Título: Novais sob pressão
Autor: Lyra, Paulo Tarso de
Fonte: Correio Braziliense, 23/08/2011, Política, p. 2

Cada vez mais sem apoio dentro do próprio partido, o PMDB, ministro vai hoje ao Senado. Governo identifica desvio de R$ 24 milhões na pasta nos últimos quatro anos

O ministro do Turismo, Pedro Novais, depõe hoje na Comissão de Turismo do Senado sob a ameaca de ser o próximo titular do Executivo a ter de limpar as gavetas na Esplanada. No fio da navalha desde a deflagração da Operação Voucher, que levou à prisão de 36 pessoas pela Polícia Federal, Novais enfrenta agora a pressão interna de parte da bancada de deputados, insatisfeitos com a liderança de Henrique Eduardo Alves (RN), principal fiador da indicação de Novais. Para esse grupo, a situação do ministro na pasta ficou insustentável. "Ele não tem mais condições para permanecer no cargo, está completamente enfraquecido", declarou um deputado dissidente.

Politicamente, a situação de Novais está praticamente definida. Como a indicação dele foi endossada por Henrique Eduardo Alves, em vaga que pertencia à Câmara, todos os caminhos apontam para um ministro sem apoio no próprio partido. Ele vai depor hoje no Senado, mas ninguém sabe ao certo por quanto tempo ele poderá ostentar o cargo de ministro. "Até a semana passada, ele estava disposto a permanecer no cargo. Mas a pressão no fim de semana foi muito grande e eu não sei como está o estado de espírito dele hoje (ontem)", disse um ministro peemedebista ao Correio.

Esse mesmo ministro garantiu que Novais é um homem honesto e que as recentes denúncias envolvendo seu nome estariam atrapalhando seu trabalho, o que poderia fazer com que ele tomasse a mesma decisão de Wagner Rossi, que pediu exoneração do Ministério da Agricultura alegando "pressões familiares". Os dissidentes da bancada reclamam que, visado pela operação da Polícia Federal, o ministro do Turismo perdeu a capacidade de "operar politicamente" para o partido. Ou seja: não consegue mais garantir recursos de emendas nem firmar convênios que interessem à legenda.

Agentes da Polícia Federal prenderam 36 pessoas durante a Operação Voucher

Antipatia Presidente em exercício do partido, o senador Valdir Raupp (RR), acredita que, até o momento, apenas uma minoria defende a exoneração de Novais. "Ele é um deputado indicado pela maioria da bancada. Se a bancada indicou, enquanto a maioria não retirar esse apoio, não é o caso de discutir isso (a demissão do ministro)", afirmou Raupp. Um assessor pemedebista lembra, no entanto, que esses movimentos se tornam incontroláveis de uma hora para outra. "O Eunício Oliveira (hoje senador pelo PMDB cearense) já perdeu o cargo de líder e, em outro momento, teve que deixar o Ministério das Comunicações por ter ficado sem o apoio da bancada de deputados do partido", recordou um interlocutor do partido.

Mas o movimento dissidente preocupa a cúpula partidária, que começou a se movimentar ontem para tentar conter os rebelados. Um grupo de parlamentares, dentre eles Danilo Fortes (PMDB-CE), reuniu-se na noite de ontem com o vice-presidente Michel Temer (PMDB-SP). O convite para o encontro partiu de Temer, disposto a ouvir quais os problemas identificados pelo grupo. Mais cedo, Danilo Fortes conversou por telefone com o líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL). "Temos que nos acertar. Se junto já está difícil, imagina se estivermos separados", ponderou o senador alagoano.

Danilo Fortes afirmou que os questionamentos feitos a Henrique Eduardo Alves não são fruto de uma antipatia pessoal, mas sim divergências políticas pela maneira como o líder vem conduzindo a bancada. O pemeedebista cearense reclama do tratamento privilegiado concedido ao deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), escolhido recentemente como o relator das mudanças no novo Código de Processo Civil (leia matéria na página 3). "Além disso, temos assuntos que são bandeira do partido que estão sendo colocados de lado, como a Emenda 29 e a CPI da Mineração", apontou ele. Essa última investigação pode respingar no Ministério de Minas e Energia, comandado por Edison Lobão, afilhado do presidente do Senado, José Sarney.

Temer tenta evitar que a relação do partido com o Planalto volte a se deteriorar. Hoje, ele oferecerá um jantar de todo o partido ¿ deputados, senadores e ministros peemedebistas ¿ para a presidente Dilma Rousseff e ministros palacianos no Palácio do Jaburu, residência oficial da vice-presidente. Um cenário bem diferente da segunda-feira passada, quando Dilma convidou o comando do partido para uma conversa no Planalto. Lideranças da legenda confidenciaram o receio de cortes na Esplanada ¿ Wagner Rossi ainda era ministro da Agricultura ¿ que pudessem atingir até mesmo o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR). Contrariando as expectativas, a presidente reforçou a necessidade da parceria com o PMDB, seguindo os conselhos dados pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Mesmo assim, Dilma promoveu ontem as alterações que pretendia na diretoria de Furnas, retirando os últimos diretores ligados ao PMDB de Eduardo Cunha (RJ) e Romero Jucá (RR). Saem Mario Marcio Rogard, Marcio Porto e Luiz Hamann. Os diretores substitutos têm um perfil técnico, como cobra a presidente Dilma nos cargos de direção no setor elétrico. Mas o diretor Luiz Fernando Paroli, da Diretoria de Gestão Corporativa, ligado ao petista Odair Cunha (MG), permanece no cargo.

Colaborou Débora Álvares

Pastor consegue pagar a fiança O pastor Wladimir Furtado, um dos suspeitos detidos na Operação Voucher, conseguiu pagar ontem a fiança de R$ 109 mil estipulada pela Justiça para que ele permanecesse solto. No último dia 13, para conseguir ser solto, a mulher dele depositou um cheque-caução para cobrir o valor. O casal, segundo o advogado do pastor, passou os nove dias seguintes tentando arrecadar o dinheiro. O pastor é presidente da Cooperativa de Negócios e Consultoria Turística (Conectur), empresa suspeita de servir de fachada para desvio de recursos de convênios do Ministério do Turismo. Furtado nega envolvimento em qualquer tipo de fraude.

O que pesa contra

Confira os principais problemas enfrentados pelo ministro do Turismo, Pedro Novais:

*Polícia Federal prendeu 36 pessoas suspeitas de fraudes no Ministério do Turismo na Operação Voucher;

*Relatórios do Tribunal de Contas da União informaram ao ministro as irregularidades três semanas antes da operação;

*Novais, como deputado, destinou R$ 1 milhão de emendas ao Turismo para construir uma ponte em uma cidade no Maranhão ¿ Barra do Corda ¿ sem nenhuma tradição turística;

*Antes mesmo de assumir o Turismo, Pedro Novais foi acusado de pagar despesas de um motel em São Luís com dinheiro de verba parlamentar.