Título: Cerco a Kadafi
Autor: Sabadini, Tatiana
Fonte: Correio Braziliense, 21/08/2011, Mundo, p. 22

Rebeldes avançam em direção à capital e enfrentam uma contraofensiva, mas afirmam que a vitória "está próxima"

Em meio a rumores insistentes sobre sua partida iminente da Líbia, e diante do avanço dos rebeldes em direção a Trípoli, o ditador Muamar Kadafi tenta permanecer forte no comando do país, mergulhado há seis meses na guerra civil. Depois de terem conquistado importantes cidades ao sul e a leste da capital, os opositores tiveram de retirar-se de um terminal petrolífero na estratégica localidade de Zawiyah, e travavam batalhas com as forças pró-Kadafi em Brega. Cada vez mais confiantes, os insurgentes garantem que "os dias estão contados" para o coronel, que governa a Líbia desde 1969.

Para os rebeldes, Kadafi não deve resistir muito tempo isolado em Trípoli. Com a conquista de Zliten e Zawiyah, na sexta-feira, os acessos terrestres à capital ficam restritos, o que compromete o suprimento de combustível para as tropas oficiais. Segundo o presidente do Conselho Nacional de Transição (CNT), Mustafah Abdelkhalil, a queda do regime seria apenas uma questão de tempo. "Mantivemos conversações com pessoas ligadas ao coronel e tudo demonstra que o final está muito próximo, se Deus quiser. Se Kadafi quiser abandonar o poder, gostaríamos de que ele próprio fizesse o anúncio. Mas achamos que não o fará. Seu fim deve ser catastrófico, e temo que ele vá deixar uma situação de caos em Trípoli", disse Abdelkhalil à imprensa em Benghazi, a "capital" rebelde, no leste do país.

O conflito se intensificou com o esforço das tropas do governo para recuperar as duas cidades, estratégicas para a defesa de Trípoli. Em Brega, importante pólo industrial, os rebeldes chegaram a tomar o comando do local, mas tiveram de recuar diante da contraofensiva do exército. "Ontem, tínhamos a zona industrial sob controle. Mas a verdade é que a situação mudou, devido aos intensos disparos da artilharia inimiga. É uma retirada estratégica e tática, para salvar a vida de nossos combatentes e evitar mais destruição na infraestrutura petroleira", afirmou o porta-voz da rebelião, coronel Ahmed Omar Bani.

Com os combates se aproximando da capital, os próprios rebeldes fizeram um apelo para que a população tome algumas precauções nos próximos dias. A cidade, que tem aproximadamente 1,7 milhão de habitantes, está sob proteção reforçada. Os moradores já passam por dificuldades para receber alimentos e o fornecimento de energia elétrica está sujeito a restrições. A Organização Internacional de Migração planeja a retirada de centenas de pessoas de Trípoli e afirmou ter recebido pedidos de ajuda de cidadãos estrangeiros, na maioria originários da Etiópia, que vivem lá e temem um confronto ainda maior.

Batalhas irromperam também na fronteira com a Tunísia. Forças de segurança tunisianas interceptaram veículos carregados com armas e houve troca de tiros. O governo de Túnis não informou se os homens armados eram aliados de Kadafi ou rebeldes, mas o país resolveu aumentar a segurança nas fronteiras. As operações da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) contra Kadafi continuaram, com bombardeios a Trípoli na madrugada. Em resposta, o governo líbio entrou com um pedido nas Nações Unidas para que sejam investigados supostos abusos da coalizão internacional em suas atividades.

Plano de fuga O regime líbio também coleciona sentidas deserções. Abdesalem Jallud, que ajudou Kadafi a tomar o poder, em 1969, e foi o "número dois" do governo por mais de 20 anos, pode ter se unido à revolta. Os rebeldes afirmaram que ele apoia a oposição, e por isso fugiu do país em direção à Itália. Na semana passada, o ministro do Petróleo e o vice-ministro de Segurança tinham abandonado as fileiras do governo para pedir refúgio em outros países. Na Líbia, circulam rumores de que Kadafi e sua família estariam preparando um plano de fuga pela Tunísia, e que alguns de seus parentes já estariam na fronteira, a caminho de embarcar para a Venezuela em um avião que teria sido enviado pelo presidente Hugo Chávez.