DAIANE COSTA
O globo, n. 30004, 30//09/2015. Economia, p. 19
A taxa de desemprego no país ficou em 8,6% em julho, a maior desde 2012. Mais 883 mil brasileiros passaram a trabalhar por conta própria, um aumento de 4%. Em doze meses mais 1,8 milhão de brasileiros entraram na fila do desemprego. O aumento ( 26,6%) só não foi maior porque milhares de demitidos apelaram ao trabalho informal. De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios ( Pnad) Contínua, do IBGE, entre agosto do ano passado e julho deste ano, o país perdeu 927 mil empregos com carteira assinada, ou 2,5% do total, e 883 mil pessoas passaram a trabalhar por própria, alta de 4%. Com esse movimento, o total de pessoas ocupadas ficou praticamente estável, mas a taxa de desemprego do trimestre encerrado em julho subiu a 8,6%, a maior da série histórica iniciada em 2012, porque mais gente passou a procurar vaga. Em igual período do ano passado, a taxa era bem menor, 6,9%.
MARCELO CASAL JR./ AGÊNCIA BRASIL/ 25- 06- 2015Taxa recorde. O desemprego subiu a 8,6%, o maior da série histórica da pequisa do IBGE, iniciada em 2012. Emprego formal foi o que mais caiu— O nível de ocupação não está caindo, mas as características desse grupo estão mudando. Há um crescimento da informalidade entre os ocupados. É como se tivesse ocorrido transferência dos empregos com carteira para os por conta própria. Ou seja, há um crescimento da informalidade entre os ocupados — explica o economista João Saboia, da UFRJ.
PERDA VAI ALÉM DO SALÁRIO
No total, o país tinha cerca de 8,62 milhões de pessoas procurando trabalho no período de maio a julho, coberto pela Pnad Contínua. De acordo com Cimar Azeredo, coordenador de Trabalho e Renda do IBGE, a pressão no mercado é consequência da diminuição da qualidade do emprego.
— Você tem queda no número de trabalhadores com carteira assinada. E quando esse trabalhador perde o emprego, num mercado que quase não contrata, acaba tendo de se reinserir na informalidade. E leva mais pessoas do eixo familiar a buscarem emprego para complementar a renda perdida, contribuindo para manter a taxa de desocupação alta — analisa Azeredo.
A economista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada ( Ipea) Maria Andréia Parente observa que o impacto negativo é ainda maior do que mostram os números, porque a perda do emprego formal vai muito além do salário:
— O trabalhador deixa de ter acesso a plano de saúde e a outros benefícios como ticket alimentação, cesta básica e deixa de recolher FGTS, o que pode fazer falta lá na frente, quando ele decidir comprar a casa própria. Além disso, a perda de emprego com carteira assinada impacta a Previdência Social, já deficitária, e o consumo, que já tem dados altos de retração.
O rendimento médio real ( corrigido pela inflação) dos trabalhadores, R$ 1.881, ficou estável na comparação com o trimestre anterior e cresceu 2% em relação ao mesmo período de 2014. Mas, segundo Maria Andréia, impressão de que os salários estão aumentando é falsa:
— Muito provavelmente, ocorreu que muitas das pessoas desligadas tinham salário mais baixo do que os que continuam empregados, e esses acabam puxando a média para cima.
Para Marcelo de Ávila, gerente de estudos econômicos da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro ( Firjan), os números negativos do mercado de trabalho mostrados pela Pnad são típicos de um quadro de recessão, com queda na produção industrial. E não há sinais de recuperação em curto prazo:
— Esse quadro negativo ainda vai se manter por algum tempo, até que a economia dê sinais de melhora e se estabilize, o que deve ocorrer entre o fim do primeiro semestre e o começo do segundo semestre de 2016. Só depois disso é que esses números negativos vão parar de crescer.
Visão compartilhada pelo economistachefe do Goldman Sachs, Alberto Ramos, que prevê uma deterioração ainda maior do mercado de trabalho. Ele acredita que o endurecimento da política monetária, a fraqueza da confiança do consumidor e do empresariado, e as condições financeiras mais difíceis devem levar a um aumento da taxa de desemprego em 2015 e a uma moderação no crescimento do rendimento real. O lado positivo, segundo Ramos, é que a situação ruim do mercado de trabalho pode ajudar a puxar a curva da inflação de serviços para baixo.
O Programa de Proteção ao Emprego ( PPE) — lançado pelo governo há cerca de três meses — já está atingindo 23.971 trabalhadores de seis empresas, segundo o Ministério do Trabalho. Outras 27 estão em fase de negociação para aderir ao programa, que permite redução de jornada e salários para evitar demissões.
A meta inicial do governo era atender 50 mil trabalhadores a um custo de R$ 112,5 milhões, com Fundo de Amparo ao Trabalhador ( FAT). Caso todas as empresas em negociação adotem o programa, o custo chegará a R$ 69,5 milhões. O PPE permite cortar salários em até 30%, mas a perda de renda do trabalhador é de apenas 15%, a diferença é paga com estes recursos do FAT.
O governo priorizou os empregadores que mais demitiram nos últimos meses. O PPE tem duração até 31 de dezembro de 2016 e o Ministério do Planejamento já avisou que haverá dotação extra, caso a demanda seja maior.
Segundo o Ministério do Trabalho, os setores automobilístico, metalúrgico e fabril concentram o maior número de empresas que manifestaram oficialmente interesse pelo programa. Há também representantes de construção civil, alimentos, têxtil, financeiro, imobiliário, comércio e serviços.
Geralda Doca