Título: Dilma defende o fim das armas nucleares
Autor: Rothenburg, Denise
Fonte: Correio Braziliense, 23/09/2011, Política, p. 2

Presidente sugere a destruição de todo o arsenal existente e cobra a reforma no Conselho de Segurança da ONU NotíciaGráfico

Enviada especial

Nova York ¿ Se havia alguma dúvida da posição brasileira a respeito da energia nuclear por causa da amizade entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, a presidente Dilma Rousseff a dissipou. Ontem, ao participar da reunião de Alto Nível sobre Segurança Nuclear nas Nações Unidas, Dilma defendeu a destruição de todo o arsenal nuclear do mundo e ainda uma fiscalização desse conjunto químico. Para completar, lembrou que a configuração atual do Conselho de Segurança da ONU se deve a esses armamentos.

O posicionamento de Dilma é a mais incisiva declaração de um chefe de Estado até agora sobre o tema. "A segurança desse acervo militar nuclear merece tanta consideração quanto a dos materiais utilizados para fins pacíficos.

Seria, sem dúvida, necessário para fins de segurança fiscalizar ambos. É imperativo ter no horizonte previsível a eliminação completa e irreversível das armas nucleares. A ONU deve preocupar-se com isso", defendeu.

Dilma disse estar ciente de que o poder da Agência Internacional de Energia Atômica se limita à utilização para fins pacíficos, e de que todo o estoque de material nuclear voltado para uso militar escapa dos mecanismos multilaterais de fiscalização. "Mas o desarmamento nuclear é fundamental para a segurança, pilar do tratado de não proliferação cuja observância, as potências nucleares devem ao mundo", comentou.

A presidente fez esse comentário ao mencionar que o programa Megatons por Megawatts, da Associação Mundial Nuclear, mostra que o urânio altamente enriquecido nos arsenais das potências nucleares alcança 2 mil toneladas ¿ o equivalente a 12 anos de toda a extração mundial de minério. E, em seguida, elencou as razões para essa destruição: "Estudos apontam a deterioração no estado de conservação e manuseio desse material, sem falar da ameaça permanente que essas armas de destruição em massa apresentam para a humanidade", afirmou. "Cortes orçamentários exacerbados pela crise econômica do passado, adiamento de programas de manutenção e modernização de ogivas, perda de pessoal qualificado são fatores de alto risco."

Dilma lembrou ainda que, hoje, a configuração do Conselho de Segurança da ONU se deve principalmente aos arsenais nucleares. "Temos, sim, de avançar na reforma do Conselho de Segurança das Nações Unidas. Ele tem sido o baluarte da lógica do privilégio nuclear por mais de 65 anos, e legitima o acúmulo de material físsil nas potências nuclearmente armadas", defendeu.

A posição da presidente Dilma Rousseff não quer dizer que o Brasil vai deixar de lado o uso da energia nuclear. Tanto no discurso de ontem na ONU quanto na entrevista que concedeu pouco depois do meio-dia no hotel Waldorf Astoria, a presidente garantiu que não desistirá de Angra III.

"Depois do acidente de Fukushima, mandamos fazer revisão nas duas plantas. A terceira está em construção com tecnologias mais modernas.

O Brasil não vai abandoná-lo, mas não somos dependentes de energia nuclear na nossa matriz energética. E hoje usamos 30% do nosso potencial hidrelétrico, temos ainda biomassa e eólica e o pré-sal", afirmou.