Título: Hora de dar passagem para a educação
Autor: Negromonte, Mário
Fonte: Correio Braziliense, 23/09/2011, Política, p. 6

Ministro das Cidades investe em campanhas instrutivas a fim de combater a violência no trânsito, comemora a redução de 35% dos acidentes no feriado de Corpus Christi em relação a 2010 e exalta o exemplo de Brasília como modelo a ser seguido » Karla Correia Especial para o Correio

O ministro das Cidades, Mário Negromonte, costuma citar a si próprio como exemplo positivo das mudanças que medidas educativas podem promover no trânsito. "Foi depois que eu vim morar em Brasília que aprendi a parar na faixa e esperar o pedestre passar", conta Negromonte, que fez questão de aproveitar ontem o Dia Mundial Sem Carro para ir ao trabalho de carona com funcionários do ministério. "É nosso papel disseminar boas práticas", disse.

Os relatos da Polícia Rodoviária Federal após campanhas de conscientização do ministério sobre o tema demonstram os resultados desse foco na questão educacional. Segundo o ministro, o feriado de Corpus Christi deste ano, em 23 de junho, registrou 35% menos acidentes nas rodovias do país em relação ao ano passado. "Tem que haver um trabalho de sensibilização do cidadão para o cumprimento das leis de trânsito e mudanças na legislação para punir quem comete infração e premiar quem obedece às normas", defende Negromonte, em entrevista ao Correio.

Até que ponto a violência no trânsito está relacionada ao comportamento do motorista brasileiro? Essa ainda é uma questão com forte componente cultural. Às vezes, as pessoas são muito metódicas em relação às suas vidas, cumprem prazos, obedecem normas, mas não respeitam as leis de trânsito. Você faz tudo certinho em sua casa, em seu trabalho, paga as contas em dia, é um bom pai. Mas no trânsito não cumpre a lei? É aí que entra a ação educativa. Eu acho que houve um descuido nessa área por muito tempo. Por outro lado, a nossa frota mais que duplicou nos últimos 10 anos. Tínhamos 31 milhões de veículos em 2001, hoje, 68 milhões.

O ministério tem como mensurar os efeitos das ações educativas que vêm sendo implementadas? Nós tivemos um exemplo muito claro disso neste ano. A Polícia Rodoviária Federal registrou que houve 35% a menos de acidentes em 2011 do que no ano passado nas rodovias federais, no feriado de Corpus Christi. É a prova de um grande avanço obtido com o trabalho de educação feito pelo ministério. Eu mesmo sou um exemplo de reeducação no trânsito. Depois que eu vim morar em Brasília, aprendi a parar na faixa para o pedestre passar. Quando estou em Salvador, eu paro na faixa, os outros motoristas entendem e fazem o mesmo. Mudança de cultura leva tempo, aqui em Brasília, levou tempo e deu certo.

As campanhas são suficientes para reduzir a violência no trânsito? O poder público tem que aliar as campanhas educativas a alterações na legislação de trânsito para coibir infrações e reduzir riscos de forma eficaz. Existem projetos tramitando no Congresso Nacional na tentativa de modernizar o código de trânsito e criar instrumentos para punir quem comete a infração, mas também para premiar quem segue as normas. É a aplicação de multas por meio da velocidade média, a redução do valor do IPVA para quem não tiver infrações registradas durante o ano. Essa é uma cruzada que nós temos de fazer no sentido de mudar a cultura no trânsito do país.

E a infraestrutura nas cidades? O governo federal está fazendo sua parte, investindo em mobilidade urbana, destinando cerca de R$ 30 bilhões no setor para os próximos quatro anos. Desse montante, R$ 12 bilhões estão contidos nas obras preparatórias para a Copa do Mundo de 2014, o PAC Copa, que compreende corredores exclusivos para ônibus, BRTs (sigla em inglês para Ônibus de Trânsito Rápido), VLT (Veículo Leve sobre Trilhos) e metrô. Isso faz com que a Copa deixe um legado muito positivo. O evento todo deve consumir R$ 24 bilhões em investimentos e 50% disso vai ser em mobilidade. Aliado a esse investimento, o governo lançou um programa para mobilidade nas grandes cidades, acima de 700 mil habitantes. Vai ser um investimento de R$ 18 bilhões em 24 cidades. Vamos melhorar a oferta de transporte público no Brasil. Isso vai ser um atrativo para que as pessoas deixem seu carro em casa.

O investimento na construção de metrôs é a melhor resposta para melhorar o trânsito nas grandes cidades? Depende da situação do governo estadual e do município. Belo Horizonte, Porto Alegre e Salvador, por exemplo, optaram pelo metrô, mas a maioria das cidades tem optado pelo BRT. O investimento com a criação de um corredor de ônibus é mais barato. A obra é mais rápida. Só para se ter uma ideia, em Salvador, nós fizemos um investimento de R$ 540 milhões para fazer 22km de corredor exclusivo. Hoje, para se fazer o metrô, o custo vai ser mais ou menos de R$ 1,5 bilhão.