A multiplicação dos ministros sob Dilma

Marcella Fernandes 

24/08/2015

O governo da presidente Dilma Rousseff superou o número de ministros nomeados na comparação com os dois governos anteriores, de Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando Henrique Cardoso. Desde que assumiu a Presidência, em janeiro de 2011, foram nomeados 89 titulares de pastas com status de ministérios, incluindo órgãos da Presidência da República. Nos cinco primeiros anos de mandato, Lula teve 74 ministros e FHC, 70. Antes de assumir o segundo mandato, a presidente fez uma reforma ministerial em que quatro titulares foram trocados de pastas, 15 mantidos e outros 20 novos nomes anunciados. Outra grande mudança ocorreu no primeiro ano de governo, quando sete ministros caíram seis envolvidos em casos de corrupção. O Planalto tem desenhado nas últimas semanas um novo cenário em resposta à crise política e econômica. 

Hoje, são 39 órgãos com status de ministério. A Secretaria de Relações Institucionais (SRI) perdeu o titular em abril, quando o vice-presidente Michel Temer assumiu oficialmente a função de articulador político. Com a iminente saída do peemedebista do cargo, Dilma deve chegar em breve ao número de 90 nomeados. Do atual quadro, o PT tem 13 pastas, seguidas pelo PMDB, com sete e PSD com duas. PCdoB, PR, PDT, PTB e PRB têm um ministério cada. Os outros 11 não têm partido. No mandato da petista, os únicos que estão lotados na mesma pasta desde o começo são Alexandre Tombini (Banco Central), Izabella Teixeira (Meio Ambiente), José Eduardo Cardozo (Justiça), José Elito Carvalho Siqueira (Gabinete de Segurança Institucional) e Luis Inácio Adams (Advocacia-Geral da União). Aloizio Mercadante começou na Ciência e Tecnologia, passou pela Educação e está na Casa Civil desde fevereiro de 2014. No governo Lula, cinco ministros permaneceram durante todo o mandato, sendo quatro sem trocas de pastas. Na gestão, FHC, foram seis titulares dois passaram por mais de um ministério. 

Habilidade 
A deficiência na articulação política da presidente Dilma é um dos fatores apontados pelo mestre em ciência política Lucas de Aragão para explicar a rotatividade. Ele lembra que Lula tinha melhor capacidade de diálogo e negociação e alta popularidade, além de governar em um período econômico mais favorável, com baixa inflação e desemprego controlado e alto crescimento econômico. Como a Dilma não tem nada disso, ela recorre ao mais óbvio para ganhar apoio, que é a distribuição de cargos e consequentemente o inchaço da máquina, aponta o também sócio-diretor da consultoria Arko Advice. Para o especialista, a fragilidade dos partidos enquanto instituições agrava o cenário. Como o poder no Brasil emana de maneira pessoal e não institucional a, negociação tem que ser pessoal, completa. 

Para o senador José Agripino (DEM-RN), as nomeações de Dilma são ineficazes para garantir apoio político porque falta incluir os aliados nas decisões do governo. Não tem satisfação porque eles dão o ministério, mas a operação da máquina é petista. Indicam os cargos, mas não dão as condições mínimas para ter um poder maior de decisão, critica. Ele cita ainda incompatibilidade entre titulares de outros partidos e o perfil de funcionários do segundo e terceiro escalões, muitas vezes ligados ao PT, e atribuiu a rotatividade ainda a uma prevalência de perfil político nas escolhas, em vez de técnicos. 

Na avaliação do ex-líder do governo na Câmara, deputado Henrique Fontana (PT-RS), a diferença do número de ministros não é significativa e todos os governos de presidencialismo de coalização no Brasil foram similares na distribuição de cargos. Ele acredita que fatores externos à habilidade política da presidente Dilma possam explicar o aumento de ministros. Uma possível leitura é pela própria evolução do sistema político já que nós temos observado uma fragmentação com o aumento do número de partidos, afirmou. 


Correio braziliense, n. 19082, 24/08/2015. Política, p. 4