Papa exalta ajuda das mulheres à Igreja

 

O globo, n. 30001, 27//09/2015. Sociedade, p. 35

 

Em sua terceira e última etapa da viagem nos Estados Unidos, o Papa Francisco disse ontem, em uma missa na Filadélfia, que é hora de a Igreja convocar os laicos para suas fileiras e agradeceu a “imensa contribuição” das mulheres religiosas. Segundo o Pontífice, o Vaticano precisa revigorar seus ideais para encarar uma sociedade cada vez mais dinâmica.

TONY GENTILE/REUTERSVoo alto. Veste do Papa sobe com ventania na Filadélfia: homilia na cidade mostra vontade de recuperar fiéis para a Igreja

Suas reivindicações foram ouvidas por cerca de 2.400 pessoas, que lotaram a Basílica de São Pedro e São Paulo. Na homilia, o Pontífice lembrou um diálogo em 1887 entre o Papa Leão XIII e Katherine Drexel, natural da Filadélfia, e depois reconhecida como santa: “E você? O que você vai fazer?”.

Segundo Francisco, a pergunta permanece relevante 128 anos depois, já que foi “endereçada a uma pessoa jovem, uma mulher com ideais, e que mudaram a sua vida”.

— Revigorar a fé é um dos maiores desafios que a Igreja enfrenta esta geração — admitiu. — Isso exige criatividade para adaptação a situações que estamos mudando, levando adiante o legado do passado, mantendo estruturas e instituições que nos serviram bem, mas também sendo abertos a discutir as possibilidades que surgem para nós.

ÊXODO DE FIÉIS

O reconhecimento da importância dos laicos e das mulheres tenta neutralizar o êxodo sofrido pela Igreja americana, onde o número de pessoas que se declaram católicas caiu 20% nas últimas duas décadas. O abandono do catolicismo nos EUA foi motivado principalmente por escândalos financeiros que acometem o Vaticano e pela divulgação de casos de abuso sexual cometidos por sacerdotes no país.

— Gosto de acreditar que a história da Igreja nesta cidade não é de construir muros, e sim derrubá-los — declarou o Papa, na Filadélfia.

Quem passava em frente à basílica, no entanto, não enxergava qualquer crise no Vaticano. Dezenas de fiéis viraram a madrugada nas ruas, esperando o início da missa.

— Queria fazer parte desta celebração da família — disse Luis Ortiz, de 42 anos, que chegou com seus onze filhos, em entrevista à agência de notícias AFP.

— Tudo sobre ele é excelente — exaltou Maria Carmen Serrano, no início da manhã. — Ele reconhece a dignidade de todo mundo. Só quero saber e sentir como é ficar próximo dele.

À tarde, o Papa abordou dois outros temas contemporâneos — a liberdade religiosa e a imigração — em uma missa para aproximadamente 50 mil pessoas, incluindo muitos migrantes e membros da comunidade hispânica no Independence Mall, localizado na região em que foi declarada a Independência dos EUA, em 1776.

A agenda de ontem foi encerrada à noite com uma vigília no Encontro Mundial das Famílias, um evento trianual criado em 1994 por João Paulo II. Cerca de 1,5 milhão de pessoas são esperadas na cidade, onde diversas ruas foram fechadas para tráfego.

Hoje, em seu último dia nos EUA, Francisco participará da missa de encerramento do encontro das famílias. Também está prevista uma reunião com bispos do país e uma visita a um centro correcional para jovens entre 18 e 21 anos. À noite, o Papa volta para Roma.

Em outubro, bispos de todo o mundo vão se encontrar no Vaticano, em uma grande reunião para discutir o papel da família no catolicismo. Uma das maiores polêmicas é como equilibrar a tradição e a doutrina religiosa com as reivindicações de que as mulheres tenham um papel mais ativo na Igreja Católica.