Título: ONU quer julgar o governo sírio
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Fonte: Correio Braziliense, 20/09/2011, Mundo, p. 19
Relatório aponta fuzilamentos sumários e tortura de opositores, inclusive crianças
A Organização das Nações Unidas (ONU) denunciou ontem o regime da Síria por crimes contra a humanidade e propôs que os responsáveis sejam julgados pelo Tribunal Penal Internacional (TPI), com sede em Haia (Holanda). A recomendação foi apresentada em Genebra (Suíça) pela alta comissária adjunta para Direitos Humanos, Kyung-Wha Kang. Desde o início dos protestos contra o presidente Bashar Al-Assad, em março, 2.700 pessoas foram mortas, segundo estimativa da ONU. Entre as vítimas, centenas delas assassinadas com armas de guerra, haveria dezenas de crianças. Algumas, como boa parte dos adultos, teriam sido torturadas.
O relatório da ONU apontou excessos cometidos por "regimes autoritários" contra movimentos democráticos no mundo árabe. Destacou que os maiores problemas, além da Síria, se encontram no Iêmen e na Líbia. Representantes de Damasco e de Sanaa que participaram da reunião do grupo das Nações Unidas rechaçaram as acusações como "infundadas". Um dos principais pontos do documento destaca que o governo de Al-Assad impediu a entrada de enviados das Nações Unidas na Síria para verificar a situação dos direitos humanos. Isso obrigou os investigadores a colher informações com sobreviventes e desertores das forças de segurança que conseguiram fugir para o exterior.
O relatório aponta que foram reunidas declarações sobre "numerosas execuções sem julgamento" e incluídos os nomes dos 353 mortos. Os relatos apontam que as vítimas foram executadas com tiros acima da linha da cintura, principalmente na cabeça e no peito, o que caracteriza um fuzilamento sumário. "Pelo menos 100 menores de idade, além de serem alvos das forças de segurança, têm sido vítimas de violações dos direitos humanos do mesmo modo que adultos, e muitos deles também enfrentaram torturas", afirmou a alta comissária adjunta. Ela acrescentou que existem fortes indícios do uso de helicópteros e blindados, além de soldados de elite, nas operações contra opositores do presidente.
Até o fechamento desta edição, agências internacionais de notícias informavam que pelo menos nove pessoas teriam morrido na Síria. A maioria seriam homens e mulheres que se manifestavam contra o regime, mas também haveria militares.
Líbia Na Líbia, prosseguiam ontem os combates entre tropas leais ao ditador deposto Muamar Kadafi e forças que obedecem ao novo governo, liderado pelo Conselho Nacional de Transição (CNT). Os enfrentamentos se concentram em Sirte, cidade natal de Kadafi, e Bani Walid, a 179km da capital, Trípoli. Porta-vozes do CNT advertiram sobre o risco de uma "catástrofe humanitária" em Bani Walid, onde os simpatizantes do antigo regime resistem há um mês. Na noite de ontem, o CNT confirmou a captura do general Belgacem Al-Abaaj, chefe dos serviços de informação do regime de Kadafi. O oficial foi detido entre as cidades de Sebha e Oum Alaraneb, no sul do país.