Na eleição, procuradores ensaiam reação a políticos

 

JAILTON DE CARVALHO

O globo, n. 29948, 05//08/2015. País, p. 11

 

Os procuradores da República vão às urnas hoje para formar uma lista tríplice a ser apresentada à presidente Dilma Rousseff, a quem caberá indicar ao Senado o candidato a chefiar o Ministério Público Federal pelos próximos dois anos. Numa tentativa de se contrapor à reação de políticos investigados por corrupção na Operação Lava-Jato, procuradores que apoiam ao atual chefe do Ministério Público, Rodrigo Janot, candidato à reeleição, recorreram aos grupos de debates na rede interna do MPF para conclamar colegas a votar em apenas um nome e não em três nomes, como é praxe nas eleições internas do Ministério Público.

AILTON DE FREITAS/27-07-2015Rodrigo Janot. Na reta final, movimento pelo voto único

Os pedidos de voto único em Janot surgiram ao longo da campanha, mas cresceram nos últimos dias que antecederam à votação. Pela tradição, a presidente deverá indicar um dos três nomes, provavelmente o primeiro colocado. A nomeação depende, no entanto, de sabatina na Comissão de Constituição e Justiça do Senado e, depois, de votação no plenário da Casa.

O voto único em Janot seria uma forma de reforçar a posição procurador-geral e mandar um recado ao Senado de que a categoria não aceita a ameaça de alguns senadores investigados por corrupção de barrar a recondução do chefe do MPF, caso ele seja indicado novamente.

Pelas regras da Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR), cada procurador pode votar em três nomes. Mas, para os eleitores de Janot, a situação exige uma demostração de coesão. Alguns deles passaram a pedir que colegas favoráveis à recondução do procurador-geral deixem de assinalar também os nomes de outros candidatos. Adversários de Janot discordaram. Para alguns, a lista tríplice dá legitimidade e evita a imposição de um nome da categoria à presidente da República.

Nas apostas internas, Janot aparece como favorito na eleição de hoje. Até mesmo entre os adversários de sua candidatura. Mas alguns senadores, entre eles Fernando Collor (PTB-AL), estariam se articulando para impedir a aprovação pelo Senado, caso Janot seja o escolhido. O grupo do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-AL) também estaria atuando para inviabilizar os planos de Janot. Collor e Cunha têm feito intensa movimentação contra Janot desde se tornaram alvo de inquérito por suposto envolvimento na corrupção na Petrobras.

BRIGA PELO SEGUNDO LUGAR

O risco do veto na sabatina criou uma situação diferente nesta campanha. Os subprocuradores Mario Bonsaglia, Carlos Frederico e Raquel Dodge, que disputam com Janot, trabalham com a ideia de chegar pelo menos em segundo lugar no pleito de hoje. Com isso, se Janot, o favorito, for rejeitado pelo Senado, o caminho estaria aberto para o segundo da lista. A tese é vista com naturalidade por dirigentes da ANPR. Mas procuradores não vinculados ao comando da entidade, acham que um veto na sabatina seria uma afronta à autonomia do MP.

A eleição de hoje é considerada a mais importante desde a criação da Procuradoria. Caberá ao procurador- geral decidir se pede ou não abertura de processo contra deputados, senadores e ministros acusados de envolvimento na corrupção na Petrobras. Durante a campanha, os candidatos prometeram intensificar o combate à corrupção, mas por métodos diferentes. Janot disse, que se reconduzido ao cargo, criará a Procuradoria Nacional Anticorrupção.

Bonsaglia disse que fará mudanças pontuais na equipe de procuradores que está à frente da Lava-Jato em Brasília. Raquel Dodge disse que manterá e, se for necessário, até ampliará a estrutura destinada às investigações da Lava-Jato. Carlos Frederico, mais reticente, disse que teria que ver as provas para saber o que fazer em relação aos parlamentares acusados de corrupção.

A votação começa às 10h e será encerrada às 18h30m. O resultado deve ser anunciado por volta das 19h. O presidente da ANPR, Robalinho Cavalcanti, tentará marcar uma audiência para entregar a lista à presidente Dilma amanhã.