Correio braziliense, n. 19075, 17/08/2015. Política, p. 5

Cresce expectativa quanto a denúncias contra Cunha e Collor

 
A Procuradoria-Geral da República (PGR) deve apresentar, nos próximos dias, as denúncias contra o senador e ex-presidente da República Fernando Collor de Melo (PTB-AL) e o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Nos bastidores, circula a informação de que os procedimentos já estão prontos. Os dois devem ser enquadrados por corrupção e lavagem de dinheiro. O peemedebista foi acusado pelo executivo da Toyo Setal Júlio Camargo, um dos delatores do esquema que apura desvios da Petrobras no âmbito da Operação Lava-Jato, de receber US$ 5 milhões de propina para viabilizar contratos de aluguel de navios-sonda da Samsung com a estatal. Cunha nega a acusação.

O delator ressaltou que o suborno, referente a dois contratos que somavam R$ 1,2 bilhão, assinados entre 2006 e 2007, foi pago por intermédio de Fernando “Baiano” Soares — apontado como um dos operadores do PMDB no esquema — e que o doleiro Alberto Youssef participou da transação. O valor total devido em propina pelo executivo era US$ 10 milhões. Uma parte era destinada para Baiano e a outra, para Cunha. Júlio Camargo apresentou planilhas para provar os repasses feitos em contas do exterior e também pagos diretamente às empresas de Baiano.

No depoimento, Camargo ofereceu muitos detalhes das conversas. Disse que se reuniu pessoalmente com Cunha, num domingo à tarde, em um edifício comercial no bairro do Leblon, no Rio de Janeiro. O presidente da Câmara, de acordo com o delator, afirmou que o pagamento estava atrasado e que ele tinha compromissos. “Tivemos um encontro, o deputado Eduardo Cunha, Fernando Soares e eu. Eu fui bastante apreensivo. O deputado Eduardo Cunha é conhecido como uma pessoa agressiva, mas confesso que comigo foi extremamente amistoso, dizendo que ele não tinha nada pessoal contra mim, mas que havia um débito meu com o Fernando Baiano, do qual ele era merecedor de US$ 5 milhões”, ressaltou.

Carros de luxo

Já o ex-presidente da República é apontado como recebedor de R$ 26 milhões em suborno, entre 2010 e 2014. O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, enviou manifestação ao Supremo Tribunal Federal (STF) para que os carros de luxo de Fernando Collor, apreendidos na Operação Lava-Jato, não sejam devolvidos ao parlamentar. No documento, o procurador-geral narra que os veículos são possivelmente produto de crime.

Entre 2011 e 2013, Collor teria recebido cerca de R$ 800 mil em depósitos “fracionados”, o que levantou suspeita do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf). O relatório das investigações, enviado ao STF, menciona ainda pagamentos de altos valores em espécie para o parlamentar, como depósito de R$ 249 mil feito pela TV Gazeta da Alagoas, da qual o senador é sócio. Collor nega as acusações.

Em resposta ao pedido para anular provas colhidas contra Eduardo Cunha, Janot afirmou, em documento enviado ao STF, que a Câmara atuou em interesse particular do parlamentar. Conforme a Procuradoria-Geral da República, há conflito de interesse entre o público e o privado. “O inquérito em epígrafe investiga criminalmente a pessoa de Eduardo Cunha, que tem plenitude de meios para assegurar sua defesa em juízo e, como seria de se esperar, está representado por advogado de escolha”, escreveu Janot na peça remetida ao Supremo. Apesar disso, o deputado “solicitou a intervenção da advocacia pública em seu favor, sob o parco disfarce do discurso da defesa de prerrogativa institucional”, complementou.