O Estado de São Paulo, n. 44502, 21/08/2015. Economia , p. B3

Governo pede que empresas alemãs disputem as concessões

 

A presidente Dilma Rousseff aproveitou a visita da chanceler alemã, Angela Merkel, para pedir que empresas germânicas participem do Programa de Investimento em Logística (PIL), anunciado este ano. Para Merkel, o principal interesse seria na área de transmissão de energia e na de portos.

Apesar de haver esse interesse, o vice-ministro de Finanças da Alemanha, Jens Spahn, deu um recado claro: as empresas alemãs só investirão no Brasil se tiverem informações mais claras e seguras sobre cobrança de impostos, retorno de investimentos e, especialmente, questões regulatórias. O alemão conversou com jornalistas após reunião com o ministro da Fazenda, Joaquim Levy. "Queremos que mais empresas alemãs invistam no Brasil, mas, para isso, precisamos de mais estrutura. Para investir, você precisa de segurança. Daí haverá mais interesse
do que hoje", disse.

. Concessões
R$ 198,4 bi é o total de investimentos previstos no PIL, programa anunciado no início de junho e que prevê um total de 150 concessões

Nas linhas de transmissão, que teriam o interesse dos alemães, Dilma disse a Merkel que "um grande leilão seria feito em breve", mas não deu detalhes. Nessa área,já há dois leilões previstos, para setembro e dezembro.

Outra área de interesse dos alemães são os portos, especialmente a administração logística, com foco no porto de Santos, o maior do País. Essa é uma das principais áreas do PIL, anunciado em junho, e que inclui aeroportos, ferrovias e rodovias, numtotalde150concessões e investimento previsto de R$ 198,4 bilhões.

O governo brasileiro gostaria de ver a Alemanha entrar também nos leilões de ferrovias, que compõem a maior parte do programa de concessões, com R$86 bilhões.A Deutsche Bahn é uma das melhores empresas de ferrovias do mundo - mas, por enquanto, não há interesse.

Fontes do governo afirmam que o estado ruim da economia brasileira e a crise política não foram tratados. Antes de
Merkel deixar o Brasil, o porta voz do governo alemão foi questionado se esse era o momento apropriado para a visita. A resposta foi que as" questões internas" do governo brasileiro não definem a agenda de visitas da chanceler e que as relações com o Brasil são "de primeiro nível" e importantes para o país. Do lado brasileiro, a visita foi tratada como demonstração de confiança na economia e nos negócios no País.

No entanto, durante o jantar no Palácio do Alvorada na quarta- feira, ministros alemães questionaram os colegas brasileiros sobre o andamento da economia e as perspectivas de crescimento. A mensagem que se procurou transmitir foi a de que o País passa por processo de ajuste, que abrirá as portas de um novo ciclo de desenvolvimento.

O acordo comercial Mercosul- União Europeia voltou a ser tratado. Nas conversas privadas, Dilma prometeu que o Mercosul conseguirá apresentar sua oferta até o fim do ano - nas negociações,ainda há dificuldades com a Argentina.

Em seu discurso, Merkel disse saber "que o grupo Mercosul é bastante heterogêneo, mas o Brasil assumiu um papel de liderança e a presidente nos disse que até o último semestre vão ser apresentadas as proposta para que possamos iniciar a negociação. Vamos trabalhar para ter também a nossa proposta (da UE)". / L.P., R.M.M. e G.P.