Título: Solidez sob dúvidas
Autor: Martins, Victor
Fonte: Correio Braziliense, 18/09/2011, Economia, p. 12

O discurso do Banco Central de exaltação do sistema bancário no Brasil tem esbarrado em instituições de pequeno porte que insistem em quebrar ou apresentar problemas graves. Matone, Schahin, Morada e Oboé foram os últimos da lista - apesar de não terem capacidade de um PanAmericano para causar danos em cadeia, chegaram perto de prejuízos elevados. Após a financeira de Silvio Santos quase se tornar o estopim de uma crise no país, o BC colocou lupa sobre as instituições e, nas palavras de seu diretor Anthero Meirelles, a fiscalização ficou mais "intrusiva" e "investigativa".

Especialistas alertam, porém, que depois do caso PanAmericano e das medidas macroprudenciais adotadas pelo BC em dezembro de 2010 para reduzir o risco das operações em financiamentos superiores a 36 meses, o sistema se fortaleceu por um lado e se fragilizou por outro. Ao mesmo tempo em que cresceu a segurança nas operações de crédito - uma vez que as instituições tiveram de aumentar seus colchões de proteção -, o custo de captação para os bancos pequenos se elevou.

Socorro

Sem conseguir equilibrar as contas, alguns bancos sofreram intervenção do Banco Central e só não foram extintos graças ao socorro do Fundo Garantidor de Crédito (FGC), mecanismo que, criado para garantir os depósitos feitos nessas instituições, está, de fato, é emprestando dinheiro para acionistas e agentes do sistema financeiro reerguerem seus negócios. "O FGC está assumindo riscos para eliminar riscos do mercado", disse João Augusto Salles, economista da consultoria Lopes Filho. "No fim, quem paga a conta disso é a consumidor. Todos esses recursos vêm da captação e os bancos, para não perder dinheiro, colocam esse custo nas taxas das operações", argumentou.

Luis Miguel Santacreu, analista da Austin Rating, especializada em classificação de risco, pondera que a despeito dos casos recentes de problemas em instituições pequenas, o sistema bancário brasileiro é bastante sólido se comparado ao europeu. "São bancos capitalizados, rentáveis, com inadimplência controlada e que têm balanços fidedignos. Não há nada que possa amedrontar os depositantes. Tirando esses bancos que estavam desenquadrados e que já passaram por intervenção, o sistema é sólido", afirmou. (VM)