Título: Consumidores lotam as lojas
Autor: Batista, Vera
Fonte: Correio Braziliense, 18/09/2011, Economia, p. 18/19

Muitos foram ontem às concessionárias para aproveitar os estoques de carros que ainda estão livres do aumento do IPI. Preços podem subir até 28%. Dos 40 veículos mais importados, 19 terão os valores reajustados devido à decisão tomada pela Fazenda

Cientes de que serão os maiores prejudicados pela decisão do governo de aumentar em 30 pontos percentuais a alíquota do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) cobradas nos carros importados, os consumidores foram às compras ontem. Motivo: fugir de reajustes de até 28%. Pelas previsões dos empresários, as vendas cresceram em torno de 30% em relação ao sábado passado. Mesmo na concessionárias de veículos de luxo, como Volvo, Suzuki e Land Rover, negociados na faixa de R$ 120 mil, não faltou interessados em aproveitar os estoques livres da sobretaxa. É que, pela futura tabela, serão ofertados por volta de R$ 160 mil ¿ ou seja R$ 40 mil a mais.

Pelas cálculos do mercado, dos 40 automóveis importados vendidos no país, 19 terão os preços majorados por causa da proteção dada as montadoras com fábricas no país e em países do Mercosul (Argentina, Paraguai e Uruguai) e do México, com os quais há acordos comerciais. O fato de o ministro da Fazenda, Guido Mantega ter cedido aos lobbies das empresas causou revolta. "É uma irresponsabilidade do governo reduzir a concorrência, que tem ajudado a derrubar os preços dos carros", disse o economista e advogado Ricardo Costa.

O gerente da concessionária Soma, da Suzuki, Sérgio Segundo, disse que só presenciou movimento semelhante em dezembro de 2008, quando o governo reduziu o IPI para diminuir os impactos da crise mundial no país. Ele informou que a loja tem estoques para 30 dias, mesmo tendo vendido ontem mais do que em todo o restante do mês de setembro. Marcelo Sampaio, responsável pelo departamento comercial da chinesa Chery, também frisou a alta nas vendas. Mas ele ressaltou que o movimento também foi reforçado por clientes pesquisando preços e tentando entender o que acontecerá daqui para frente. Sampaio afirmou que a fabricante está "tranquila". Vai abrir uma fábrica em Jacareí, São Paulo, em área de 1 milhão de metros quadrados, com investimentos de US$ 400 milhões.

Pronto para recorrer à Justiça contra a medida do governo, o presidente da Associação Brasileira das Empresas Importadoras de Veículos Automotores (Abeiva), José Luiz Gandini, assinalou que o setor está fazendo as contas do quanto pode perder por causa da medida que contraria a Constituição do país e a livre concorrência. Na sexta-feira, Gandini se reuniu com as empresas associadas, para analisar o assunto. "Acredito, sinceramente, no bom senso do governo. Creio que o aumento do IPI será revertido. Já mostramos que é inconstitucional. Esperamos que todos acordem", afirmou.

Até que a situação fique decidida, pode faltar produto para o consumidor. Os carros que chegarem no Brasil de agora em diante ficarão guardados em depósito alfandegado (em uma extensão do porto). Neste espaço, o veículo permanece até 60 dias sem pagamento de qualquer imposto. É como se ainda não estivesse em solo brasileiro. "Pode inclusive ser reexportado", explicou Gandini, ao ressaltar que não é isso que os empresário querem. O que precisam é de uma definição clara para que os importadores planejem onde podem cortar para evitar prejuízos.