O Estado de São Paulo, n. 44502, 21/08/2015. Economia , p. B1

Desemprego cresce mais rápido que o previsto e chega a 7,5% em julho

Idiana Tomazelli

 

A taxa de desemprego deu um salto em julho,chegando a patamares acima dos previstos por analistas. O índice ficou em 7,5%nas seis principais regiões metropolitanas do País, o maior nível para o mês desde 2009, informou ontem o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em julho de 2014,a desocupação era bem menor, de 4,9%. Nunca houve um avanço anual tão intenso em toda a Pesquisa Mensal de Emprego, iniciada em 2002.

A taxa de desocupação costuma crescer no primeiro trimestre, quando trabalhadores temporários contratados nas festas de fim de ano são dispensados. Após março, a tendência de alta atenua.“Chama a atenção a aceleração da taxa,que não se interrompeu depois do primeiro trimestre. Continuou crescendo”, afirmou Adriana Beringuy, técnica da Coordenação de Trabalho e Rendimento do órgão.

A rapidez da deterioração do mercado de trabalho surpreendeu analistas, que esperavam uma taxa de desemprego de, no máximo,7,3% para o mês. “A taxa de julho mostra o desemprego andando mais rápido do que o nosso pior cenário”, resumiu o economista Marcel Caparoz, da RC Consultores. “É muito rápido”, repetiu ele, que projeta uma taxa de 8% no fim do ano.

Para a economista-chefe da ARX Investimentos, Solange Srour, a crise política é o novo fator que eleva a velocidade das demissões. “Há um processo agudo de elevação das dispensas por parte das empresas e não há perspectiva de melhora da economia até 2016, dado que muitos especialistas avaliam que o PIB (Produto Interno Bruto) também cairá, embora menos do que 2015”, comentou.

Cresce a procura. Além das dispensas, há uma alta intensa na busca por emprego. Ao todo, nas seis regiões pesquisadas (São Paulo, Rio, Belo Horizonte, Salvador, Recife e Porto Alegre), 662 mil pessoas entraram na fila por uma vaga,alta de 56% em relação a julho de 2014, resultado sem precedente na pesquisa. As demissões, por outro lado, somaram 206 mil.

“O que provavelmente está acontecendo é que as pessoas sentem mais necessidade de buscar emprego”, explicou Adriana, do IBGE. A queda na renda tem um peso importante nessa decisão. Em julho ante igual mês de 2014, o rendimento médio dos trabalhadores caiu 2,4%, a sexta retração consecutiva nessa comparação.

Essa necessidade parece bater à porta de um número cada vez maior de pessoas. Na última terça-feira (18), uma feira de emprego causou confusão na zona oeste do Rio de Janeiro. Havia oferta de cerca de dois mil postos, mas mais de 20 mil foram entregar seus currículos parava gas de caixa de supermercado, segurança, auxiliar de escritório.O resultado foram filas enorme se um empurra-empurra na abertura dos portões.

Os brasileiros entre 18 e 24 anos estão à frente dessa multidão. Até o ano passado, eles podiam se dedicar aos estudos, já que a renda do domicílio era suficiente para bancar as despesas. Agora, eles têm retornado ao mercado para ajudar na renda da família. “Os jovens estão exercendo uma pressão bastante acentuada no mercado de trabalho”, disse Adriana.

O rendimento médio dos trabalhadores teve queda de 2,4% em julho na comparação com o mesmo mês do ano passado. Foi a sexta queda seguida nesse tipo de comparação. Segundo o IBGE, uma sequência tão grande não era vista desde os anos de 2003 e 2004, quando a renda encolheu em termos reais por 16 meses consecutivos.

“Essa sequência que vemos agora está fundamentalmente ligada à aceleração da inflação e, em alguns meses, temos percebido queda no rendimento nominal.Mas não foi o caso desta vez”,disse Adriana.Em julho, o rendimento nominal avançou 7,5% ante igual período de 2014

 

Trabalho com carteira no setor privado tem queda


Num claro sinal da piora do emprego, a quantidade de brasileiros com carteira de trabalho assinada no setor privado teve a primeira queda desde 2003, de acordo com a Pesquisa Mensal de Emprego (PME) divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).


Na média de janeiro a julho, 11,494 milhões de trabalhadores das seis principais regiões metropolitanas do País (São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Salvador, Recife e Porto Alegre) estavam no setor privado trabalhando com registro em carteira. No mesmo período do ano passado, eram 11,709 milhões brasileiros nessa condição.


A quantidade de brasileiros formais do setor privado sempre cresceu na média dos sete primeiros meses de cada ano desde o início da série histórica, em 2003. Naquele ano, por exemplo, eram 7,332 milhões.
A perda de fôlego da carteira de trabalho também fica evidente quando se analisa o porcentual de trabalhadores registrados na iniciativa privada em relação ao total da população ocupada nas seis regiões metropolitanas pesquisadas pelo IBGE. Em julho, essa fatia ficou em 49,7% e, pela primeira vez desde junho de 2013, ficou abaixo de 50%. / LUIZ GUILHERME GERBELLI