Prisão de presidente licenciado da Eletronuclear é prorrogada por Moro

 

CLEIDE CARVALHO E TIAGO DANTAS

O globo, n. 29944, 01//08/2015. País, p. 4

 

O presidente licenciado da Eletronuclear, Othon Luiz Pinheiro da Silva, ficará preso em um quartel de Curitiba pelo menos até quinta-feira. A decisão foi tomada ontem pela Justiça, que não considerou suficientes as explicações apresentadas pelo vicealmirante em depoimento à Polícia Federal. Também foi prorrogada a prisão temporária do diretor da Andrade Gutierrez Flávio Barra. Os dois foram detidos no dia 28 durante a 16ª fase da Operação Lava-Jato, que investiga suspeitas de corrupção em obras da usina Angra 3.

GUSTAVO MIRANDA/11-03-2014Operação Lava-Jato. Othon Silva: preso até, pelo menos, quinta-feira

No despacho em que decidiu manter Othon preso, o juiz Sérgio Moro apontou uma série de contradições entre o depoimento prestado pelo presidente licenciado da Eletronuclear e as provas colhidas pelos investigadores. Othon negou que tenha recebido propina. O Ministério Público Federal (MPF), porém, aponta que ele utilizou a empresa Aratec, registrada em seu nome, para receber pelo menos R$ 4,5 milhões de valores ilícitos entre 2009 e 2014, após o início da Lava-Jato.

As empreiteiras Andrade Gutierrez e Engevix passariam os valores ilícitos para quatro empresas intermediárias que, por sua vez, os encaminhavam à Aratec. Othon disse que não utiliza a Aratec desde 2005, quando assumiu a estatal. Segundo ele, a empresa era utilizada por sua filha, Ana Cristina da Silva Toniolo, para fazer serviços de tradução, e pelo marido dela, Sérgio Toniolo, para prestar consultoria de engenharia.

Também ouvidos pela PF, os responsáveis pelas empresas que teriam sido utilizadas como intermediárias no pagamento da propina deram versões diferentes. O representante da JC Consultoria disse que os repasses feitos à Aratec teriam o objetivo de pagar pela montagem de canteiros de obras, o que não foi comprovado. Já o administrador da Deutschbras disse que pagou para fazer um projeto de segurança, cujo registro também não foi encontrado pelos investigadores. Para o MPF, essas empresas, que não têm funcionários, são de fachada.

Os investigadores encontraram, ainda, planilhas da Andrade Gutierrez e da Engevix em que os termos “Angra” e “overhead” (que pode ser traduzido como despesas gerais) aparecem ao lado dos repasses feitos a JC Consultoria, Deutschbras, Link Projetos e JNobre. Também notaram que os valores saíam dessas empresas para a Aratec poucos dias após terem chegado de contas bancárias administradas pelas construtoras.

Em seu depoimento, Othon disse à polícia que ficou “profundamente consternado” com as acusações de que recebeu propina, pois, nas suas palavras, “nunca agiria dessa forma”. Afirmou, ainda, que “possui conhecimento que lhe permitiria ganhar muito mais do que os valores que lhe acusam de ter recebido”.

MORO: PROVA CONTRA OTHON

O MPF pretendia que Othon e Flávio ficassem presos por tempo indeterminado. O histórico profissional de Othon e sua passagem pela Marinha pesou para que o juiz Sérgio Moro optasse pela prisão temporária, mais branda.

O juiz citou, no despacho, os “serviços relevantes prestados ao país na área de desenvolvimento da energia nuclear” pelo presidente licenciado da estatal e afirmou que tem conhecimento de que “Othon Luiz é militar da reserva, com condecorações.” Segundo Moro, porém, “o fato é que as provas até o momento colhidas indicam, lamentavelmente, que ele teria se corrompido”.

Segundo o juiz Moro, “há prova, do pagamento de propina decorrente do esquema criminoso a Othon Luiz em dezembro de 2014”.