Duque está disposto a entregar políticos em delação premiada

 

THIAGO HERDY

O globo, n. 29948, 05//08/2015. País, p. 10

 

Preso há quase cinco meses em Curitiba, o ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque está disposto a entregar à Polícia Federal (PF) e ao Ministério Público Federal ( MPF) informações sobre políticos que atualmente exercem cargos públicos, e que se beneficiaram do esquema de corrupção montado na estatal. Em troca, teria sua pena reduzida, em caso de condenação.

AILTON DE FREITAS/19-3-2015Delação. Preso há 4 meses, Duque trocou de advogado para negociar acordo

A menção a nomes de pessoas com foro privilegiado é a principal promessa do ex-dirigente que, nos próximos dias, se encontra com representantes do MPF para as primeiras reuniões para negociar o eventual acordo de delação premiada. Segundo pessoas próximas a Duque, caso a delação seja confirmada, o acordo também será submetido a homologação no Supremo Tribunal Federal (STF), em vez da Justiça de primeira instância.

Na última sexta-feira, a família do ex- diretor contratou o escritório Arns de Oliveira & Andreazza, de Curitiba, que conduziu a delação dos exexecutivos da Camargo Corrêa, Eduardo Leite e Dalton Avancini. Os antigos advogados de Duque, Alexandre Lopes, Renato de Moraes e João Balthazar de Matos, comunicaram anteontem à Justiça que renunciaram à defesa.

Apontado como ex-dirigente ligado ao PT, Renato Duque ocupou a Diretoria de Serviços entre 2003 e 2012, durante os dois mandatos do ex-presidente Lula e o início do primeiro mandato de Dilma. Preso desde março, está detido no Complexo Médico- Penal, em São José dos Pinhais. Segundo pessoas que estiveram com ele, Duque está bastante abatido.

O delegado Igor Romário de Paula comparou a possível delação de Duque à colaboração do ex-diretor de Abastecimento Paulo Roberto Costa.

— Renato Duque dispõe de uma série de informações num nível semelhante ao Paulo Roberto Costa, por exemplo.

 

Gilmar: dinheiro do mensalão ‘não dá nem um Barusco’

 

CAROLINA BRÍGIDO

 

 O ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), subiu ontem o tom de críticas sobre o esquema de corrupção investigado pela Lava-Jato. Para ele, comparado à nova operação, o mensalão não desviou “nem um Barusco”. O termo é uma referência ao exgerente da Petrobras Pedro Barusco, que afirmou em depoimento ter recebido propina de forma sistemática a partir de 2003, e repassado parte do dinheiro ao PT.

Segundo Gilmar, o modelo de governar do partido é calcado na corrupção. O ministro também se mostrou indignado com o fato de parte dos desvios revelados pela Lava-Jato terem ocorrido durante o mensalão no STF, julgamento o qual ele participou desde o princípio.

— Me parece que há uma mesma raiz tanto para o fenômeno do mensalão quanto para este do chamado “petrolão”, e agora “eletrolão”, e quantos “ãos” venham ainda. Me parece que há uma mesma matriz, é uma forma de governar, é um modelo de governança. E isso que é problemático nessa história toda. (No mensalão) ficamos com aquele número cabalístico de R$ 170 milhões. Mas, agora, isso não dá nem um Barusco. Então, a gente vê o tamanho — declarou o ministro.

Gilmar disse ter ficado assustado com o tamanho da LavaJato e os desvios da ordem de bilhões de reais, de “proporções inimagináveis”:

— A corrupção como sistema de governo, como forma de organizar a administração, realmente é algo impensável.

Anteontem, ao anunciar a prisão do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, o procurador da República Carlos Fernando Lima fez referência a uma declaração feita por Gilmar recentemente, atribuindo o mesmo DNA do mensalão à LavaJato. Ontem, o ministro lamentou o fato de a Procuradoria da República não ter continuado às investigações da CPI do Correios, referentes ao dinheiro desviado dos fundos de pensão para abastecer o esquema do mensalão.

Também ministro do TSE, Gilmar lembrou da investigação em curso das supostas irregularidades nas contas da campanha da presidente Dilma; e alertou para a importância de se acompanhar o financiamento e gastos das campanhas políticas.

— A gente vai descobrindo distorções, como empresas que não existem. A gente tem descoberto que existem empresas aparelhadas para tirar dinheiro da campanha. (...) Precisamos saber responder isso no Tribunal Eleitoral — disse, ressaltando os recursos limitados disponíveis na Justiça Eleitoral.