Alta do preço pode reduzir lucratividade do pré-sal

Camila Maia e Cláudia Schüffner

24/08/2015

A queda dos preços do petróleo no mercado internacional, na semana passada, foi mais um baque na lucratividade da Petrobras na exploração dos campos no pré-sal.

O petróleo tipo Brent, usado como referência nos contratos da companhia e da Agência Nacional do Petróleo (ANP), fechou com queda de 2,6% na sexta-feira, cotado a US$ 45,42 o barril. O valor está abaixo dos US$ 52 a US$ 53 informados pela Petrobras em janeiro deste ano como sendo o preço mínimo do barril suficiente para garantir a viabilidade econômica da produção do pré-sal.

Esse preço, informava a empresa, levava em conta um custo aproximado de US$ 45 por barril para a produção e pagamento de tributos, e seria suficiente para remunerar o capital investido. Contudo, ele não inclui a infraestrutura para escoamento do gás, que representa um aumento de US$ 5 a US$ 7 por barril.

Procurada, a estatal informou que "está aumentando a sua capacidade de produção de petróleo e gás no pré-sal de modo economicamente viável considerando a alta produtividade dos poços".

Na média de 2015, até sexta-feira, o preço do Brent já está em US$ 58,78, abaixo do preço médio considerado no novo plano de negócios da Petrobras, que prevê US$ 60 para o barril de Brent. Se o preço da commodity está superestimado no plano de negócios, o câmbio considerado está subestimado. Isso porque ela considera R$ 3,10 por dólar, mas o dólar fechou cotado a 3,49 na sexta.

O colapso dos preços do petróleo que começou há um ano não dá sinais de alívio. Tudo indica que a Petrobras pode ter pouca sobra na produção para pagar sua bilionária dívida, o que pode levar a companhia a rever, novamente, seus investimentos. O fenômeno afeta não só a Petrobras e o Brasil, mas outros países emergentes que também se beneficiaram do superciclo das commodities, particularmente na América Latina e África.

O caso da Petrobras é o mais emblemático, mas a americana ConocoPhillips também foi rebaixada pela Moody's devido ao alto endividamento que vai gerar fluxos de caixa negativos. A reação do setor, até o momento, tem sido na direção de um imenso esforço para reduzir custos e suspender projetos menos rentáveis. A queda das cotações do petróleo West Texas Intermediate (WTI), usado como referência no mercado americano, afeta as exportações do Canadá, que enfrenta gargalos na infraestrutura de escoamento da produção de areias betuminosas.

Na sexta feita o WTI caiu 2,1%, para US$ 40,45, e já existem previsões de que pode chegar perto dos US$ 30, pois o verão americano, que é a temporada de maior consumo, está terminando e a parada das refinarias para manutenção vai aumentar os estoques, pressionando ainda mais os preços. O WTI chegou ser negociado abaixo de US$ 40 na sexta, uma barreira "psicológica" preocupante. Foi a primeira vez desde 2009 que chegou nesse patamar.

Devido às características do petróleo exportado pela Petrobras, que é pesado e com elevado teor de enxofre, a companhia vende a commodity com um desconto de aproximadamente US$ 10 o barril em relação ao Brent. Nas exportações também é preciso descontar o custo do frete.

O atual patamar do petróleo ainda é superior aos custos médios de extração registrados no balanço mais recente da Petrobras. No primeiro semestre, o custo de extração foi de US$ 12,99 por barril. Considerando a participação governamental, o valor cresce para US$ 21 por barril, mas bem abaixo do custo de US$ 32,79 visto no mesmo intervalo do ano anterior.

Esse valor, que não leva em conta a taxa de retorno do capital investido, considera uma média de custos de produção em diversas bacias, no mar e em terra. Foi a menor participação governamental - a única ajuda advinda dos preços mais baixos - que ajudou a reduzir esses custos. Em 2004, quando o preço do Brent médio foi de US$ 38,2 o barril, o custo de extração com participação governamental era de US$ 10,72.

As ações da Petrobras se aproximaram na sexta-feira das suas mínimas em mais de dez anos. A ação preferencial (PN) fechou com queda de 4,93%, a R$ 8,30, perto da mínima de R$ 8,18 atingida no fim de janeiro, no menor preço desde dezembro de 2014. A ordinária (ON) recuou 5,06%, a R$ 9,20, também próxima dos menores níveis desde agosto de 2014.

Na bolsa de Nova York (Nyse), as ADRs também registram forte queda. A ADR com lastro nas ações ordinárias recuou 6,49%, a US$ 5,26, e a preferencial caiu 5,37%, a US$ 4,76.

Valor econômico, v. 16, n. 3826, 24/08/2015. Empresas, p. B3