Eleição antecipada é tema fora de pauta, diz Alckmin

Marina Falcão 

11/08/2015

O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), disse que a antecipação das eleições não está em discussão dentro do PSDB, pois depende da impugnação da chapa eleita pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O tucano também descartou o apoio neste momento do partido ao impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT). "A questão não está colocada neste momento no Congresso. Precisamos investigar, investigar e investigar e cumprir a Constituição", disse, após homenagem ontem no Recife ao governador Eduardo Campos, falecido há um ano.

Os dois temas dividem o PSDB. A realização de novas eleições agora frustraria os planos de Alckmin de ser candidato à presidência em 2018, já que o candidato natural do PSDB no momento seria o senador Aécio Neves, presidente da legenda.

Também no Recife, Aécio disse que não cabe ao PSDB escolher qual o melhor desfecho para a crise pela qual passa o Brasil, porque as alternativas colocadas não dependem do partido. Ele afirmou a jornalistas que "pessoalmente" tem vontade de participar das manifestações pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT) no domingo, mas que tem ciência da sua responsabilidade institucional como presidente do PSDB. "Estou consultando os demais dirigentes do partido para tomar uma posição essa semana".

Para Alckmin, o Brasil passa por um problema conjuntural, de falta de credibilidade, e outro estrutural, de limitação de crescimento. "O Brasil ficou caro antes de ficar rico", disse, destacando a importância das reformas política, tributária e administrativa.

O governador paulista afirmou que os problemas pelos quais passa o país são de responsabilidade do governo e não da oposição, mas defendeu que o país precisa funcionar enquanto as instituições apuram. "A tarefa hoje é preservar e gerar emprego".

Alckmin disse que é preciso "passar a limpo a roubalheira" e colocar o Brasil no rumo para crescer. "Não é possível ter 2% de PIB negativo". Parafraseando Campos, afirmou que "não se pode ter intimidade com a crise", ou seja, é preciso tomar medidas rápidas para não se acostumar com ela.

Durante seu discurso em homenagem a Campos, Alckmin, acompanhado de seu vice, Márcio França (PSB-SP), disse que o Brasil "precisa muito do PSB". Afirmou que Campos "era um homem da esperança, não do agouro e do apocalipse".

Segundo Aécio, o governo cria as maiores dificuldades porque até hoje não teve a capacidade "de fazer a mea culpa" e insiste na terceirização de responsabilidades. "Caberá ao governo e não à oposição superar a crise que ele mesmo criou". O senador afirmou ainda que o PSDB terá a "coragem necessária para apontar equívocos, com responsabilidade para compreender que existe um Brasil para sobreviver a essa aguda crise na qual o PT nos mergulhou".

Em fala comedida no palanque de homenagem a Campos, Aécio ressaltou a falta que faz hoje o ex-governador em um momento de crise. Se vivo estivesse, Campos seria palavra de cobrança e denúncia, mas de absoluta responsabilidade com o país, disse. "Governos são circunstanciais, efêmeros, passageiros, com maior ou menor tempo eles se vão, mas o Brasil não, está aí para ser construído".

Aécio deve apresentar nova candidatura presidencial

Marcos de Moura e Souza 

11/08/2015

 

O senador Aécio Neves (PSDB-MG) está disposto a se apresentar novamente como candidato a presidente da República caso a tese defendida por tucanos de eleições antecipadas venha a se concretizar. A afirmação é do deputado federal Marcus Pestana (PSDB-MG), um dos parlamentares mais próximos de Aécio na Câmara.

"Temos dois candidatos posicionados. Aécio e Geraldo", disse ele ontem ao Valor, se referindo ao governador de São Paulo, Geraldo Alckmin. O momento, acrescenta ele, é dos dois e não mais do senador José Serra (PSDB-SP).

Pestana defende que a ideia apresentada por líderes tucanos na semana passada de antecipar as eleições a presidente seria uma forma de lidar com a crise política e econômica de uma forma mais fácil e rápida. Pelo roteiro imaginado por um ala do partido, a presidente Dilma Rousseff (PT) e o vice-presidente, Michel Temer (PMDB), reconhecendo a gravidade da crise, negociariam com o Congresso uma saída constitucional para antecipar as eleições.

"Essa alternativa casa com a motivação de Aécio e é inegável que o favorece", disse Pestana. "Mas não é porque o favorece que nós construímos essa tese." Aécio perdeu por uma margem estreita de votos a eleição de 2014 para Dilma.

Pestana avalia que uma nova eleição tenderia a anular a crítica liderada pelo PT e pelo governo de que o PSDB ao tratar do tema está abraçando um a ideia de um golpe. Uma vez que todos os partidos disputariam essa nova rodada das urnas, incluindo o PT, esse ataque perderia sentido, diz Pestana.

O assunto foi tratado num encontro recente em Brasília no qual participaram Aécio, Serra, líderes do PMDB e o senador Renan Calheiros, presidente do Congresso.

Tucanos também vêm outra saída: uma eventual decisão do Tribunal Superior Eleitoral de que o mandato de Dilma deve ser encurtado em função de um processo de abuso de poder econômico. Mas esse seria, acredita o deputado, um caminho mais demorado, que passaria certamente por longas e desgastantes disputas. O vice assumiria a cadeira de Dilma, mas no berço mineiro do PSDB a aposta é que, sem a legitimidade do voto, Temer teria chances reduzidas de equacionar a crise.

A "transição coordenada", como diz Pestana, seria menos traumática e menos difícil. De olho nessa tese, tucanos já se ocupam de previsões: além de um nome do PSDB, diz Pestana, e talvez de Lula (PT), o cardápio teria um conservador, como Ronaldo Caiado (DEM-TO), e um outsider como Marina Silva, Joaquim Barbosa ou o juiz Sérgio Moro. O PMDB insinua o nome do prefeito do Rio, Eduardo Paes. "Agora é esperar. A oposição tem pouco a fazer".

Valor econômico, v. 16, n. 3817, 11/08/2015. Política, p. A8