Mercado físico sinaliza retomada do cobre

Renato Rostás 

30/09/2015

O desfecho de uma disputa entre os mercados físico e financeiro pode resultar em repique nos preços do cobre e garantir que o metal seja o primeiro dentre os não ferrosos a se recuperar da forte queda observada neste ano. O pivô da queda de braço é conhecido: a economia chinesa e as dúvidas quanto a seu desempenho durante 2015.

Para analistas, os fundamentos do mercado de cobre dão mais sinais de que podem impulsionar a cotação da commodity do que pressioná-la - dentre eles, estão os baixos estoques na Bolsa de Metais de Londres (LME, na sigla em inglês) e em alguns mercados consumidores -, mas a especulação continua influenciando a desvalorização.

Leon Westgate, analista da área de commodities do Standard Bank, descreveu a clientes o porquê de sua visão otimista para o metal. Ele nota que a dinâmica entre oferta e demanda se equilibrou nos últimos meses e, com problemas de capacidade e consumo aparente em tendência de crescimento na China, os fundamentos parecem muito mais positivos agora.

"Permanecemos no lado otimista, mas a batalha parece seguir para o quatro trimestre e com chance de causar significativa volatilidade nos preços", escreveu o analista.

Ontem, os preços do cobre tiveram leve alta de 0,1% na LME, para US$ 4.970 a tonelada. Esse é o menor preço em um mês, mas o recuo no acumulado de 2015 é bem mais significativo. O metal perdeu cerca de 20% até agora no ano - no início de janeiro, cada tonelada valia mais de US$ 6.200.

O Goldman Sachs discorda da visão do Standard Bank. Em relatório da semana passada, os analistas Eugene King, Yulia Chekunaeva, Saurabh Thadani e Christophor Jost disseram que ainda preveem patamar de US$ 4.800 para a cotação no primeiro semestre de 2016 e de US$ 4.650 na segunda metade do ano. Ontem, o Deutsche Bank revelou que só acredita em alta nos preços de 2016 para 2017.

Mas os sinais animam outros agentes do mercado. Carsten Menke, do Julius Baer, afirma que nas próximas semanas é esperada uma estabilização das commodities em geral, que sofreram com alta volatilidade nos últimos meses. A opinião dele é a de que o movimento forte de venda foi todo baseado em confiança dos investidores e que não há como sustentar os preços nesse nível baixo por muito tempo.

Durante o segundo trimestre, a Antofagasta, nona maior produtora de cobre do mundo com operações principalmente no Chile, enfrentou questões trabalhistas e o clima, o que resultou em menor produção. Além disso, resolveu adiar o início das atividades em Antucoya, o que resolveu, em parte, a expectativa de sobreoferta para a commodity. A Glencore, por sua vez, terceira maior produtora global, suspendeu as atividades da mina de Katanga por 18 meses.

Segundo analistas, repique é possível por conta de estoques baixos, mas especulação segura os preços

"No caso do cobre, não temos nenhum grande projeto para começar cujo custo de produção fica abaixo dos preços atuais, o que pode, no médio e no longo prazo, sustentar a cotação em níveis maiores", afirma Menke, em entrevista ao Valor. "Acho que o cobre se recupera mesmo mais rápido do que os outros metais, porque os outros têm muito pouca chance de alta. Se a China não cair do desfiladeiro em termos de crescimento, você tem espaço mesmo para a retomada."

A consultoria Capital Economics também demonstrou visão mais positiva sobre o metal. Isso porque os países mais relevantes na extração estão muito sujeitos a condições totalmente externas ao negócio. "O terremoto que atingiu o Chile serviu para lembrar os investidores da vulnerabilidade do mercado de cobre em relação a problemas nas minas", diz a analista Caroline Bain. "O El Niño está chegando, há persistente atividade sindical e alguma expectativa de cortes na produção, o que pode sustentar os preços no futuro."

Em compasso de espera para essa recuperação, as empresas já começam a se mexer. A consultoria Ernst & Young, por exemplo, aposta que as fusões e aquisições no setor vão se acelerar em 2016 - depois de um ano morno em 2015 - e a Pöyry, que fornece serviços e produtos de engenharia e gestão de projetos na área, revela que os clientes estão realizando mais consultas para tentar investir e ganhar no momento em que o preço estiver melhor.

No Brasil especificamente, o presidente da maior produtora de cobre refinado do país é mais reticente. Christophe Akli, executivo-chefe da Paranapanema, lembra que o prêmio dos catodos sobre o produto primário praticamente não mostrou reação na China, o que pode demonstrar que o mercado físico não está tão propício assim para um repique. "O mercado reage primeiro no prêmio, e depois corrige a depender de qual for a cotação da LME", explica.

Contudo, Akli admite que a resolução da queda de braço entre os fundamentos e a confiança dos investidores pode beneficiar muito o cobre. "Costuma-se dizer que ele é o último dos metais a cair e o primeiro a subir", lembra. O resultado desse impasse vai depender de a China apresentar dados que sustentem o argumento de que o pouso da economia local não será tão forçado quanto o mercado financeiro parece apostar.

Valor econômico, v. 16, n. 3852, 30/09/2015. Empresas, p. B4