Título: O mundo quer o fim do conflito
Autor: Sabadini, Tatiana
Fonte: Correio Braziliense, 18/09/2011, Mundo, p. 22/23

ENTREVISTA - IBRAHIM AL-ZEBEN »

Para o embaixador da Autoridade Palestina no Brasil, Ibrahim Al-Zeben, depois de seis décadas de espera pela independência, e com o processo de paz com Israel estagnado, a hora de agir é agora. Ele admite que os palestinos sofrem pressão dos Estados Unidos e de Israel, mas afirma que o reconhecimento da soberania palestina pela Organização das Nações Unidas (ONU) é real e tem apoio de grande parte da comunidade internacional. Israel, em contrapartida, estaria caminhando para o isolamento. Em conversa com o Correio, o diplomata defendeu essa manobra como a única saída para acelerar o fim do conflito. E declarou que o mundo já está cansado da disputa territorial no Oriente Médio: "Este é o momento ideal para buscar a paz".

Qual a expectativa dos palestinos sobre o reconhecimento da soberania na ONU? Nós estamos indo com toda a determinação e com toda a esperança de que a Palestina seja admitida com o Estado nº 194 da ONU. Sem dúvida, enfrentamos dificuldades, primeiro em relação à posição israelense, afinal um ocupante não abandona sua colônia tão facilmente. E também incomodados com a posição dos Estados Unidos, que não estão à altura de sua responsabilidade como superpotência. O mundo espera dos EUA uma posição mais equilibrada, mais condizente com seu papel. Estamos com essas duas situações, mas com muita determinação baseada no direito internacional. E esperamos que tanto Israel quanto os EUA repensem sua atitude nesses próximos dias.

E as ameaças de corte na ajuda para Palestina? Isso preocupa? Sim, claro, nos preocupa muito e nos prejudica também. Nós vivemos há dois meses uma crise financeira e não apenas pelo fator mundial, mas pelas pressões dos EUA e pelas medidas de Israel. Preocupa, mas faz parte da luta. Nenhum processo de independência veio fácil. Se o acordo de Oslo não servir mais, vamos procurar outro acordo melhor e mais adequado ao momento. Mas a paz tem de ser negociada por Israel. Entendemos que, quando falamos da admissão da Palestina como Estado, é um tema. A negociação com Israel é outro tema. São caminhos paralelos.

A causa palestina tem um grande apoio na região e no resto do mundo. Isso é fundamental para as negociações? Todos estão apoiando uma causa justa, porque querem ver o fim deste conflito. Não devemos esperar mais duas gerações para isso. Esse apoio é um ato de repúdio à ocupação e às práticas israelenses. A Turquia era o maior aliado de Israel, mas essas práticas estão ganhando inimigos. Existem 57 países dispostos imediatamente, a partir de hoje, se Israel reconhecer o Estado palestino, a estabelecer relações diplomáticas. Israel está ganhando cada vez mais adversários, e isso a gente não quer mais ver. Não queremos mais ver bloqueios contra Gaza, ocupação, construção de muros e fanatismo dos dois lados. Chega.

A Palestina pode ter poder maior de barganha com o reconhecimento? Não será um motivo para sermos arrogantes. Nosso povo é um povo modesto, pacífico, que cedeu como nenhum outro na história. Nós cedemos 78% do nosso território em troca da paz, para construir uma vida normal entre Palestina e Israel. Sem dúvida, o reconhecimento vai ser um passo adiante, que permitirá melhores condições de negociação. Mas em nenhum momento será um passo contra Israel, e sim contra a ocupação, contra as injustiças, contra seis décadas de negarmos o direito à existência. Não queremos mais esse Israel e essa Palestina de agora. Queremos o renascimento do novo Israel, bom vizinho, e da Palestina pacificada.

Os israelenses dizem que sempre estiveram abertos para a negociação, mas os palestinos não estariam dispostos ao diálogo. É verdade? Quem foi que se negou a parar a colonização? Quem negou a solicitação da comunidade intenacional? Não pode haver colonização e negociação, porque ela compromete o meu território. Se vamos negociar, vamos negociar com bases sólidas e claras, que fazem parte do direito internacional. E Israel deve reconhecer as fronteiras de 1967 como base para a criação do Estado da Palestina. É Israel que não quer negociar. A negociação pode começar hoje, se eles reconhecerem essas fronteiras e paralisarem a colonização do território palestino. Eles podem construir o que quiserem dentro do seu território, o que é reconhecido pela ONU. Essa é a base da paz entre Israel e Palestina.