O globo, n.30.009, 05/10/2015. Economia, p.18

Pobreza extrema deve afetar 9,6% da população mundial em 2015

 

Projeção fica abaixo de 10% pela primeira vez. São 702 milhões de pessoas

-WASHINGTON- Até o fim deste ano, o número de pessoas que vivem em pobreza extrema deve cair para 9,6% da população global, segundo projeção divulgada ontem pelo Banco Mundial. Em 2012, essa fatia era de 12,8%. É a primeira vez que o percentual diminui para menos de 10%, desde que o organismo começou a compilar os dados, em 1990. Ainda assim, 2015 chegará ao fim com 702 milhões de pessoas vivendo com menos de US$ 1,90 por dia — critério usado pelo organismo para definir o grupo de extremamente pobres. O desafio, afirma a entidade, é erradicar completamente a pobreza até 2030, em meio ao ritmo lento da economia global.

ANDRÉ COELHO/19/02/2013Desafio. Crianças em Brasília: mundo ainda tem mais de 700 milhões de pessoas vivendo abaixo da linha da pobreza

A maior preocupação do Banco Mundial é com a concentração da pobreza em áreas mais vulneráveis. Na África Subsaariana, a parcela da população abaixo da linha de pobreza deve fechar o ano em 35,2%. O percentual é menor que o registrado em 2012 (42,6%), mas continua sendo o maior entre as seis regiões pesquisadas. No relatório, o Banco Mundial recomendou que, para atacar esse problema, o ideal é que as políticas de redução de pobreza sejam direcionadas “aos mais pobres entre os pobres”, referindo-se à região africana.

Os dados contrastam com os números da Europa e do Centro da Ásia, onde a pobreza extrema cairá de 2,5% para apenas 1,7% da população até o fim do ano. Na América Latina e no Caribe, a fatia também ficará abaixo da média mundial, em 5,6%, ante estimativa anterior de 6,2%. Já no grupo das nações em desenvolvimento, independentemente da região geográfica, o nível de pobreza segue em dois dígitos, recuando de 15% para 11,9%.

Em comunicado, o presidente do Banco Mundial, Jim Yong Kim, afirmou que baixar o nível de pobreza extrema para só um dígito mostra que alcançar essa meta é possível. No entanto, destacou que os ecos da crise de 2008 são entraves: “Será extremamente difícil (reduzir a pobreza), especialmente em um período de crescimento global mais lento, mercados financeiros voláteis, conflitos, alto desemprego entre jovens e crescente impacto das mudanças climáticas”.

O economista-chefe do Banco Mundial, Kaushik Basu, também destaca o impacto da desaceleração global, principalmente entre os mercados emergentes, como o Brasil. “Há alguma turbulência à frente. A perspectiva de crescimento econômico é menos impressionante para economias emergentes no futuro próximo, o que vai criar novos desafios na luta contra a pobreza ”, afirmou, em nota.

EMERGENTES SÃO RISCO

Além de frear a redução da pobreza no mundo, a perda de fôlego entre emergentes pode contaminar a tímida recuperação da economia global, segundo análise do Instituto Brookings e do “Financial Times”. O relatório alerta que o ritmo mais fraco nesses mercados pode “levar a economia global ao atoleiro”.

O estudo foi divulgado pelo jornal britânico às vésperas da reunião anual do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial, em Lima, no Peru, que começa na sexta-feira.

A projeção é mais pessimista que a que deve ser divulgada pelo FMI, afirma o “FT”. O diário aposta que o organismo deve prever uma transformação da economia chinesa — a segunda maior do mundo — para aumentar o consumo e os serviços. Já o estudo do Brookings espera uma piora do cenário, diante do aumento da importância dos emergentes para a economia global.