Título: CNT fora da eleição
Autor: Sabadini, Tatiana
Fonte: Correio Braziliense, 18/09/2011, Mundo, p. 22/23

Rabat ¿ O ministro da Justiça do Conselho Nacional de Transição (CNT) na Líbia, Mohamed Al-Alagi, declarou ontem em Rabat que nenhum dos membros do governo interino concorrerá nas primeiras eleições a serem realizadas no país após a queda do ditador Muamar Kadafi, previstas para daqui a oito meses. Al-Alagi foi um dos convidados do fórum promovido pelo governo marroquino para discutir as mudanças constitucionais nas nações que vivem a Primavera Árabe. Mas enquanto participantes da Tunísia, do Egito, da Jordânia e do próprio país anfitrião dividiam experiências sobre as alterações em suas cartas magnas, Al-Alagi ponderou que a Líbia precisará começar do zero: não há documentos a serem mudados, mas leis que nunca existiram e precisam ser criadas.

O dirigente do novo governo enfatizou que a decisão de não participar do primeiro sufrágio da Líbia sem Kadafi tem o objetivo de demonstrar a credibilidade daqueles que tomaram o poder. "Na Líbia, há muitas pessoas qualificadas para comandar o país", afirmou ele em conversa com jornalistas na capital marroquina. "Os rebeldes são revolucionários que não aspiram ao poder."

O governo interino, formado por 33 ministros que ainda estão sendo escolhidos, apresentou um projeto de Constituição, segundo ele, inspirado em cartas "avançadas" de vários países e pretende ser uma ferramenta para modernizar a Líbia. Uma conferência geral será marcada para estabelecer o processo eleitoral.

Cemitérios secretos Em sua apresentação para o fórum, Al-Alagi revelou que resquícios da violência do regime Kadafi começam a ser identificados, agora que os rebeldes tomaram Trípoli. Os cemitérios secretos encontrados na capital são uma evidência das atrocidades de Kadafi. Eles já somam oito espalhados pela cidade. "Estamos desenterrando muita gente. Kadafi era um assassino", disse.

Ele comparou os regimes da região e disse que os da Tunísia e do Egito ainda foram um pouco respeitosos com os direitos humanos, ao contrário do ditador Kadafi, que, para o ministro, foi o mais duro do mundo: "Perdemos 42 anos de nossas vidas".