Título: Caças descartados
Autor: Rothenburg, Denise
Fonte: Correio Braziliense, 22/09/2011, Política, p. 2/3

Nova York ¿ Na maratona de cinco encontros bilaterais que a presidente Dilma Rousseff manteve ontem à tarde, quem recebeu uma notícia nada boa para os fabricantes dos caças Rafale foi o presidente da França, Nicolas Sarkozy. A presidente brasileira informou que as "restrições orçamentárias" e as incertezas em relação à crise econômica mundial impedem que o governo brasileiro trate desse tema no momento. "Se as condições econômicas permitirem, o assunto será retomado no ano que vem", comentou o chanceler Antonio Patriota, logo depois que terminou o último encontro.

Sarkozy foi o terceiro chefe de Estado a se reunir com Dilma ontem à tarde, depois da abertura da Assembleia Geral das Nações Unidas. Dilma não disse a ele, mas, na verdade, já não tem tanta certeza se o melhor caminho para o Brasil é mesmo a compra dos franceses. Em abril, na China, ela avisou ao presidente da Rússia, Dmitri Medvedev, que o tema estava em aberto. O encontro entre os dois ocorreu na ilha de Hainan, no mesmo dia da cúpula dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China) que marcou o ingresso da África do Sul ao grupo.

Para compensar as notícias a respeito dos caças, que Lula no passado já havia inclusive anunciado uma preferência pelos franceses, Dilma confirmou as conversas sobre o submarino e os helicópteros, temas que também foram tratados dentro da conversa sobre acordos de cooperação na área de defesa entre os dois países.

A crise internacional também entrou na pauta do encontro com Sarkozy, objeto também da conversa com o primeiro-ministro britânico, David Cameron. Ambos destacaram o fato de Dilma ter sido uma das primeiras chefes de Estado de países emergentes a oferecer ajuda aos ricos em dificuldades. Trataram ainda da questão da Síria, que enfrenta repressões violentas contra o regime de Bashar al-Assad, e a situação da Líbia. Embora o governo brasileiro não tenha autorizado a operação militar na Líbia, agora há uma confluência de ações no sentido de levar para dentro da ONU a transição em curso em prol da democratização do país. Os outros três encontros foram com os sul-americanos: o presidente do Chile, Sebastián Piñera; o do Peru, Ollanta Humala; e o da Colômbia, Juan Manuel Santos. "Nossos países foram pouco afetados pela crise e podemos buscar ações conjuntas para nos proteger", disse o presidente colombiano, numa rápida entrevista na saída do Hotel Waldorf Astoria, onde Dilma recebe todos os chefes de Estado.

Almoço e caminhada A presidente brasileira não perde uma oportunidade de caminhar por Nova York. Se despistar a imprensa, melhor. Ontem, por exemplo, depois de ministros e assessores avaliarem o sucesso do discurso dela na ONU, Dilma seguiu para almoço no Le Bernardin, na Rua 51, um dos tradicionais e mais caros restaurantes da cidade. Pediu o menu lunch, o mais em conta, a US$ 49. Mais uma vez, a presidente ficou entusiasmada com a simpatia dos turistas brasileiros que a reconheceram na rua e a cumprimentaram de forma educada. Foi abordada três vezes. A animação era tanta que a presidente voltou a pé do restaurante para o hotel, uma caminhada de mais de 2km. (DR)