Título: Reflexo da falta de funcionários
Autor: Jeronimo, Josie ; Gama, Júnia
Fonte: Correio Braziliense, 18/09/2011, Política, p. 2/3

No Executivo, o problema com a hora extra difere da realidade no Legislativo. Em alguns casos, há carência no número de funcionários. Em outros, a lei que fixa os valores é ignorada. Para manter a geração de energia nuclear no país, por exemplo, as estatais responsáveis pelo setor precisam recorrer a um vultoso pagamento de horas extras aos empregados. É assim com mais da metade dos funcionários da mina de Caetité (BA), de onde as Indústrias Nucleares do Brasil (INB) extraem o urânio necessário para fabricação do combustível das usinas de Angra 1 e 2.

Na fábrica de elemento combustível de Resende (RJ), também sob a responsabilidade das INB, a maioria dos empregados é remunerada com horas extras. Ao todo, os servidores das unidades das INB ¿ incluídos os dos empreendimentos de Caetité e Resende ¿ já receberam R$ 3,4 milhões neste ano por serviços extras. Os empregados responsáveis por fabricar equipamentos para Angra 1 e 2, motores para propulsão naval, cascos de submarinos e plataformas para a Petrobras, ligados ao Núcleo de Equipamentos Pesados (Nuclep), levaram mais R$ 4,6 milhões.

A dependência das horas extras é atribuída por gestores das estatais à falta de funcionários. Pagar pelo adicional, a partir da divisão das equipes em turnos, foi a forma encontrada para manter os serviços que estão por trás da geração de energia nuclear. "São 600 funcionários nos turnos. Para não pagarmos hora extra, seriam necessários pelo menos mais 300", afirma o diretor de Administração e Finanças das INB, Athayde Pereira Martins. "O custo-benefício das horas extras é muito maior, infelizmente. Mas não se pode contratar quem a gente quer."

Em Porto Alegre, três hospitais do Ministério da Saúde gerenciados pelo Grupo Hospitalar Conceição (GHC), são recordistas no pagamento de horas extras no setor de saúde. Cada período adicional no grupo custa o dobro do valor recebido a cada 60 minutos na jornada contratual, o que contraria a legislação levada em conta pelo Tribunal de Contas da União (TCU) para fiscalizar os pagamentos. A lei determina um adicional de 50%. Esse valor a mais nos hospitais de Porto Alegre, acertado em convenção coletiva com as categorias de saúde, levou a um gasto de R$ 66,8 milhões com horas extras neste ano nos Hospitais Nossa Senhora da Conceição, Femina e Cristo Redentor. Nenhum hospital sob a responsabilidade direta do ministério teve um gasto tão expressivo.

"O número é irrisório diante da quantidade de trabalhadores. São 8 mil. Mas acho absurdo pagar os 100%. Isso induz à cultura da hora extra", afirma o diretor administrativo e financeiro do GHC, Gilberto Barrichello. Dentre os hospitais universitários, custeados pelo Ministério da Educação, o que mais gasta com horas extras é o de Porto Alegre: R$ 6,7 milhões. (VS e JJ)