Japão religa reator 4 anos após desastre de Fukushima

Aaron Sheldrick e Issei Kato 

11/08/2015

O Japão vai ligar hoje um reator nuclear pela primeira vez em quase dois anos, numa iniciativa do primeiro-ministro Shinzo Abe para tranquilizar a população de que padrões mais rígidos implementados desde o desastre de Fukushima, em 2011, tornaram a energia nuclear mais segura.

Abe e grande parte do setor industrial japonês querem o religamento de usinas nucleares para reduzir os custos com combustíveis, mas pesquisas de opinião mostram que a maioria da população japonesa é contra a medida depois da crise nuclear desencadeada pelo terremoto seguido de tsunami em março em 2011.

No pior desastre nuclear desde Chernobyl, 25 anos antes, o derretimento dos reatores da usina de Fukushima Daiichi lançou material radiativo na atmosfera e forçou 160 mil pessoas a abandonar suas casas, muitas para nunca mais retornar.

A crise petrificou o mundo, enquanto o governo e a operadora de Fukushima, a Tokyo Electric Power (Tepco), se atrapalharam na resposta ao desastre e levaram dois meses para confirmar que os reatores haviam derretido.

A usina de Sendai, na costa oeste da ilha de Kyushu, é o reator nuclear japonês que se encontra mais distante de Tóquio, onde manifestantes estão se reunindo regularmente diante da residência oficial de Abe em protestos contra a energia nuclear. Localizada a quase mil quilômetros da capital, Sendai está mais próxima de Xangai e Seul.

Um religamento bem-sucedido representaria o ápice de um processo em que os reatores japoneses tiveram que ser relicenciados, reequipados e checados sob os padrões mais rígidos implementados após o desastre de Fukushima.

Em 2012, dois reatores foram religados por um ciclo de abastecimento, mas o setor inteiro estava fechado desde setembro de 2013, forçando o Japão a importar quantidades recorde do caro gás natural liquefeito (GNL).

Além de reduzir os custos com energia, mostrar que é possível reiniciar o setor com segurança é algo crucial para os planos de Abe de exportar tecnologia nuclear, disse ontem Malcolm Grimston, pesquisador sênior do Imperial College em Londres. "O Japão também precisa se reabilitar com o resto da indústria nuclear mundial", disse.

Na usina de Sendai, a Kyushu Electric espera poder fornecer energia em poucos dias, se tudo correr de acordo com o planejado. Ela pretende colocar em operação a unidade nº 2 em outubro.

O presidente da agência reguladora do setor de energia nuclear do Japão disse que o novo regime de segurança significa que um desastre como o de Fukushima não se repetirá, mas os manifestantes que se encontram do lado de fora da usina de Sendai não estão convencidos disso.

"Dependendo da direção do vento, você terá que mudar a evacuação. O plano de evacuação que eles estão apresentando não faz sentido", disse Shouhei Nomura, um ex-trabalhador de uma fábrica de equipamentos para usinas nucleares de 79 anos, que hoje é contra a energia atômica e está vivendo em um acampamento de manifestantes erguido perto da usina.

Dos 25 reatores das 15 usinas nucleares japonesas para as quais as operadoras solicitaram permissão de religamento, só cinco, em três usinas, receberam aprovação.

Valor econômico, v. 16, n. 3817, 11/08/2015. Internacional, p. A9