Título: A sobrevida do terror
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Fonte: Correio Braziliense, 11/09/2011, Opinião, p. 22

O choque do primeiro avião que atingiu o World Trade Center no 11 de Setembro de 2001 abalou o mundo com transmissões em tempo real de terrível tragédia aérea. Contudo, menos de meia hora depois, com imagens ao vivo de Nova York, a humanidade assistia incrédula ao impacto de uma segunda aeronave contra as Torres Gêmeas, de 110 andares, localizadas no coração de Manhattan. Com o prédio, veio abaixo a interpretação de ocorrência de grave acidente e, a um só tempo, instalavam-se para sempre duas certezas no planeta: a de que os Estados Unidos estavam sendo alvo de bem arquitetado ataque e a de que a vida na Terra nunca mais seria a mesma.

Outros dois Boeings da aviação civil estavam envolvidos: um atingira o Pentágono, no Condado de Arlington, Virgínia; o outro seria jogado contra o Capitólio, em Washington, mas caíra perto de Shanksville, na Pensilvânia ¿ segundo versões oficiais, derrubado por passageiros rebelados contra sequestradores postos no controle do avião. No rastro da morte de 2.976 pessoas dos mais variados credos, nacionalidades e etnias, o inimigo até então invisível revelava enfim a sua face, mostrando quanto poder, audácia e ódio havia acumulado o terrorismo. Pior é a constatação, 10 anos depois, de que a civilização ainda não encontrou resposta à altura para ameaça de tal magnitude.

Nos dias que se seguiram àquele 11 de setembro, apontou-se no planeta um Eixo do Mal, como se todos desse bloco fossem criaturas horrendas, e todos que não o integrassem, da mais íntegra e pura nobreza. Pois foi esse último conjunto de nações que recrudesceu a ira. O trauma causado pelo extremismo islâmico começou por igualar por baixo os muçulmanos, como se o radicalismo fosse inerente à religião de Maomé. Em contraposição, surgiu a Doutrina Bush. Sob a égide do combate ao terrorismo, corroeram-se os alicerces da maior democracia ocidental. Caros direitos individuais, aí incluídos o de ir e vir e o do sigilo das comunicações, perderam força. A Justiça se tornou relativa, prisões arbitrárias multiplicaram-se, a tortura disseminou-se.

Em nível global, nações passaram a viver sob o risco de ataques preventivos das mais preparadas e armadas potências do planeta. Berço da civilização, a Mesopotâmia foi bombardeada, à revelia da ONU, com a desculpa de que o ditador iraquiano Saddam Hussein detinha arsenal de destruição em massa, o que se comprovou uma falácia. Determinadas por chefes de Estado, missões militares tornaram populações inteiras ¿ seja no Iraque, no Afeganistão ou onde mais ¿ reféns de suas neuroses, ferindo e matando inocentes. Enfim, o terror passou a ser respondido com terror. Em vez de combater-se as causas, alimentou-se o ódio.

A história, de fato, tomou novo rumo em 11/9/01. A Al-Qaeda, rede terrorista responsável pelos ataques, sofreu baixas importantes, mas multiplica células mundo afora, como o fazem outros grupos extremistas, como um câncer a se propagar pelos tecidos da civilização. Uma década depois, o mundo não aprendeu que a guerra a ser travada deve tirar das facções radicais as bandeiras que as sustentam, sobretudo encontrando solução para a questão palestina. Enquanto isso, desmedidos gastos bélicos abalam economias nacionais e agravam uma crise que já dura quatro anos. Enfim, a humanidade não encontrou os meios de tornar o planeta mais seguro após a queda das Torres Gêmeas.