres Britto também avalia que está em gestação um grande pacto nacional, que virá com a presidente Dilma no poder ou sem.  A autocrítica e o pedido de desculpas, citados por Cristovam, seriam algumas das condições para o acordo se dar com Dilma à frente do governo. Ela tem que reconhecer os erros que cometeu na administração da economia e pedir desculpas por ações injustificadas que fez quando, por exemplo, disse que a (ex-ministra) Marina Silva ia tirar comida da panela dos pobres (na campanha eleitoral de 2014).

O ex-governador do Distrito Federal e ex-ministro da Educação do governo Lula não vê na presidente condições para liderar um pacto pela governabilidade. Mas avalia que mesmo a manutenção do mandato já é algo importante para o equilíbrio do país. A interrupção do mandato traz problemas para as instituições. A cassação, se não for acordada, é muito arriscada. Até a renúncia, se não for fruto de um acordo, é muito perigosa, como foi a do (ex-presidente) Jânio Quadros, que renunciou unilateralmente, sozinho, e trouxe as consequências que nós sabemos, com o golpe militar de 1964, diz.

Popularidade
O cientista político João Paulo Peixoto, professor da Universidade de Brasília (UnB), avaliou como muito forte a declaração de Ayres Britto sobre as condições da presidente para o exercício do cargo. Mas acho que reflete o momento, pondera. Hoje, a situação é muito ruim, mas essas questões podem ser revertidas. Já tivemos situações semelhantes que foram superadas, inclusive no governo de Fernando Henrique Cardoso, que passou por momento de baixíssima popularidade e conseguiu se recuperar, diz. É possível, mas não é fácil nem rápido, e tampouco depende só das pessoas. Não há um salvador da pátria. É preciso muito mais. Depende também de mudanças estruturais, políticas e econômicas.