Título: Enfrentar o crack exige ação eficaz
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Fonte: Correio Braziliense, 23/08/2011, Opinião, p. 16

Visão do Correio O consumo de crack tornou-se um dos grandes flagelos da capital da República. Com preço inferior ao dos demais entorpecentes, o derivado da cocaína democratizou o acesso às drogas. Está ao alcance das classes pobres, antes barradas do submundo do vício por falta de recursos financeiros. Minicracolândias passaram a fazer parte da paisagem do Plano Piloto e das cidades do Distrito Federal.

Segundo a Polícia Civil, o crack é a substância com maior circulação nas regiões administrativas do DF. No primeiro semestre de 2011, a quantidade apreendida corresponde a mais que o dobro em comparação com o mesmo período de 2010 ¿ 35kg contra 16kg. O número de usuários encaminhados às delegacias também cresceu ¿ 2.296 contra 1.739. A repressão se intensificou. São presos quase 10 traficantes por dia.

Em quatro anos ¿ tempo em que o crack circula pelo DF ¿, o perfil dos consumidores sofreu mudanças significativas. Além dos pobres e miseráveis, a pedra se tornou objeto de desejo da classe média. Pessoas empregadas, com ensino médio completo e salário que chega a R$ 3 mil, passaram a engordar as tristes estatísticas de homens e mulheres vítimas da devastadora ação da droga que destrói o organismo em prazo só superado pelo óxi.

Ora, o aumento de usuários, sobretudo de camadas mais esclarecidas, pressupõe o incremento da busca por socorro. Muitos, amparados pela família ou por grupos sociais, procuram trilhar o caminho de volta. Mas a realidade lhes fecha as portas. A estrutura de assistência a dependentes químicos no Distrito Federal é insuficiente. Apenas 12 unidades oferecem serviços especializados para 2,6 milhões de moradores. Sergipe, vale a comparação, com 2 milhões de habitantes, conta com 32.

Os Centros de Assistência Psicossocial de Álcool e Outras Drogas (Caps AD) exercem (ou deveriam exercer) importante papel na árdua guerra pela reabilitação. Eles dão suporte às crises de abstinência e outros males contra os quais o dependente precisa lutar. Mas se encontram em estado precário, como demonstra série de reportagem publicada por este jornal. Sai governo, entra governo, o descaso se mantém.

O quadro se agrava. O cenário ganha cores mais dramáticas. São quase 800 mil pessoas direta ou indiretamente envolvidas na tragédia das drogas. Agnelo Queiroz promete mudanças. Entre elas, a construção de 46 Caps, 12 dos quais voltados para o atendimento de usuários de entorpecentes. Espera-se que as palavras se transformem em ação ¿ com urgência urgentíssima.