Título: Palestinos saem às ruas contra promessa de veto
Autor: Craveiro, Rodrigo
Fonte: Correio Braziliense, 23/09/2011, Mundo, p. 16
O presidente dos EUA, Barack Obama, pode ter aguçado o antiamericanismo nos territórios ocupados, após garantir ao colega palestino, Mahmud Abbas, que usará o poder de veto contra a criação de um Estado independente. "Nós temos que nos opor a qualquer ação do Conselho de Segurança, incluindo, se necessário, o veto", declarou Ben Rhodes, porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca, após a reunião entre os dois líderes, na noite de anteontem. Isso fez com que os palestinos retornassem às ruas de Ramallah, capital da Cisjordânia. Dessa vez, o clima de festa deu lugar à revolta. "A América é a cabeça da serpente" e "F..., Obama, ao lado de assassinos e contra as vítimas" eram alguns dos slogans que estampavam as faixas no protesto, que contou com quase mil pessoas. Na quarta-feira, Obama afirmou que o Estado palestino só pode ser obtido por meio de um diálogo com Israel, mas lembrou que a paz não será conquistada por meio de resoluções da ONU. O teor do discurso na Assembleia Geral da ONU enfureceu os moradores de Gaza e da Cisjordânia.
Na véspera de Abbas apresentar o pedido de reconhecimento do Estado à ONU, um documento divulgado ontem pelo relator especial da ONU para os direitos humanos nos territórios palestinos surpreendeu pela linguagem. O americano Richard Falk, professor de direito internacional na Universidade de Princeton, conclamou todos os Estados-membros a admitir o Estado palestino. "O debate sobre a iniciativa palestina fornece um momento para a comunidade internacional responder a um legado de injustiça", alega o relator. "Por 44 anos, os palestinos na Cisjordânia, incluindo Jerusalém Oriental, e em Gaza têm sofrido a ocupação opressiva de Israel."
Falk chamou a atenção para o fato de que "o Estado de Israel tem transferido sua população para centenas de assentamentos em território palestino, enquanto submete os palestinos a violações disseminadas e sistemáticas de seus direitos humanos básicos".
Para o fotógrafo Ahmad Mesleh, morador de Ramallah, os EUA são "a fonte do problema". "É ridículo ouvi-los falar sobre a Palestina e, quando temos algo concreto, eles destroem tudo", desabafou, em entrevista ao Correio. "Nós temos o direito de existir e de ter nosso país. Jamais Obama ou (Benjamin) Netanyahu (premiê de Israel) nos privarão disso." O presidente da França, Nicolas Sarkozy, propôs que os palestinos ganhem o status de Estado não membro. Segundo ele, isso permitiria a definição de um cronograma ¿ um mês para iniciar as negociações, seis meses para lidar com a questão das fronteiras e mais um ano para finalizar um "acordo definitivo".