Título: Líbia aumenta a tensão no mercado
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Fonte: Correio Braziliense, 23/08/2011, Economia, p. 12

Preços do petróleo registram fortes oscilações e fecham em alta em Nova York. Bolsas sobem, mas não convencem

A disputa pelo governo da Líbia ¿ os rebeldes estão muito próximos de tomar o poder do ditador Muammar Kadafi ¿ aumentou o nervosismo nos mercados financeiros, já abalados pelo medo de recessão nos países mais ricos do mundo. A ansiedade dos investidores se explicitou por meio dos preços do barril de petróleo, que fecharam ontem em sentidos opostos, depois de forte oscilações. Em Nova York, o óleo light tipo cru, para entrega em setembro, foi cotado a US$ 84,12, com alta de US$ 1,86. E, em Londres, o tipo Brent caiu US$ 0,26, para US$ 108,36.

Segundo Bart Melek, da TD Securities, há muita insegurança nos mercados, pois se teme que Kadafi continue mais tempo no poder, dificultando as exportações de petróleo líbio. Antes do início das revoltas, o país produzia 1,6 milhão de barris diários de óleo leve, fácil de refinar, que, em grande parte, era vendido para a Europa. As exportações foram interrompidas desde a primavera boreal (primavera do Hemisfério Norte), há cinco meses, e os preços em Londres, historicamente em linha com os de Nova York, dispararam.

"Sou otimista em relação ao petróleo líbio e acredito que veremos grande parte dele voltar ao mercado em dois ou três meses", disse Phil Flynn, analista da empresa PFG Best. "Contudo, o mercado manterá a cautela até que o regime de Kadhafi caia", completou. O dia, segundo ele, só não foi mais complicado diante das expectativas em relação ao discurso de Ben Bernanke, presidente do Federal Reserve (Fed), o Banco Central dos Estados Unidos, na próxima sexta-feira. Todos esperam que ele anuncie mais medidas para estimular a economia norte-americana, que esta à beira da recessão.

Não à toa, a Bolsa de Nova York encerrou o pregão de ontem em leve alta. O Dow Jones subiu 0,34% e o termômetro da tecnologia, Nasdaq, 0,15%. Na avaliação de Mace Blicksilver, da Marblehead Asset Management, a ausência de indicadores macroeconômicos ontem nos EUA fez com que o mercado concentrasse as atenções em Jackson Hole (Wyoming, Oeste norte-americano), onde o presidente do Fed falará, e na Líbia.

Na Europa, foi a perspectiva de vitória dos rebeldes líbios que ditou os rumos dos negócios. Com exceção de Frankfurt, na Alemanha, que recuou 0,11%, todas as principais bolsas da região fecharam o dia com saldo positivo. Em Londres, a valorização chegou a 1,08%. Em Paris, houve alta de 1,14%. Em Madri, o avanço foi de 1,87% e, em Milão, de 1,78%. Na Bolsa de Valores de São Paulo (BM&FBovespa), depois de passar todo o dia no azul, o Ibovespa, principal indicador do pregão paulista, cedeu 0,01%. Já o dólar foi cotado a R$ 1,604, com valorização de 0,28%.

BCE compra 110 bilhões de euros Frankfurt ¿ O Banco Central Europeu (BCE) já comprou 110,5 bilhões de euros em títulos da dívida pública de países europeus para tentar evitar que eles sejam engolfados pela crise que devasta o continente. Somente na semana passada, as compras foram de 14,3 bilhões de euros, segundo informou ontem a instituição. Na semana anterior, o total havia chegado a 22 bilhões, o maior volume desde que o programa foi lançado, em maio de 2010, como parte de uma estratégia de socorro à Grécia. As aquisições haviam sido interrompidas há cinco meses, mas foram retomadas há 15 dias, quando soou o alarme de que a crise poderia contaminar a Itália e a Espanha, a terceira e a quarta economias da Zona do Euro. Embora o BCE não tenha informado quais os países emissores dos papéis comprados nas últimas duas semanas, economistas disseram que a maioria era formada por bônus espanhóis e italianos.