As vagas que despertam a cobiça dos concurseiros

Batista Vera 

24/08/2015

As carreiras das áreas jurídicas e de segurança pública estão entre as que mais atraem a atenção dos concurseiros. Além dos salários elevados, despertam o apetite o expediente de apenas seis horas e os benefícios sociais (auxílios-alimentação, creche ou moradia e plano de saúde) robustos. Estão na lista os cargos de juízes, procuradores, defensores públicos, policiais federais, policiais rodoviários, advogados da União, gestores e analistas. “São funções que dão status e oferecem boa remuneração”, diz Maria Thereza Sombra, diretora-executiva da Associação Nacional de Proteção e Apoio aos Concursos Públicos (Anpac).

Apesar das preferências, os interessados em entrar para o setor público não desperdiçam oportunidades, que, no governo federal, vêm saindo a conta-gotas, devido ao arrocho fiscal. Até os primeiros cinco meses do ano, quase nenhum concurso foi liberado. As torneiras só foram abertas em meados de junho, depois de muita pressão sobre o Ministério do Planejamento. “Hoje em dia, o estudo é dirigido para carreiras com similaridades. As pessoas aproveitam o que está disponível como primeiro passo”, explica Thereza. “O importante é conseguir uma vaga. Depois, foca-se no cargo dos sonhos.”

No momento, os cursos preparatórios estão cheios de alunos focados em seleções para a Advocacia-Geral da União (AGU), as agências reguladores, os ministérios do Planejamento e da Fazenda, o Superior Tribunal de Justiça (STJ), o Tesouro Nacional, a Receita Federal, o Exército, a Marinha, a Aeronáutica e, especialmente, o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). “O índice de aposentadoria nesses órgãos tende a crescer”, assinala a diretora da Anpac.

Legislativo

Na avaliação de Anderson Ferreira, professor do IMP Concursos, deve-se dividir o serviço público em cinco principais áreas de interesse: fiscal, jurídica, bancária, policial e administrativa. As quatro primeiras, mais específicas, normalmente são procuradas por servidores que querem melhorar a remuneração ou seguir, finalmente, sua aptidão. Para os iniciantes, os fatores preponderantes são a oferta do edital, a quantidade de vagas e o salário. “Quem toma a decisão de entrar na concorrência, vai por etapas. Opta pela área administrativa ou de apoio. O segundo movimento, aí, sim, é para especialidades”, afirma.

Ferreira reconhece que um cargo no Legislativo também está entre os objetos de desejo dos concurseiros. O problema é que as seleções para esse Poder são escassas. Por isso, quando ocorrem, causam comoção. Para compensar a escassez, muitos miram o Judiciário, que paga salários bem melhores que o Executivo. O ganho inicial para nível médio, no Judiciário, está entre R$ 4 mil e R$ 6 mil. Nos de nível superior, varia de R$ 6 mil e R$ 12 mil. No Executivo, a remuneração varia entre R$ 2 mil e R$ 3 mil (nível médio) e  entre 
R$ 4 mil a R$ 6 mil (nível superior).

Lógica do mercado

Professor do IMP Concursos, Anderson Ferreira aconselha os concurseiros que tenham paciência para esperar as seleções de sua preferência, pois o mercado tem uma lógica: vive dois anos de contração e dois de expansão. A crise econômica global de 2008, que se estendeu por 2009, teve impactos negativos em 2010 e 2011, anos de baixa contratação. Em 2012 e 2013, veio a compensação, com grandes oportunidades. “Nos anos de 2014 e 2015, estamos sob forte crise política e econômica. Avalio que 2016 
e 2017 serão comparativamente melhores”, enfatiza.

28 mil cargos em disputa 

Celia Perone 

A crise econômica pela qual o país vem passando fechou, só neste ano, meio milhão de empregos com carteira assinada na iniciativa privada. Diante desse quadro assustador, o desejo de passar em um concurso público aumentou. Quem estiver disposto a enfrentar as seleções deve se preparar: pelo menos 28 mil vagas estão abertas em todo o país. E a expectativa é de que nove órgãos federais publiquem, ainda neste semestre, editais com mais de 4 mil postos. As oportunidades em disputa são para candidatos de nível médio e superior, com salário inicial de até R$ 28,9 mil.

A lista dos concursos em andamento inclui o Tribunal de Contas da União (TCU), cujas inscrições se encerram na próxima sexta-feira, e o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios, com 27 vagas para cargo de promotor, ganho de R$ 27 mil e prazo de adesão até 8 de setembro. No caso do Banco do Brasil, são 95 oportunidades, rendimento inicial de R$ 2,2 mil e inscrição até 31 de agosto. Já na Universidade Federal de Pernambuco, há três postos para professores, com remuneração de até R$ 5,1 mil e adesão até dia 28.

Quem não conseguir uma vaga agora não deve desanimar. Devem ser lançados, nos próximos meses, os editais para o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), Agência Nacional Aviação Civil (Anac), Agência Nacional do Petróleo (ANP), Agência Nacional de Saúde (ANS), Ministério das Relações Exteriores (MRE), Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Fundação Nacional do Índio (Funai) e Correios. O concurso para a Anac já recebeu o aval do Ministério do Planejamento, que autorizou a abertura de 150 vagas e salário de até R$ 12,3 mil.

“Em regra, quando o Planejamento autoriza um concurso, avalia os custos tanto da contratação das pessoas quanto das despesas da realização do certame. Para autorizar, não se vê apenas o número de vagas, mas todo o orçamento”, diz Washington Barbosa, coordenador do Instituto de Capacitação Avançada. Ele lembra que a Anac tem até 24 de dezembro para lançar o edital, uma vez que a portaria de autorização, publicada em 24 de junho, estabelecia seis meses como prazo máximo para a divulgação do documento.

Receita

Barbosa destaca também a urgência de contratação de funcionários para o INSS, que teve autorização liberada pelo Planejamento em junho. O prazo máximo para a abertura de inscrições se encerra em 29 de dezembro. Ele avalia que a greve dos servidores, por conta da carência de pessoal, pode fazer com que o certame seja apressado. São 800 vagas para técnicos e 150 para analistas, que serão alocados nas diversas regiões do país. Os salários vão de R$ 5,2 mil, para técnicos, a R$ 7,8 mil, para analistas.

Correio braziliense, n. 19079, 24/08/2015. Economia, p. 6