PMDB na encruzilhada

 

JÚNIA GAMA

 

Caciques do PMDB têm opiniões divergentes sobre o futuro do partido na crise política: sair já do governo Dilma, prolongar a permanência ou ficar até o fim. Os rumos da sigla deverão ser decididos em encontro previsto para novembro. - BRASÍLIA- Fiel da balança do governo Dilma Rousseff, o PMDB vive um acirramento das discussões sobre permanecer ou não na base aliada. Setores do partido favoráveis ao desembarque pressionam para forçar uma decisão, com o discurso de que, para viabilizar uma candidatura presidencial em 2018, o PMDB precisa começar a se desvincular de uma das gestões mais mal avaliadas dos últimos tempos.

Há nesse grupo quem defenda que no congresso organizado pela Fundação Ulysses Guimarães para 15 de novembro, do qual devem participar mais de três mil peemedebistas, haja consenso, mesmo que sem valor decisório, da saída do governo. É o caso do oposicionista declarado Eduardo Cunha ( PMDB- RJ), presidente da Câmara dos Deputados:

— A posição do partido é política. O que vai resolver se o PMDB vai sair do governo é esse posicionamento político. Se quiserem convocar convenção da Executiva, melhor ainda. Lá, eu voto quatro vezes e tenho certeza de que vai ser uma média de dois votos contra um para ir para a oposição — disse Cunha.

Outra ala, porém, quer protelar a decisão o máximo possível, à espera de que o governo se deteriore até que seja inevitável deixá- lo. Antes que isso ocorra, o grupo pretende aproveitar ao máximo as benesses do poder, como cargos e emendas. Nas palavras de um dos articuladores desse processo, a decisão sobre os rumos do PMDB “vai ser uma guerrilha política”.

— Ninguém sabe sequer se esse congresso vai acontecer. Não existe nem convite ainda para o evento. Acho que muitos estão usando isso como instrumento de pressão sobre o governo. Além disso, congresso não decide nada. Tem que levar para a convenção. E lá pode mudar tudo, inclusive o comando do PMDB — afirma um dos parlamentares peemedebistas que defendem que o partido permaneça no governo.

Para alguns peemedebistas, o vice- presidente Michel Temer tem demonstrado com divergências públicas, como nas críticas à criação de mais impostos, seu distanciamento do centro governista. O fato de Temer e do ministro Eliseu Padilha ( Aviação Civil) terem deixado de vez a articulação política reforçou para setores do PMDB a tese de independência do partido em relação ao Palácio do Planalto.

INCERTEZA SOBRE DESFECHO DA CRISE POLÍTICA

Mas, reservadamente, caciques do partido dizem ser impossível fazer qualquer previsão sobre como o PMDB se portará. Isso porque, explicam, os rumos do governo Dilma são tão incertos que fica difícil tomar qualquer posição neste momento ou fazer uma programação, mesmo a curto prazo. Há ainda o fato de Temer, por ser o vice- presidente, ter a obrigação institucional de permanecer no governo, mesmo que sua relação com Dilma piore.

— O PMDB vai discutir isso ( saída da base), se é que vai, em novembro, no congresso do partido. Mas a deterioração do governo está numa velocidade tão grande que é impossível fazer qualquer previsão sobre como as coisas estarão até lá. Semana passada, estava menos pior que esta, e a anterior também parecia menos grave. Não se encontram precedentes para essa velocidade com que as coisas estão se deteriorando — afirma um ministro do PMDB.

— Agora, o PMDB não pode tomar iniciativa para nada, Temer é o vice- presidente. Se alguém vai fazer movimentos, vai ter que ser de outros partidos. E imagino que os partidos da base não devem desembarcar do governo agora. Mas, na hora que o bonde partir, todo mundo salta — diz um peemedebista da cúpula.

Mesmo que, ao final do processo, o PMDB permaneça na base, outro instrumento que o partido terá para marcar suas diferenças em relação ao governo Dilma será um programa de governo, que está sendo elaborado para ser submetido ao congresso da sigla, em novembro.

— Até agora, o PMDB está observando os fatos. No congresso, vamos aprovar o novo estatuto do partido. O objetivo não é deliberar sobre a permanência no governo. Mas qualquer militante pode pedir para que isso seja colocado em votação. E, no PMDB, não existe consenso, existe maioria. O que a maioria decidir, está decidido. E essa decisão, se for passar pela comissão executiva, vai com uma força política brutal — afirma Moreira Franco, presidente da Fundação Ulysses Guimarães.

Os líderes do partido na Câmara, Leonardo Picciani ( RJ), e no Senado, Eunício Oliveira ( CE), estão entre os que defendem que a legenda continue apoiando o governo que ajudou a eleger e, portanto, que não decida sobre rompimento no congresso de novembro. Os dois líderes se reaproximaram do governo nos últimos meses e, segundo aliados, garantiram algumas nomeações em cargos do Executivo. Segundo Eunício, o Congresso deve discutir rumos do partido, não o rompimento com o governo:

— O objetivo do congresso será discutir o partido e o Brasil, não é esse o fórum para rompimento.

Parte da bancada, especialmente a de deputados, no entanto, está insatisfeita com a relação entre o Planalto e o partido. Um dos maiores críticos é o deputado Lúcio Vieira Lima ( BA), que vocaliza hoje a insatisfação crescente dentro da legenda. Segundo ele, caso o congresso de novembro chegue a uma posição majoritária pelo rompimento, não restará alternativa à cúpula da legenda que não romper oficialmente:

— A Dilma agora está jogando tudo em dividir o PMDB no fisiologismo. E está usando como ponta de lança o Rio de Janeiro, que já foi um dos maiores defensores do rompimento. O Rio está se comportando em relação a Dilma como se comportou o PFL em relação a Collor: “é hora de aproveitar e tirar o resto que tem”. Agora, além dos que já eram contra o governo, você tem hoje os descontentes e aqueles que têm mais medo da opinião pública do que da morte. E esses estão a favor do rompimento, porque temem sofrer as mesmas vaias e agressões que os integrantes do PT estão sofrendo — afirmou Vieira Lima.

 

Dilma vai procurar Temer para evitar arestas com aliado

 

A presidente Dilma Rousseff se reuniu ontem à noite com ministros, mais uma vez, para fechar os detalhes das medidas fiscais a serem enviadas ao Congresso e os detalhes da reforma ministerial. Após chegar de Porto Alegre, onde almoçou com a família, ela recebeu no Palácio da Alvorada os ministros Luís Inácio Adams ( Advocacia Geral da União), Nelson Barbosa ( Planejamento), Miguel Rossetto ( Secretaria Geral) e Ricardo Berzoini ( Comunicações). Para evitar criar arestas com o PMDB na reforma ministerial, Dilma quer ter uma conversa final com o vicepresidente Michel Temer sobre o tamanho do partido na Esplanada. O encontro deve ocorrer hoje, antes de uma reunião da cúpula do PMDB, convocada por Temer para esta noite.

Dilma mantém o plano de anunciar até quarta- feira a reforma ministerial e administrativa e oficializar as medidas do pacote fiscal necessário para reverter o déficit de R$ 30,5 bilhões no Orçamento de 2016. As medidas foram anunciadas semana passada, mas os respectivos projetos de lei, decretos e propostas de emenda constitucional ainda não foram divulgados. Dilma avisou aos aliados que as medidas serão enviadas ao Congresso sem alterações.

PREOCUPAÇÃO COM DERRUBADA DE VETOS

Nas conversas do fim de semana, Dilma também pediu atenção máxima à votação dos vetos presidenciais pelo Congresso, em sessão marcada para amanhã. Se derrubados, esses vetos jogarão por água abaixo o ajuste fiscal, e, por isso, Dilma quer que eles só sejam votados se os líderes do governo tiverem certeza de que serão mantidos. Ela também decidiu que a reforma ministerial terá que ir além do fim do status de ministro de alguns colaboradores.

— A presidente já se convenceu de que não dá apenas para tirar o status de ministro do presidente do Banco Central ou do advogado- geral da União — disse um interlocutor da presidente.

CÚPULA DO PMDB SE REÚNE EM JANTAR

Temer convocou os principais caciques do PMDB para um jantar, quando eles decidirão como se comportar nesta nova fase do governo. O vice- presidente e o restante da cúpula peemedebista estão irritados com os vazamentos sobre os ministérios da legenda no novo desenho da Esplanada. A avaliação geral, inclusive do presidente do Senado, Renan Calheiros ( PMDB- AL), é que o Planalto foi “desastrado” mais uma vez ao promover a ministra da Agricultura, Kátia Abreu, amiga de Dilma, a interlocutora do partido.

— Estamos tentando identificar o autor desta lambança. Quem fala pelo PMDB é o Michel. Criar mais um problema a esta altura é falta de noção — disse um ministro.

A cúpula peemedebista já decidiu que não cairá no que considera uma “armadilha” de ministros petistas: fazer o próprio PMDB escolher quais dos seus atuais seis ministros permanecerão. Os ministros petistas querem reduzir o espaço do PMDB para quatro ou três pastas.

Renan disse aos seus colegas de partido que não foi consultado sobre ministérios. As especulações sobre redução das pastas causou irritação no partido. O ministro do Turismo, Henrique Eduardo Alves tem deixado claro nos bastidores que não quer sair. Líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira ( CE) disse que a bancada não foi consultada.

— A bancada do PMDB não se manifestou sobre a reforma ministerial e administrativa — disse Eunício.