Título: Dilma pressiona a Europa
Autor: Rothenburg, Denise
Fonte: Correio Braziliense, 23/09/2011, Economia, p. 10

Presidente pede pressa na solução para a Grécia, pois Brasil já sofre com as indefinições que duram mais de um ano

Enviada especial

Nova York ¿ O susto do governo com a arrancada dos preços do dólar, que pode contaminar a inflação e minar a intenção do Banco Central de continuar reduzindo a taxa básica de juros (Selic), levou a presidente Dilma Rousseff a soltar o verbo contra a Europa, que tenta, há mais de um ano, dar uma solução à crise da Grécia. Na sua avaliação, o continente europeu está se ressentindo de uma grande liderança que consiga aglutinar o apoio necessário a um socorro definitivo aos gregos. Segundo Dilma, o Brasil está disposto a ajudar no que for possível os países da Zona do Euro, inclusive colocando recursos no fundo de estabilização da região. Mas, para isso, terá de participar das decisões políticas.

"O governo não acha que solucionaremos o problema europeu colocando nossas reservas no fundo de estabilização. Não é esse o problema. Faremos qualquer medida que o mundo reparta entre si, desde que fique claro qual é o caminho que se quer adotar. Essa crise é de recursos políticos e não financeiros", afirmou a presidente. Para ela, não se pode mais aceitar tanta incerteza, que ontem levou o dólar a bater em R$ 1,95, impondo pesados riscos ao Brasil , e que pode empurrar a economia global para uma "espiral recessiva", contagiando, de forma generalizada, todo o planeta.

Dilma frisou que o Brasil está fora da crise, mas não livre de suas conseqüências: "Nós não somos responsáveis pela crise e não somos aqueles que sofrem com ela diretamente. Mas também não se pode alegar que não soframos as consequências indiretas. Sofremos, porque o mercado internacional reduz o seu tamanho, na medida em que há desemprego, na medida em que há contração da demanda. Como sofremos as consequências, temos que discutir as saídas", frisou.

Apesar das preocupações, Dilma destacou que o governo não adotará medidas extraordinárias para tentar controlar a disparada dos preços do dólar e conter a derrocada da Bolsa de Valores de São Paulo (BM&FBovespa). Ela assegurou que, mesmo estando distante do Brasil, mantém constante a observação sobre o país com o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, e o ministro da Fazenda, Guido Mantega, que também estão nos Estados Unidos. "Neste momento, que é um momento de volatilidade e de nervosismo nos mercados, a nossa atitude é de calma e tranquilidade e de estabilizar o mercado. Essa é a política do ministro Tombini e do ministro Guido", disse.

Para a presidente, é importante ressaltar que o Brasil tem hoje uma relação de envididamento muito baixa, as contas públicas em ordem e reservas internacionais elevadas, além de uma sólida regulação dos bancos brasileiros, que têm R$ 420 bilhões depositados compulsoriamente no BC. "Temos bancos saudáveis e uma situação diferenciada", ressaltou, alertando que as medidas tomadas até agora pelo governo para retomar o controle do mercado cambial são normais. "Não estamos tomando nenhuma medida não usual. São as mesmas medidas de sempre: os swaps cambiais e, eventualmente, não compramos dólares em quantidade no mercado spot (à vista), pois acreditamos que as coisas vão se ajustar", afirmou.

Quanto aos riscos inflacionários para o Brasil, Dilma assinalou que a tendência é de queda dos preços. "Mais cedo ou mais tarde, a inflação vai ajustar. Do nosso ponto de vista, a preocupação é perene. Sempre o nosso olhar estará dividido entre a inflação e a sustentação do crescimento, combinando as duas formas", afirmou. Ela reconheceu que, com o mundo em polvorosa por causa da Grécia, onde a população faz constantes protestos contra cortes de salários e de aposentadorias, não será fácil manejar a economia.

"Parece que há uma (crise de) característica sistêmica. O que significa uma economia (mundial) em recessão durante algum tempo em recessão", disse a presidente. Ela afirmou ainda que o Brasil está pronto para assumir suas responsabilidades no que se refere à crise. E uma delas é "garantir que a economia internacional não tenha um nível de crescimento baixo". Dilma considera que isso é hoje atribuição dos países emergentes.