Título: A encruzilhada de Henrique
Autor: Rothenburg, Denise ; Decat, Erich
Fonte: Correio Braziliense, 18/09/2011, Política, p. 8

Dificuldade em conciliar interesses da bancada e do governo ameaça afastar o líder do PMDB da cadeira de presidente da Câmara em 2013NotíciaGráfico

A obsessão em se tornar presidente da Câmara em 2013 tem levado o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), a cometer erros políticos que podem custar os planos futuros de se tornar o terceiro na linha sucessória da presidente Dilma Rousseff. Sem saber se agrada aos deputados ¿ potenciais eleitores ¿, à própria bancada que lidera ou ao Palácio do Planalto, ele fica no fio da navalha e coleciona críticas e derrotas. A mais recente foi não ter emplacado o sucessor de Pedro Novais no Ministério do Turismo, o que coloca uma interrogação sobre a viabilidade dos planos para 2013.

Henrique Eduardo Alves é o parlamentar com mais mandatos na Câmara ¿ 11 consecutivos, ou 41 anos. Por ser o mais antigo na Casa, sentiu duas vezes o gostinho de exercer a Presidência. Em 2003, durante a eleição de João Paulo Cunha (PT-SP), já que o titular Aécio Neves (PSDB-MG) fora eleito governador de Minas; e em 2011, na vitória de Marco Maia (PT-RS), pois Temer tinha assumido a Vice-Presidência da República.

Uma análise corrente apurada pelo Correio é de que o primeiro erro de Henrique foi justamente colocar-se como candidato dois anos antes da eleição, o que obrigou-o a equilibrar-se entre a busca de votos e a tarefa de líder partidário. Dilma Rousseff não esconde a pouca afinidade com o peemedebista. Na bancada da Câmara, mais de um terço dos parlamentares ¿ aí incluindo a vice-presidente da Casa, Rose de Freitas (ES) ¿ questionam a autoridade do parlamentar. E aliados de outras legendas, especialmente o PT, olham com desconfiança os seus passos, especialmente a proximidade com Eduardo Cunha (PMDB-RJ). O líder insistiu até o último instante para que o colega relatasse o Código de Processo Civil e comprou uma briga com o ex-titular da Casa Civil Antonio Palocci, quando indicados de Cunha foram exonerados de Furnas.

Cargos Em dezembro do ano passado, época na qual o PT ainda se digladiava para escolher o candidato a presidente da Casa, Henrique se insinuava como alternativa. Para adversários mais ferrenhos, isso atrapalhou a disputa do partido pelos cargos na Esplanada. Com pouca disposição para comprar brigas com PP e PR, ele não teria se esforçado muito para trazer nomes para os ministérios das Cidades e dos Transportes.

Para piorar, bancou a indicação de Novais para o Turismo sem consulta à bancada. Quis agradar ao presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), esperando que a gentileza fosse retribuída em 2013, quando o senador peemedebista usaria todo o seu prestígio político, especialmente perante Dilma, para pavimentar a eleição de Henrique como presidente da Câmara. A questão foi relembrada durante uma das várias e tensas reuniões da bancada no dia em que Novais caiu, na última quarta-feira. "A indicação de Novais não foi discutida conosco", reclamou Danilo Fortes (CE). "Isso não está em questão", rebateu Henrique.

Aliás, o episódio do Turismo é o exemplo mais perfeito de como Henrique tem errado politicamente nos últimos meses. Depois de perceber que seria inútil lutar pela manutenção de Novais após as denúncias sobre a pasta, ele ressuscitou o nome de Marcelo Castro (PMDB-PI) como opção para vaga ¿ o deputado havia sido preterido pelo Palácio do Planalto na sucessão de Mendes Ribeiro como líder do governo no Congresso. Não satisfeito, sugeriu ainda Manoel Júnior (PMDB-PB), denunciado por viajar com a família para Buenos Aires utilizando passagens da Câmara, irregularidades em contratos no tempo em que era prefeito de Pedra de Fogo (PB), e até um envolvimento mal explicado de assassinato levantado pela CPI do Extermínio ¿ Júnior nega veemente essa parte.

79 indicações Sem consenso e sem querer, desta vez, ceder à pressão maranhense pelo nome de Gastão Vieira, tentou transferir a responsabilidade da escolha para Dilma, dizendo que ela poderia nomear qualquer um dos 79 deputados. "Voltem lá e me tragam um nome", afirmou Dilma. Temer sugeriu Gastão e Dilma aceitou. Sexta-feira, durante a posse do novo ministro do Turismo no Palácio do Planalto, Henrique estava em Mossoró (RN), recebendo homenagens de empresários locais.

Não foi apenas no episódio Novais que Henrique irritou o Planalto. Dilma não gostou quando ele, ainda em 2010, liberou a bancada do PMDB para votar a favor da emenda Ibsen ¿ que distribui os royalties do pré-sal de forma igual por todos os estados ¿ nem tampouco quando ele apresentou uma emenda ao Código Florestal, abrindo uma brecha para o desmatamento. "Nós não estamos estimulando a divisão da bancada. Mas também não estamos pedindo para que os dissidentes contenham os ânimos", lembrou um assessor governista.