Itália decide extraditar Pizzolato, que ficará preso na Papuda

 

DANIEL BIASETTO E ANDRÉ DE SOUZA

O globo, n. 29997, 23//09/2015. País, p. 11

 

Justiça da Itália dá aval para a extradição do ex- diretor do BB condenado no mensalão. - RIO E BRASÍLIA- Depois de idas e vindas num processo que se arrasta há meses, o Conselho de Estado da Itália decidiu ontem extraditar para o Brasil o ex- diretor de Marketing do Banco do Brasil Henrique Pizzolato. O petista, condenado no mensalão a 12 anos e 7 meses de prisão, vai cumprir pena no Presídio da Papuda, em Brasília, onde poderá receber visitas do serviço consular italiano para que seja atestado o respeito aos direitos humanos do preso. O procurador- geral da República, Rodrigo Janot, disse acreditar que ainda esta semana a Justiça italiana vai decidir quando Pizzolato poderá ser trazido ao Brasil.

ALEXANDRO AULER/ ESTADÃO CONTEÚDO/ 12- 2- 2015Presidiário. Após notificação, missão da PF irá à Itália buscar Pizzolato

— Essa extradição reconhece que parte do nosso sistema prisional está apto a receber prisioneiros respeitando direitos humanos. Isso evitará problemas em outras extradições em países europeus. Nós já estávamos com alguns problemas em outros países nessa questão. Isso abre a porta para que possamos receber essas extradições — afirmou Janot.

O procurador- geral reconheceu que ainda há possibilidade de Pizzolato recorrer à Corte Europeia dos Direitos Humanos, mas disse que é improvável que consiga reverter a decisão. Janot também confirmou que o tempo que Pizzolato passou na prisão será descontado da pena aqui. Mas evitou dar prazos de quando ele voltará ao Brasil.

— Eu diria que a gente não está numa corrida contra o tempo para trazer para cá. Ele é um prisioneiro, condenado, está preso na Itália. Mas quanto mais rápido for cumprida essa decisão da Justiça italiana, é melhor para a Justiça brasileira — afirmou Janot.

Uma missão da Polícia Federal irá à Itália buscar Pizzolato assim que a decisão for comunicada oficialmente ao Ministério das Relações Exteriores.

— A PGR vai entrar hoje com o pedido de urgência ao Ministério da Justiça — disse o chefe da Cooperação Internacional da Procuradoria- Geral da República ( PGR), Vladimir Aras.

Além de cumprir pena no Brasil, Pizzolato enfrentará mais alguns problemas. Ele responde a outro processo por falsificação de documentos, por ter se passado pelo irmão morto para fugir do Brasil. Financeiramente, também poderá ter prejuízos. Questionado se Pizzolato seria cobrado pelos custos do processo de extradição, Janot respondeu:

— Isso nós vamos examinar no momento oportuno. Cada dia com sua agonia. Vamos trazêlo primeiro.

Pizzolato também tem cidadania italiana, o que chegou a gerar dúvidas se ele poderia ser extraditado. Segundo Janot, a decisão pela extradição é um recado aos criminosos que buscam abrigo em outros países.

— Nós alcançamos réus e bens que foram ilegalmente mandados para fora do país. É com certeza um recado muito forte — disse ele.

O Conselho de Estado da Itália tinha decidido, no final de junho, manter suspensa a extradição do petista para analisar novas informações solicitadas sobre as condições dos presídios brasileiros, em especial o da Papuda. Neste período, Pizzolato continuou preso na Penitenciária de Modena, chamada de “prisão de ouro”.

Giuseppe Alvenzio, representante do Ministério da Justiça italiano, disse que, mesmo que Pizzolato recorra à Corte Europeia dos Direitos Humanos, é remota a chance de a decisão italiana ser revertida.

— Eu acho que agora o ministro da Justiça deve definir uma nova data para que a extradição ocorra. Antes vai querer saber as razões que motivaram a decisão do Conselho de Estado — explicou Alvenzio.