Prazos encolhem e juros avançam no crédito em julho

Felipe Marques 

27/08/2015

Os bancos começaram o segundo semestre dando um claro sinal de que a piora nas condições de tomada de crédito está longe do fim. Dados de julho divulgados pelo Banco Central (BC) mostram que as instituições financeiras aceleraram a elevação de taxas de juros ao mesmo tempo em que reduziram os prazos das operações. O movimento evidencia uma postura ainda mais seletiva na concessão de financiamentos, em vista da continuidade do aumento da inadimplência.

Outro alerta que se depreende dos números de julho é uma piora na composição do mix de crescimento. Dentre as modalidades que ganharam tração no mês estiveram linhas de maior risco, como as renegociações de crédito e o rotativo do cartão na pessoa física, e o cheque especial corporativo. Tais operações tendem a ter um índice de calotes mais elevado, o que põe pressão sobre os balanços das instituições financeiras.

"Os dados de crédito de julho evidenciaram uma deterioração nas condições de crédito, resultado de um aumento das taxas de inadimplência, da composição menos benigna do portfólio de crédito com recursos livres para indivíduos e do aumento generalizado de taxas de juros e de spreads", escrevem os analistas do Credit Suisse em relatório.

No acumulado em 12 meses encerrado em julho, o estoque de financiamentos do país cresce 9,9%, para R$ 3,11 trilhões. No mês anterior, esse avanço estava em 9,8%.

Se o crédito parou de perder fôlego, o avanço dos juros ficou mais rápido em julho. A taxa média das operações de crédito encerrou o mês em 28,4% ao ano, com aumento de 0,8 ponto percentual em relação a junho. No mês anterior, o incremento em taxas de juros havia sido de 0,5 ponto percentual.

Destaque para o crescimento do já altíssimo juro do rotativo do cartão, que chegou a 395,3% ao ano em julho, com avanço de 23,2 pontos percentuais ante o mês imediatamente anterior. O valor é recorde da série histórica do BC. Os juros do cheque especial também subiram

Outro indicador da percepção dos bancos de maior risco foi a redução do prazo das operações de crédito, que recuou em julho em velocidade superior à vista no mês anterior. O prazo médio das operações liberadas foi de 111,9 meses, ante 115,2 meses em junho, uma queda de 3,3% nessa base de comparação. No mês anterior, o recuo nos prazos tinha sido equivalente a 2,3%.

Embora tenha ficado significativamente mais caro, o rotativo do cartão foi uma das linhas que mais cresceram no segmento de pessoa física. O estoque dessas operações subiu 0,5% ante junho e acumula alta de 12,3% em 12 meses, somando R$ 32 bilhões. Outra linha que puxou o avanço geral do crédito foram as operações renegociadas, que tiveram incremento de 1,6% ante junho e acumulam em 12 meses alta de 9%, a R$ 24 bilhões.

Nas contas da Rosenberg Consultores Associados, a taxa real de crescimento do crédito em 12 meses até julho foi de 0,5% - o menor percentual de expansão desde fevereiro de 2004. A consultoria faz uma ressalva importante sobre essa comparação, ponderando que o fraco crescimento real do crédito tem hoje um efeito muito maior do que naquela época. Isso porque, em 2004, o crédito não passava de 25% do Produto Interno Bruto (PIB). Hoje, essa participação está em 54,5%.

"O desmoronamento do crédito tem, portanto, um efeito muito maior que o já visto em qualquer período da história brasileira", escreve a economista-chefe da consultoria, Thaís Zara. "Como um dos principais canais de transmissão da política monetária, o mercado de crédito já dá sinais contundentes de esgarçamento."

Valor econômico, v. 16, n. 3829, 27/08/2015. Finanças, p. C1