PT faz guarda simbólica do Instituto Lula

RICARDO GALHARDO

 

Enquanto milhares de pessoas vão à Avenida Paulista pedir o impeachment da presidente Dilma Rousseff, um grupo de aliados do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai participar de um ato político na porta do Instituto Lula, no Ipiranga, zona sul de São Paulo, no início da tarde de hoje. O ex-presidente não deve comparecer ao evento, segundo a assessoria do instituto. 

O ato tem três objetivos. O primeiro deles é proteger o local onde ocorreu um ataque a bomba em 30 de julho. O segundo é prestar solidariedade ao ex-presidente, fragilizado pelas denúncias de desvios na Petrobrás durante seu governo. Já o terceiro é defender Dilma contra a ameaça de impeachment.

Na sexta-feira os policiais federais responsáveis pela Operação Lava Jato incluíram em um relatório encaminhado ao juiz Sérgio Moro uma conversa entre Lula e o Alexandrino Alencar, da empreiteira Odebrecht, preso na carceragem da Polícia Federal em Curitiba. No telefonema, realizado dia 15 de junho, Lula se diz preocupado com “assuntos do BNDES”.

Embora a conversa não tenha elementos que incriminem ou lancem suspeitas sobre o ex-presidente, conforme o próprio Moro assinalou em um despacho, a simples menção de Lula deixou seus aliados em alerta. Eles temem que os investigadores tentem “arrastar Lula para o centro das denúncias com o objetivo de enfraquecê-lo politicamente”, segundo um dirigente petista. 

Preocupação. A menção a Lula na Lava Jato causa mais preocupação do que os protestos em si. Monitoramento das redes sociais feito pelo PT aponta a tendência de que as manifestações de hoje sejam menores do que as do dia 12 de abril que, por sua vez, atraíram menos gente do que as do dia 15 de março. 

“Alguns setores que foram às ruas talvez tivessem uma ideia imediatista sobre as manifestações. Como não houve efeito imediato isso deve desestimular muita gente. Acho difícil que este protesto seja igual aos outros”, disse o deputado estadual José Américo Dias, secretário de Comunicação do PT. 

Outro motivo de preocupação no entorno de Lula são as declarações feitas pelo presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Vagner Freitas, na quinta-feira, durante encontro de Dilma com movimentos sociais. Na ocasião Vagner falou em “usar armas” e se “entrincheirar” contra as ameaças de impeachment. 

Embora o sindicalista tenha dito, depois, que as palavras tinham sentido figurado, o discursos foi considerado “desastrado” por dirigentes do PT. Eles temem que as declarações de Freitas sejam exploradas pela oposição e incentivem novas ações violentas como a bomba lançada em julho.

 

Passe Livre: Movimento que deu início aos atos se recolhe

Militante do MPL afirma que protestos atuais refletem junho de 2013, ‘para o bem e para o mal’

 

Embora esteja ausente das ruas hoje, o Movimento Passe Livre (MPL), grupo que deu início aos protestos que surpreenderam o País em junho de 2013 e abriram caminho para as manifestações contra a presidente Dilma Rousseff e o PT, tem plena consciência de sua importância na sucessão de fatos que levaram ao turbulento cenário político atual. 

“Junho de 2013 mostrou que organizar a população é possível. Estas manifestações de agora são reflexo disso”, disse a historiadora Carol Oliveira, militante do MPL escalada para conversar com a reportagem na sexta-feira à noite. “Na política o legado de junho de 2013 é tudo isso que está surgindo agora. Para o bem e para o mal.”

Indagada sobre o crescimento dos movimentos conservadores tanto nas ruas quanto no meio político, a historiadora diz sentir “vergonha alheia”, mas isenta o MPL de responsabilidade. “O conservadorismo nunca deixou de existir. A diferença é que agora ele se manifesta de maneira espetaculosa, com danças e coreografias. Mas não nos sentimos responsáveis, até porque não fomos os únicos autores daquilo que aconteceu em 2013. O mérito é de todo mundo que foi para a rua com a gente e de toda a exposição midiática. Aquilo não estava na nossa mão desde o primeiro dia”, afirmou. 

Foco. O movimento, que sempre fez questão de ressaltar seu caráter apartidário e independente de qualquer governo, trata a crise política e econômica de forma lateral e, apesar de toda exposição conquistada em 2013, mantém-se focado na defesa da melhoria do transporte público – motivo de existência do coletivo há mais de 10 anos, principalmente na periferia de São Paulo. “Nossa luta não passa pela Avenida Paulista. Não é que não se discuta o impeachment na periferia, mas nossa maior preocupação hoje é com as licitações e a operação dos ônibus.”

Segundo Carol, o MPL ainda não se debruçou nem sequer sobre os efeitos do ajuste fiscal promovido pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, ou a Agenda Brasil proposta pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). “Essas coisas aconteceram faz pouco tempo, ainda não deu tempo”, tentou justificar, embora o pacote fiscal seja tema de debates desde o início do ano. 

De acordo com ela, apesar da postura discreta nos últimos anos, o MPL teve um aumento de 30% no número de militantes ativos desde as jornadas de junho de 2013.