Temer diz ser difícil a aprovação da CPMF, e Joaquim Levy ironiza

 

SÉRGIO ROXO

O globo, n. 30000, 26//09/2015. País, p. 6

 

Defensor dentro do governo de uma reforma da Previdência para reequilibrar as contas públicas, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, aproveitou ontem uma pergunta feita por jornalistas para tentar, em tom irônico, envolver o vice-presidente Michel Temer (PMDB) no tema. Em almoço com empresários do Instituto para Desenvolvimento do Varejo (IDV), num hotel de São Paulo, Temer, que é presidente em exercício já que Dilma Rousseff está em Nova York, avaliou que a chance de a volta da CPMF ser aprovada no Congresso é muito pequena. A proposta de retomar o tributo foi lançada pelo governo federal como um mecanismo para permitir o aumento de R$ 32 bilhões na arrecadação e, assim, garantir o superávit fiscal no ano que vem. Cerca de meia hora depois da saída de Temer, Levy chegou para se encontrar com os mesmos empresários, foi questionado sobre a previsão do vice-presidente e respondeu de forma irônica:

— Ótimo, então ele quer a reforma da Previdência. Precisamos de um reequilíbrio fiscal. Como ele conhece o Congresso, está dizendo que vai aprovar a reforma da Previdência — disse.

A reforma da Previdência é considerada impopular porque incluiria a adoção de critérios mais rígidos para a concessão de pensões e aposentadorias.

Na saída, o ministro da Fazenda falou sobre a manutenção pelo Congresso dos vetos da presidente Dilma Rousseff a medidas que aumentariam os gastos do governo. O ministro comemorou as votações desta semana.

— Eu acho que foi um avanço muito importante na questão da votação para manter os vetos. Porque a gente sabe que cada veto mantido é um imposto que você não precisa pagar. Então, acho que agora o mais importante é manter os vetos na votação da semana que vem ( no Congresso) — afirmou Levy.

Já Temer saiu do encontro com os empresários do varejo sem dar declarações. A reunião foi fechada.

— (Temer) Não falou se apoia ou não apoia a CPMF. Disse apenas que vai ser muito difícil de ser aprovada no Congresso — contou Nelson Kheirallah, da Camisaria Colombo.

No almoço, a pergunta sobre a volta do tributo havia sido feita pela empresária Ana Luiza Trajano, do Magazine Luiza, que já foi cotada para integrar o ministério de Dilma.

Segundo José Galló, das Lojas Renner, o vice foi cobrado ainda sobre a necessidade da adoção de medidas para destravar a economia.

— Ele se colocou à disposição e voltou a afirmar a importância de os empresários serem protagonistas — relatou Galli, que defendeu o aumento da Cide em substituição à CPMF.

VICE MINIMIZA RISCO DE IMPEACHMENT

Ana Luiza Trajano também perguntou ao vice-presidente sobre a possibilidade de Dilma sofrer impeachment. Segundo empresários presentes, Temer minimizou a movimentação política pela saída da presidente e disse que o país não vive uma crise institucional que ponha em risco o mandato da petista.

Temer atribuiu as dificuldades de Dilma ao grande número de partidos existentes no país e também aconselhou os empresários a procurarem os líderes dos partidos para falar sobre as dificuldades que têm enfrentado “no mundo real”.

O peemedebista adotou o discurso do governo e atribuiu as dificuldades da economia ao cenário internacional. Também se mostrou otimista sobre a recuperação do quadro.

 

Cunha quer votar veto de Dilma sobre doações

 

ISABEL BRAGA, CRISTIANE JUNGBLUT E ANDRÉ DE SOUZA

 

O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), pediu ao presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), que inclua na pauta da sessão do Congresso Nacional da próxima quarta-feira o veto da presidente Dilma Rousseff ao financiamento de empresas a campanhas eleitorais. A estratégia é tentar derrubar o veto de Dilma antes de 2 de outubro — um ano antes das eleições municipais. O veto só chegará ao Senado na segunda-feira. Renan não confirmou a Cunha a inclusão, sinalizou a assessores que não deverá alterar a pauta e tomou outra decisão: não pautará na próxima semana a Proposta de Emenda Constitucional da reforma política.

Além de Cunha e líderes partidários, o próprio relator da reforma política no Senado, Romero Jucá ( PMDB- RR), também pressionará pela votação imediata do veto. Dilma vetou o financiamento privado com base na decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), na semana passada, que considerou a doação empresarial inconstitucional. Câmara e Senado decidiram de forma diversa. Os deputados aprovaram a doação empresarial, o Senado não.

— É normal que a presidente vete, depois da decisão do STF. Mas, do jeito que o sistema ficou, não tem campanha política — disse Jucá.

Cunha reconhece que a derrubada do veto não garante que a doação valerá para as eleições de 2016. Haverá nova ação contra a nova lei e o Supremo poderá manter o entendimento adotado, afetando as eleições municipais. Mas, com o veto, o debate se mantém e reforçará a tese de que o Supremo tem que fazer a modulação da decisão que vedou as doações empresariais (isto é, dizer a partir de quando vai vigorar).

— Pretendemos ver apreciado esse veto na quarta-feira. (Com a derrubada do veto) Será mais difícil o Supremo fazer sem modular, e provavelmente modulará — disse Cunha.

Ontem, o ministro do STF Gilmar Mendes afirmou que proibir doações de empresas a campanhas eleitorais não é suficiente para acabar com a corrupção.

— Há o risco de (existir) o doador laranja, aquele que recebe dinheiro para fazer doação, porque essas campanhas continuam muito caras.