Título: O terror volta à sala de aula
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Fonte: Correio Braziliense, 23/09/2011, Política, p. 8

Garoto de 10 anos pega a arma do pai, atira em professora de colégio paulista e se mata. O caso lembra o massacre de Realengo (RJ), onde um ex-aluno tirou a vida de 12 estudantes de uma escola carioca Publicação: 23/09/2011 02:00

Quase seis meses depois do massacre de Realengo, no Rio de Janeiro, uma sala de aula volta a ser palco de uma tragédia. Um estudante de 10 anos da Escola Municipal Alcina Dantas Feijão, em São Caetano do Sul, no ABC paulista, atirou contra a professora e se matou com um disparo na cabeça.

Tanto a docente, Rosileide Queiros de Oliveira, 38 anos, quanto o garoto, David Mota Nogueira, foram socorridos. Mas ele sofreu duas paradas cardíacas a caminho do hospital e não resistiu.

O estado de saúde da professora, baleada na região lombar, é considerado estável. A arma usada por David, um revólver calibre .38, pertence ao pai dele, Milton Nogueira, que é guarda municipal.

No momento do crime, por volta das 16h de ontem, segundo informações da polícia, havia cerca de 25 estudantes na sala de aula. Apontado como um menino calmo e sem antecedentes de violência, o aluno do 4º ano teria pedido para ir ao banheiro. Quando retornou, estava com a arma em punho. Atirou contra a professora, saiu, sentou-se na escada e se matou. O motivo do crime é desconhecido. A polícia chegou a afirmar que apuraria se o menino sofria bullying. Depois, negou que essa seria uma linha de investigação.

Embora a arma seja registrada em nome do pai do garoto, o secretário de Segurança Pública do município, Moacyr Rodrigues, esclareceu que o revólver não era da corporação, e sim propriedade particular do guarda municipal, acrescentando que os profissionais devolvem o artefato depois do expediente. Rodrigues descreveu o pai do menino como "de bom conceito", com 14 anos de serviços prestados.

Apesar dos elogios, o delegado da sede de São Caetano do Sul, Francisco José, disse que o pai do garoto pode ser responsabilizado criminalmente pelo acontecido. "Vamos investigar se ele agiu com imprudência ou negligência na guarda dessa arma", afirmou.

Ainda não há data para a polícia ouvir o pai do estudante. Segundo informações preliminares, ele teria sentido falta da arma, questionado o filho mais velho e, quando imaginou que David pudesse tê-la pegado, o crime já havia acontecido. Hoje, os investigadores ouvirão testemunhas adultas e procurarão familiares de outros alunos. Os colegas de turma de David serão poupados inicialmente devido à comoção que tomou conta da escola, onde as aulas só serão retomadas na segunda-feira.

Pânico Parte dos alunos chegou a achar que tudo não passava de uma "brincadeira". "Um amigo entrou falando: tiro, tiro. Todo mundo achou que fosse brincadeira. De repente, apareceu uma ambulância. Eu e meus amigos fomos para o estacionamento. Ouvimos boatos que tinha traficante na escola", relata um estudante do 6º ano. Quem estava mais próximo da sala onde o crime ocorreu, porém, entrou em pânico.

Um garoto de 12 anos, que cursa o 7º ano na sala ao lado da de David, acabava de voltar do intervalo quando tudo aconteceu. "Foi um pânico geral, uma gritaria, uma correria. Todo mundo saiu da sala e desceu para o pátio", disse. Segundo o adolescente, o ambiente da escola foi tomado por professoras e alunos chorando.