MPF denuncia Zelada e mais 5 por esquema que envolve PMDB

 

CLEIDE CARVALHO E GERMANO OLIVEIRA

O globo, n. 29950, 07//08/2015. País, p. 9

 

O ex- diretor da Petrobras Jorge Luiz Zelada foi denunciado pelo Ministério Público por corrupção, lavagem de dinheiro e evasão de divisas. - SÃO PAULO E CURITIBA- O Ministério Público Federal denunciou ontem o ex- diretor da área Internacional da Petrobras, Jorge Luiz Zelada, e mais cinco pessoas por corrupção, evasão de divisas e lavagem de dinheiro. Zelada, ex- funcionários da estatal e o PMDB teriam dividido cerca de US$ 31 milhões em propina no contrato de locação do navio- sonda Titanium Explorer, destinado a perfurar poços de petróleo para a Petrobras no Golfo do México.

Além de Zelada, foram denunciados Eduardo Vaz da Costa Musa, ex- diretor da área internacional da estatal; o executivo Hsin Chi Su, conhecido como Nobu Su, e os lobistas Hamylton Pinheiro Padilha Junior, Raul Schmidt Felippe Junior e João Augusto Rezende Henriques.

Segundo depoimento de Padilha, que se tornou delator da Operação Lava- Jato, Henriques foi o responsável por receber e distribuir a parcela destinada ao PMDB e negociou os detalhes com Nobu Su, representante da empresa dona do navio, a chinesa TMT. Todos os depósitos teriam ocorrido no exterior.

O contrato de afretamento do navio chinês com a Petrobras, no valor de US$ 1,816 bilhão, foi fechado pela americana Vantage Drilling, que teria se negado

Zelada: US$ 31 milhões de propina a pagar propina. Diante da negativa, a negociação foi feita diretamente com a TMT. Segundo Padilha, Nobu Su esteve no Brasil em 2008 e se hospedou no Copacabana Palace exclusivamente para negociar como pagaria aos valores destinados ao PMDB. Ouvido pela PF, Henriques negou participação em qualquer irregularidade.

A descoberta de Henriques como um novo operador do PMDB e a disposição do lobista Fernando Soares, o Baiano, de fazer delação premiada ampliam o clima de tensão no Congresso. Os investigadores da Lava- Jato apuram se os dois operadores têm ligação com o deputado Eduardo Cunha ( PMDB- RJ), presidente da Câmara dos Deputados.

Ontem, Baiano foi levado do Complexo Médico- Penal de Pinhais, onde está preso, para a sede da PF, onde conversou por cerca de três horas com o advogado Sérgio Riera, que deve conduzir o acordo de delação com o Ministério Público Federal. Riero não explicou o motivo de seu cliente ter sido ouvido na PF, e não no presídio onde estava. O advogado informou que ainda precisa entender detalhes do que baiano pode vir a falar.

O delator Júlio Camargo afirmou ao MPF que pagou US$ 10 milhões em propina num contrato de navio- sonda, dos quais US$ 5 milhões para Eduardo Cunha e U$ 5 milhões para Baiano. Fernando Baiano se manteve calado até agora e a força- tarefa da Lava- Jato acreditava que ele pudesse ter medo de falar. No processo em que ele é réu, o mesmo de Camargo, a defesa tenta usar o surgimento do nome de Cunha, que tem foro privilegiado, para levar o caso ao Supremo Tribunal Federal.

 

Cerveró diz que na delação falará sobre a compra de Pasadena

 

 O ex- diretor da área Internacional da Petrobras, Nestor Cerveró, e o lobista Fernando Soares, conhecido por Baiano, começaram a negociar ontem acordos de delação premiada para falar sobre o envolvimento deles no esquema de corrupção na Petrobras. Na Polícia Federal, Cerveró disse que está disposto a revelar detalhes da compra da usina de Pasadena, nos Estados Unidos, na qual a Petrobras teve prejuízo de cerca de US$ 1 bilhão. Ele não deve citar o nome da presidente Dilma Rousseff, que na época da compra de Pasadena era presidente do Conselho de Administração da estatal.

Cerveró vai depor também sobre a compra das sondas na Samsung, da Coreia, e deve dar nomes de quem se beneficiou com propinas no negócio.

OTHON: PRISÃO PREVENTIVA

O juiz Sérgio Moro converteu em preventiva a prisão temporária do ex- presidente da Eletronuclear, Othon Luiz Pinheiro da Silva. Na prática, Othon não tem prazo para ser solto. A prisão temporária dele expirava hoje.

O juiz justificou sua decisão ao escrever, no despacho, que “são robustas as provas do pagamento de propina a Othon Luiz em decorrência do cargo exercido na Eletronuclear e mediante a simulação de contratos de consultoria fraudulentos”.

 

Collor xinga Janot na tribuna

 

Inconformado com a operação que resultou na apreensão de carros de luxo em sua casa em Brasília, o senador Fernando Collor ( PTB- AL) xingou o procurador geral da República, Rodrigo Janot, de “filho da puta” em discurso anteontem da tribuna do Senado. No discurso, o senador que é investigado na Operação LavaJato reclamava de despacho do procurador, negando a devolução dos carros. Collor disse que os carros foram comprados por empresas legalmente constituídas e das quais é sócio majoritário.

Em documentado enviado ao STF, Rodrigo Janot disse que não há razão para devolver os carros de luxo — Lamborghini, Ferrari, Bentley e Land Rover — apreendidos no mês passado na casa do senador. Janot também afirmou que Collor recebeu, ao todo, R$ 26 milhões de propina no período entre 2010 e 2014.

Segundo Collor, as empresas não são de fachada, foram legalmente constituídas. E se existem parcelas de pagamento dos carros em atraso isso é uma questão comercial que só diz respeito a ele e ao credor.

— Não podendo, jamais, em tempo algum, sob risco de grave ação judicial a quem afirme que tal atraso se deve a falta de recursos escusos. Afirmações caluniosas e infames! Filho da puta! — disse Collor entredentes.

Mas o som foi captado no microfone e em vídeo divulgado na internet.

O MPF deve denunciar ainda este mês Collor e o presidente da Câmara, Eduardo Cunha ( PMDB- RJ). Os dois negam envolvimento nas irregularidades apuradas na Operação Lava- Jato.