Título: Começa a batalha
Autor: Craveiro, Rodrigo
Fonte: Correio Braziliense, 20/09/2011, Mundo, p. 18

Sob intensa pressão, o presidente da Autoridade Palestina, Mahmud Abbas, se reúne com o secretário-geral Ban Ki-moon e reafirma que pedirá adesão plena na ONU. Na véspera de embarcar para Nova York, primeiro-ministro israelense esboça interesse em conversar

» Às vésperas da abertura da 66ª sessão da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), os palestinos veem Israel apostar suas últimas fichas na diplomacia para frustrar as aspirações de um Estado soberano e independente. Mahmud Abbas, presidente da Autoridade Palestina (AP) e do partido Fatah, desembarcou em Nova York na noite de domingo disposto a não perder tempo e a não esmorecer sua retórica. Ontem, ele se reuniu com o secretário-geral, Ban Ki-moon, reafirmou seus planos de pedir a aceitação do Estado palestino como membro pleno do organismo e mostrou-se pouco preocupado com a pressão israelo-americana. "Nós decidimos dar esse passo e o inferno se abriu para nós", admitiu Abbas, antes do encontro. "Só temos uma escolha: ir ao Conselho de Segurança. Depois, sentaremos e decidiremos", acrescentou. Ki-moon considerou a reunião de meia hora "construtiva" e reiterou seu apoio a uma solução com dois Estados. Abbas deve apresentar sua solicitação à ONU na sexta-feira.

A resposta de Israel foi surpreendente, ainda que os especialistas a considerem inócua. O premiê Benjamin Netanyahu demonstrou-se inclinado a se encontrar com Abbas. "O primeiro-ministro está interessado em um encontro com o presidente da Autoridade Palestina em Nova York", afirmou um comunicado do gabinete, divulgado na noite de ontem. "Peço ao presidente da Autoridade Palestina que abra negociações diretas em Nova York, que continuarão depois em Jerusalém e em Ramallah (Cisjordânia)", acrescentou. Netanyahu deve viajar hoje a Nova York. Em entrevista à rede de TV Fox News, Abbas acenou com a disposição de dialogar. "Vou encontrar qualquer autoridade israelense a qualquer hora, mas será inútil se não houver algo tangível", disse. Ele condiciona a negociação de paz ao reconhecimento das fronteiras anteriores às de 1967.

Segundo o jornal The Jerusalem Post, Israel não abre mão da exigência de que os palestinos o considerem um Estado judaico. "O povo palestino e sua liderança passarão por tempos muitos difíceis após a abordagem junto ao Conselho de Segurança da ONU para buscar a condição de membro pleno do Estado palestino, com base nas fronteiras de 1967, com Jerusalém Oriental como capital", reforçou Abbas. Os planos do presidente palestino preocupam a comunidade internacional. O chanceler da França, Alain Juppé, disse temer "uma explosão de violência" no Oriente Médio e exortou Abbas a evitar a "confrontação" na ONU.

Diálogo O palestino-americano Rashid Khalidi, professor da Columbia University, crê que a Assembleia Geral rejeitará a adesão completa da Palestina e a aceitará como um Estado observador. "Isso daria aos palestinos o direito de atuarem como membro pleno em organismos especializados da ONU, como a Unesco e o Tribunal Penal Internacional", afirmou ao Correio, por e-mail. "Israel deve anunciar sanções contra a AP."

Para Mouin Rabbani, do Instituto para Estudos Palestinos (em Washington), Abbas é maleável o bastante para aderir a negociações. "É possível um acordo para que ele retorne à mesa de negociações, em troca da ausência de sanções", disse à reportagem. "Abbas tem declarado que a iniciativa na ONU é mais uma manobra tática para prosseguir com negociações críveis do que uma mudança estratégica rumo à internacionalização da questão palestina." O especialista explica que a Assembleia Geral colocará em pauta uma recomendação aos Estados-membros para que reconheçam a Palestina. A pressão sobre Abbas parte inclusive de doadores da AP, que defendem o diálogo. "Há uma necessidade urgente ¿ nós, doadores, vemos ¿ de que as negociações políticas sejam retomadas para que possamos seguir para esta visão de Israel e Palestina vivendo lado a lado", disse o chanceler norueguês, Jonas Gare Store.

"Não seja bem-vindo, Ahmadinejad" O presidente do Irã, Mahmud Ahmadinejad, enfrentará protestos durante a visita a Nova York esta semana para assistir à Assembleia Geral da ONU. O grupo Unidos contra o Irã Nuclear (Uani) pediu que os gerentes do luxuoso hotel Warwick se recusem a hospedar Ahmadinejad e fez um apelo por um boicote contra a rede de hotéis internacional. "Ahmadinejad é o líder de um regime criminoso aliado da Al-Qaeda e de outros terroristas, e culpado de violações atrozes dos direitos humanos", disse o presidente do Uani, Mark Wallace. O grupo pagou para que um anúncio fosse colocado próximo à Times Square, na qual Ahmadinejad aparece acompanhado da frase: "Enquanto nós lembramos o 11/9 dez anos depois, o sócio silencioso da Al-Qaeda vem a Nova York".