Título: Rússia e Chávez na contramão
Autor: Tranches, Renata
Fonte: Correio Braziliense, 23/08/2011, Mundo, p. 18

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, continuou ontem puxando a fila dos líderes que insistem na urgência de Muamar Kadafi deixar o poder o quanto antes. Segundo Obama, o ditador "ainda tem a possibilidade de impedir um novo banho de sangue, renunciando expressamente ao poder e pedindo às forças que continuam a combater que deponham as armas". A voz dissonante na comunidade internacional continuava a ser a da Rússia, que uma vez mais criticou a intervenção militar ocidental na Líbia, classificada como "um massacre imperialista" pelo presidente venezuelano, Hugo Chávez, aliado de Kadafi.

A União Europeia pediu eleições livres e rápidas no país, e apontou a queda iminente do regime de Trípoli como um "novo impulso" à Primavera Árabe, principalmente aos protestos na Síria. "Peço que Kadafi deixe o poder imediatamente e evite derramamento de sangue", declarou Catherine Ashton, chefe da diplomacia do bloco. O primeiro-ministro britânico, David Cameron, reforçou o coro e pediu ao coronel que pare de lutar "sem impor condições". Em Paris, o ministro de Defesa francês, Gérard Longuet, ressaltou a "liderança" do presidente Nicolas Sarkozy, principal articulador da resolução pela qual a ONU autorizou a intervenção estrangeira.

A nota mais irônica das reações internacionais foi o apoio entusiasmado dado aos rebeldes líbios pelo partido xiita libanês Hezbollah, arqui-inimigo de Israel e dos EUA. "Parabenizamos o povo líbio e seus revolucionários por essa enorme vitória contra o tirano, após uma longa luta, com sacrifícios imensos", diz um comunicado do grupo.

A Rússia, que se absteve na votação em que o Conselho de Segurança da ONU autorizou a intervenção, voltou a criticar a "interferência externa nos assuntos da Líbia" e reiterou que a Otan estaria desrespeitando a Resolução nº 1.973 ¿ o texto permitia o uso de "todos os meios necessários" para "proteger os civis". Na mesma linha, Hugo Chávez acusou a aliança ocidental de "promover um massacre sob a desculpa de salvar vidas". A China, que também se absteve de aprovar a intervenção, limitou-se a declarar que "respeita a escolha do povo líbio". (RT)