Fábio Vasconcellos
O globo, n. 29997, 23//09/2015. Opinião, p. 21
Visto pelo lado do custo, o modelo de campanha adotado não apenas no Brasil, diga- se, joga sobre os partidos a pesada tarefa de mobilizar uma infinidade de recursos financeiros para adequar a sua mensagem à gramática audiovisual. Nessa toada, não são as somas de recursos que explicam a criativa pirotecnia recorrente, mas as caras pirotecnias que os partidos entendem precisar para participar da arena argumentativa da campanha.
Os partidos não inventaram essa forma de comunicação, é claro. Eles são agentes que se apropriaram dessa gramática porque estão legitimamente interessados numa comunicação eficaz. A eficácia aí, evidentemente, escapa do campo político porque envolve elementos culturais, estéticos etc. Nosso caso, uma ressalva, não chega perto do modelo americano, muito mais caro e com acesso limitado pela soma de recursos dos partidos.
E agora que o STF liquidou com a principal fonte de recursos financeiros dos partidos? Há duas saídas. A primeira é espernear ou calar- se rumo ao caixa 2; a segunda envolve criatividade. Temos uma ótima oportunidade de rediscutir o nosso modelo de comunicação pelo lado da oferta, reduzindo consideravelmente a pressão que os partidos vivem para obter mais e mais recursos e das formas e meios mais obscuros.
Então, como produzir mensagens eficazes e, ao mesmo tempo, mais adequadas à realidade financeira? A resposta mais óbvia é repensar o horário da propaganda eleitoral gratuita e as inserções comerciais. Nada contra cores e emoção, faz parte da vida, mas por que não ideias com cores e emoção? É uma mudança que parece sutil, mas o tesoureiro de campanha poderá achar que não.
Um ponto, porém, parece ser a nossa maior oportunidade. Os debates na televisão, com custo zero para os partidos, poderiam ser repensados. Sugestões: façam debates mais curtos, alguns podem ser até temáticos e em horários alternativos. Quem sabe um debate sobre educação, outro sobre economia ou cultura com tempo bem mais curto que os atuais e em horário em que os humanos vivem? Uma mudança será também imprescindível: promovam debates com formatos mais flexíveis, em que os candidatos controlem o seu tempo, porque entendem qual assunto merece mais ou menos discussão, e no qual os mediadores participem o menos possível. Tornem ainda o encontro menos confronto, mais debate.
Nesse modelo de civilidade política, todos ganham. O debate é o único momento em que os candidatos estão sem cortes e edições, lado a lado com os seus adversários e, para sua felicidade ( acredito), com custo zero de campanha. Não tenho dúvidas de que as emissoras de TV estão prontas para contribuir. Se nada disso for possível, continuaremos trilhando o estranho caminho das escolhas pautadas pelos altos custos, e não aquelas que miram na oferta mais inteligente de comunicação.