Ao depor, lobista diz ter feito pagamento em conta de Cunha

 

JAILTON DE CARVALHO

O globo, n. 30003, 29//09/2015. País, p. 5

 

João Augusto Henriques, apontado pela Lava- Jato como operador do PMDB, disse que fez depósito para o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, em conta na Suíça. Cunha nega. - BRASÍLIA E SÃO PAULO- O lobista João Augusto Rezende Henriques, um dos operadores do PMDB na Petrobras, afirmou em depoimento à Polícia Federal que fez depósitos numa conta bancária na Suíça que seria do presidente da Câmara, Eduardo Cunha ( PMDB- RJ). Segundo ele, o pagamento está relacionado à compra e à venda de um campo de exploração de Petróleo no Benin, um negócio de valor inicial estabelecido em US$ 15 milhões. Henriques disse que a conta destinatária dos pagamentos foi indicada a ele por Felipe Diniz, filho do ex- deputado Fernando Diniz, já falecido.

“Que, por fim, o interrogando gostaria de adicionar que em relação à aquisição pela Petrobras do campo de exploração em Benin, a pessoa que lhe indicou a conta para pagamento foi Felipe Diniz; Que Fernando Diniz era filho de Fernando Diniz; Que Felipe apresentava dificuldades econômicas; Que a conta indicada para o pagamento pertencia a Eduardo Cunha”, afirmou Henriques em depoimento a um dos delegados da Operação Lava- Jato, na última sexta- feira, em Curitiba. Henriques foi preso na segunda- feira passada, na 19 ª fase da Lava- Jato.

Logo depois da citação ao nome do presidente da Câmara, o depoimento do lobista foi enviado ao ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal ( STF). Caberá agora ao procuradorgeral da República, Rodrigo Janot, decidir se abre um novo inquérito para apurar o caso. O presidente da Câmara já foi denunciado ao STF por supostamente ter recebido US$ 5 milhões em propina para facilitar a compra de dois naviossondas da Samsung Heavy Industries, pela Petrobras, um negócio de US$ 1,2 bilhão.

João Henriques mencionou a conta para pagamentos a Eduardo Cunha depois de falar sobre a compra e a venda de um campo de petróleo em Benin. Ele teria faturado alto no negócio depois de receber informações privilegiadas. “Acabei tendo que abrir uma conta lá para receber esses valores e paguei contas que me deram. E paguei também quem me deu a dica. Foi isto que aconteceu; Que indagado o que seria a dica, disse: a pessoa falou, dá uma olhada na costa da África, vê se não tinha nenhuma oportunidade”, disse o lobista à polícia.

A partir da dica, João Henriques teve um encontro com o empresário Idalecio de Oliveira, que seria o dono da área no Benin. Os dois fizeram uma sociedade e logo em seguida venderam a área por US$ 15 milhões para a Petrobras. Depois da operação, ele teria embolsado US$ 7,5 milhões. Em seguida, fez pagamentos para pessoas que o ajudaram na concretização do negócio. Ele não informou quais seriam as pessoas que repassaram a ele informações privilegiadas sobre o campo de petróleo no Benin.

O lobista disse ainda que fez pagamentos na conta indicada por Diniz, mas só descobriu que a conta era do presidente da Câmara há dois meses. Ele teria descoberto a identidade depois que a Acona, uma de suas empresas, teve uma conta bloqueada no BSI da Suíça.

O advogado de Henriques, José Cláudio Marques Barbosa Júnior, confirmou ao GLOBO a confissão, mas disse que seu cliente só soube da ligação do político com a conta há dois meses.

— Ele pagava comissões a amigos que o indicavam para fazer serviço de engenharia. Os valores não eram declarados à Receita Federal. Em uma dessas contas, o beneficiário de uma pessoa jurídica no exterior supostamente era o deputado federal. Foi a única vez em toda a sua carreira ( como engenheiro) que apareceu um político como beneficiário de uma de suas transações bancárias — afirmou o advogado.

JOÃO HENRIQUES NÃO SERÁ DELATOR

O advogado disse ainda que, apesar da confissão, Henriques não será delator “por princípios morais”. O advogado Reginaldo de Castro, um dos responsáveis pela defesa de Cunha, minimizou as acusações de João Henriques. Segundo ele, o lobista fez uma denúncia, mas não apresentou provas. Perguntado se o presidente da Câmara recebeu pagamentos ou tem contas no exterior, o advogado respondeu :

— Eu não tenho conhecimento de que ele ( Eduardo Cunha) tem conta no exterior — afirmou.

 

Fatiamento da Lava- Jato é usado por advogados

 

O fatiamento da Operação LavaJato, decidido semana passada pelo Supremo Tribunal Federal ( STF), já está sendo utilizado por advogados como argumento para rever despachos do juiz Sérgio Moro. A defesa de José Antunes Sobrinho, um dos sócios da Engevix, pediu ontem o relaxamento da prisão preventiva do executivo apoiandose no STF. Preso desde o dia 21, Sobrinho é investigado por contratos da empreiteira com a Eletronuclear para obras em Angra 3 e por suspeita de ter atrapalhado as investigações.

O advogado Carlos Kauffmann afirma que a prisão de Sobrinho é ilegal, pois Moro não seria o juiz competente para essa ação. Segundo ele, a investigação contra o sócio da Engevix não envolve a Petrobras.

No último dia 23, os ministros do Supremo decidiram mandar para uma vara da Justiça Federal de São Paulo parte da investigação sobre contratos entre o Ministério do Planejamento e a empresa de informática Consist. Os ministros entenderam que o caso, que também envolve a senadora Gleisi Hoffmann ( PT- PR), deveria ser julgado separadamente porque não tem relação com a corrupção na petrolífera.

Segundo Kauffmann, o STF “assegurou que o descobrimento fortuito de provas, ainda que no bojo de colaboração premiada, não constitui critério de fixação de competência, nem, muito menos, indica conexão”.

A defesa de Sobrinho rebate o argumento do Ministério Público Federal ( MPF) de que o executivo teria procurado testemunhas para combinar uma versão. Antes de tomar uma decisão sobre o relaxamento do pedido de prisão, Moro pediu que o MPF se posicione sobre o assunto. Se Sobrinho continuar preso, a defesa pode recorrer.