O globo, n.30.010, 06/10/2015. Economia, p.4
“Eduardo Cunha foi presidente da Telerj, nós o tiramos de lá no tempo de Itamar porque ele tinha trapalhadas” Fernando Henrique Cardoso
Ex-presidente da República
Em novo livro sobre o dia a dia no poder, o ex-presidente FH diz que recusou a indicação de Eduardo Cunha para diretor comercial da Petrobras. -SÃO PAULO E RIO- Trechos do livro “Diários da Presidência”, escrito pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e divulgados ontem pela revista “Piauí”, contam que ele recusou a indicação feita pelo então deputado federal Francisco Dornelles, a pedido da bancada fluminense, para que Eduardo Cunha (PMDB), na época deputado federal e hoje presidente da Câmara dos Deputados, fosse nomeado diretor comercial da Petrobras.
“Eles (deputados) querem nomear o Eduardo Cunha diretor comercial da Petrobras! Imagina! O Eduardo Cunha foi presidente da Telerj, nós o tiramos de lá no tempo de Itamar (Franco) porque ele tinha trapalhadas, ele veio da época do Collor. Enfim, não cedemos à nomeação”, relata.
COTIDIANO DO PODER
Fernando Henrique fez os registros da própria voz com um gravador sobre o cotidiano do poder entre 1995 e 2002. Parte desse material compõe o primeiro volume do livro, que será lançado no próximo dia 29. A obra terá quatro volumes. Os trechos publicados se referem ao período de novembro de 1995 a abril de 1996.
Na narrativa, Fernando Henrique fala ainda sobre as negociações para incluir o extinto PPB ( atual PP) de Francisco Dornelles no governo. “Parece que o PPB não aceita o Ministério da Reforma Agrária sem o Incra. Luiz Carlos (Santos, líder do governo na Câmara) sugeriu que ampliássemos a oferta e incluíssemos o Ministério da Indústria, do Comércio e do Turismo. Isso para mim é dolorido, por causa da Dorothea (Werneck, ministra), que é uma ministra de quem eu gosto, e ela tinha que ser avisada dessa manobra”, relata o ex-presidente, que conclui: “Enfim, começo a sentir o travo amargo do poder, no seu aspecto mais podre de toma lá, dá cá”.
Em seu relato, Fernando Henrique admitiu que, se não cedesse o ministério, não teria apoio no Congresso.
No Twitter, Cunha disse ontem que, se houve algum pedido para que assumisse a diretoria da Petrobras, no governo de FH, ele não tomou “conhecimento”.
Cunha afirmou que se lembra só de um movimento de deputados para que assumisse a Telerj. E diz que “não queria trabalhar para o governo”.
Atual vice- governador do Rio, Dornelles afirmou que FH está equivocado, mas que afiança o nome de Cunha para cargos da administração pública, mas não da Petrobras:
— Não estou desmentindo o ex-presidente Fernando Henrique, que, na minha opinião, foi o melhor presidente do Brasil. Estou fazendo uma correção. Não indiquei o deputado Cunha para a Petrobras porque não tenho qualquer relação com a empresa — disse. — Indicaria o deputado para qualquer cargo da administração pública.